Como ser um líder antiburnout
O burnout se caracteriza por três dimensões e é a partir delas que os gestores podem se basear para a criação de um ambiente mais saudável
alamos cada vez mais a respeito da importância de se olhar não apenas para saúde física, mas também para saúde mental dos nossos colaboradores. Os líderes mal começaram a se adaptar aos novos modelos de gestão e já se veem frente ao desafio de cuidar de sua própria saúde emocional e a de suas equipes. No ambiente de trabalho, estamos falando principalmente da síndrome de Burnout, considerada um estado de exaustão no qual o indivíduo se torna cínico em relação ao valor do seu trabalho e duvida da sua capacidade de performance. Comumente, essa síndrome é associada ao excesso de trabalho e demandas, mas em alguns casos pode ser difícil reconhecer quando se está vivendo um ciclo de excessos e as nuances emocionais que o acompanham. Pensando nisso, como os líderes podem estar atentos às suas equipes para cuidar melhor de sua saúde mental e ajudar a prevenir os quadros de Burnout?
O burnout pode ser caracterizado a partir de três dimensões: exaustão, cinismo e eficácia. Para ajudar a liderança a saber como agir em sua rotina e criar um ambiente mais saudável, vamos considerá-las como base para pensar em ações específicas capazes de mitigar os efeitos negativos oriundos de cada uma delas.
Passo 1: Evite o surgimento de quadros de exaustão
Caracterizado por uma forte sensação de esgotamento físico e mental, esse quadro é característico do Burnout e, pode ser facilmente identificado e equilibrado. Para evitá-lo, incentive que as pessoas da sua equipe tenham interesses e ambições além do trabalho. Ao conectar nossa motivação positivamente com outras atividades fora do ambiente de trabalho é mais fácil ter uma rotina equilibrada. Valorize os períodos de descanso e relaxamento, a prática de atividade física, os hobbies, e o convívio com amigos e familiares. Crie acordos para evitar que a comunicação, mesmo assíncrona, atrapalhe os períodos de descanso de sua equipe. Isso permitirá que as pessoas sejam capazes de se desconectar do trabalho de forma cada vez mais eficiente. Além disso, faça uma boa gestão das atividades, direcionando de forma clara e objetiva as prioridades de entrega de cada colaborador. Crie planejamentos e cronogramas de maneira democrática, e aproveite para aprender a respeito dos recursos necessários para realizar as tarefas.
Quando priorizamos bem nossas atividades e sabemos exatamente quanto tempo será necessário para realizar cada entrega, evitamos acúmulos e sobrecarga na nossa rotina. Muitas vezes, uma rotina atribulada e repleta de urgências aumenta a sensação de sobrecarga, pois os colaboradores sentem que não são capazes de realizar suas tarefas no tempo estipulado, e dedicam horas extras para dar conta. Isso impacta negativamente os períodos de descanso e a percepção de eficácia profissional.
Passo 2: Invista na eficácia profissional
Sua equipe tem sido capaz de realizar de forma bem-sucedida suas atividades? Se sua equipe vive se sentindo frustrada por não ser capaz de atender as entregas ou atingir as metas, sinal vermelho! Certifique-se de que as pessoas têm condições de realizar suas tarefas, ou seja, que possuem os recursos necessários para fazê-las. Muitas vezes, um sistema ruim ou a falta de um conhecimento específico pode dificultar o trabalho e comprometer não só a entrega, mas a autoestima do colaborador. Reúna periodicamente a sua equipe para comemorar as pequenas conquistas e relembrar momentos de orgulho. Isso ajudará a valorizar suas entregas e favorecer sua percepção de eficácia profissional. Para cada colaborador, busque oportunidades de crescimento e desenvolvimento, evitando focar apenas nos erros e ter uma postura excessivamente crítica, pois isso tende a reduzir a percepção de eficácia profissional. Evite ao máximo a cultura das metas impossíveis e das urgências, que tanto atrapalham a rotina das equipes, e valorize sempre o crescimento e a produtividade de seus colaboradores.
Passo 3: Atribua significado à rotina
O cinismo representa uma resposta de desconexão com o trabalho. Perde-se engajamento, podendo inclusive impactar negativamente as relações sociais dentro da equipe. Para evitar essa resposta é fundamental trabalharmos o senso de pertencimento e atribuir significado ao trabalho. Por que o quê fazemos aqui é importante? Como isso se conecta com a visão da empresa? E o mais importante, qual a contribuição de cada colaborador para atingir esses resultados? Responder essas questões será fundamental para promover maior conexão e equilibrar essa resposta. Devemos lembrar constantemente às equipes a importância de seu trabalho e como somos gratos por sua dedicação e contribuição. Aproveite os encontros de rotina para exercitar essa visão e dedique tempo de qualidade para investir na relação com seus colaboradores. Incentive os momentos de descompressão e promova a construção de vínculos como forma de trazer maior senso de pertencimento.
Uma síndrome como o burnout pode ser difícil de ser diagnosticada e tem um tempo longo de recuperação. É importante investir na criação de um ambiente de segurança psicológica, observar comportamentos e sintomas e manter um canal aberto de diálogo com seus colaboradores.
É claro que não cabe inteiramente ao líder a responsabilidade pela saúde mental de suas equipes, e que as dicas e reflexões trazidas aqui não são suficientes para impedir completamente que isso aconteça. Mas, sem dúvida, ter consciência de nossas ações e repensar a forma como lideramos é um primeiro passo necessário para construção de um ambiente mais saudável e eficiente para todos.
Se você não acha relevante essa discussão, fique atento, pois, de acordo com a ISMA, 72% da população brasileira sofre com alguma sequela de estresse, e, desses, 32% se configuram como sofrendo de burnout(2). O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de países com mais incidência de burnout no mundo e por isso existe uma grande chance de que você precise ou venha a precisar em breve desse tipo de estratégia e conhecimento. Além do mais, considere observar sua própria rotina como líder. Será que pode se considerar saudável? A liderança é sabidamente um grupo vulnerável que também precisa de cuidados. Participe das ações oferecidas pela empresa para cultivar a cultura do bem-estar. Assim, além de cuidar de sua saúde, você estará liderando pelo exemplo e mostrando para sua equipe a importância dos cuidados com a saúde mental.
Referências:
- CID: burnout é um fenômeno ocupacional – OPAS/OMS | Organização Pan-Americana da Saúde
- https://ismabr.blogspot.com/2019/09/stress-em-numeros-1.html
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