Quando a pandemia começou no Brasil, há mais de um ano, houve um encantamento com o home office. Para grande parte da população, era a primeira vez que trabalhavam de casa. Não era mais preciso passar duas horas por dia no trânsito, podiam se alimentar melhor, planejar o seu próprio dia, otimizar o tempo, entre outros inúmeros benefícios. Mas, com o passar dos meses – e agora do ano -, muitos já começaram a encarar o trabalho remoto com um olhar mais realista. Muitos estão sentindo, principalmente, a falta de contato presencial com o outro. A falta não é só da troca com os colegas, mas – principalmente – do apoio do gestor.
Nas últimas décadas já vínhamos enfrentando uma transformação no trabalho, que tem deixado de ser apenas uma questão de mão de obra, para se tornar algo muito dependente do fator psicológico dos funcionários, ou seja, a qualidade do resultado do trabalho depende muito do que as pessoas pensam e de como elas se sentem. E essa nova realidade ganhou ainda mais força na pandemia. Equipes estão precisando de reconhecimento, incentivo, gentileza e de escuta para encarar melhor o grande momento de incerteza e ansiedade que vivemos.
Os intermináveis calls, as inúmeras decisões a serem tomadas, a lista de afazeres que não diminui muitas vezes pode tirar o foco do que mais importa: as pessoas da nossa organização. Eu mesma, em alguns dias, sinto como se fosse ser “engolida” pelo meu dia a dia insano. Inevitavelmente, estamos todos muito ocupados. Mas, a última coisa que quero ser é uma líder distante e que não oferece apoio e escuta ativa, que não constrói uma relação com a equipe.
Apoio: é muito do que as equipes de trabalho precisam dos líderes
Há poucos dias, no meio de um turbilhão de reuniões online com vários membros do meu time, de repente me dei conta que não havia feito a simples pergunta “como vocês estão?”. Passamos horas online com um time e perguntamos do resultado das vendas, da etapa do projeto, da resposta do cliente e nos esquecemos de fazer o que o psicólogo Edgar Schein chamou de “indagação humilde”, que ele define como “a fina arte de atrair alguém, de fazer as perguntas para as quais você não sabe a resposta, de construir uma relação baseada na curiosidade e no interesse na outra pessoa”.
Não podemos apoiar as pessoas se não soubermos o que está acontecendo com elas, como elas estão se sentindo ou os desafios que enfrentam. Existem inúmeras maneiras de fazer perguntas, e muitas delas não são para entender melhor o momento do outro ou obter informações, mas sim para demonstrar conhecimento, “ticar” itens de uma lista ou proteger a nós mesmos. Precisamos praticar fazer essas perguntas que aprofundam as conversas. Temos de ser genuinamente curiosos e interessados uns nos outros.
Exemplos de abordagens humildes
Desde que me dei conta que esse turbilhão estava me consumindo e me afastando da possibilidade de apoiar todo um time, tenho praticado, pelo menos uma vez por semana, conversar com as pessoas abertamente, fazer as abordagens humildes de Schein: “Como você está?”; “O que está acontecendo?”; “Me ajude a entender”… Dou esse tom à conversa e me prontifico a ouvir atentamente.
É fácil ouvir com indiferença – especialmente diante de uma tela, durante um call -, apenas esperando a oportunidade de fazer uma sugestão ou compartilhar uma experiência pessoal semelhante. Mas, não ajuda em nada o outro. Precisamos fazer o papel de psicólogo e apenas escutar com curiosidade e atenção.
Experimente, o resultado pode ser transformador.