em sempre o que acaba com o nosso humor e a nossa produtividade no trabalho são os grandes desafios, mas sim os inúmeros pedidos diários para os quais não temos coragem de dizer não. É aquela reunião na qual a nossa presença não é primordial, é aquela tarefa que pode ter o prazo negociado em vez de ser realizada imediatamente, é aquela mensagem profissional que chega pelo seu celular para te desconectar do seu momento de lazer. Isso para citar apenas alguns exemplos de situações em que nos privamos da liberdade de fazer o que precisa ser feito e não o que os outros esperam que façamos.
Em grande parte, nos colocamos nessas situações porque a cultura brasileira é de sempre agradar o outro, seja um amigo, colega, parente ou gestor. Às vezes, sem perceber, entramos na dinâmica de dizer sim para tudo, ter a qualidade da nossa rotina comprometida e nos arrepender por não ter negado ou, pelo menos, negociado o pedido de alguém. Mas, inclusive, pelo bem na nossa saúde mental, precisamos nos tornar melhores em entender o que realmente importa na nossa vida e rotina, quais são as prioridades e estabelecer limites.
É comum eu ouvir da alta liderança das companhias que “as pessoas querem sempre agradar, têm medo de dizer não e isso impacta negativamente na produtividade do grupo e acaba levando a um esgotamento mental desnecessário”.
Sempre que estou nessas conversas com esses gestores, lembro-me de uma das muitas frases marcantes de Steve Jobs. Certa vez, ele disse: “As pessoas pensam que foco significa dizer sim para as coisas em que você precisa se concentrar. Mas isso não é, em absoluto, o que significa foco. Foco é dizer não para as centenas de outras boas ideias que estão por aí. É preciso escolher com cuidado”.
O que tenho notado, porém, é que falta a algumas pessoas um pouco de coragem e clareza de que elas não perderão o respeito e a admiração – muito menos o cargo — ao dizer um calculado e gentil, mas firme, “não consigo fazer”, “não vejo sentido em eu estar presente” ou “não posso agora”, por exemplo. É importante aprendermos a viver mais confortáveis com a ideia que todos podemos ser agradáveis sem ser bajuladores e dizer “não” a coisas que não são essenciais. Dentro de uma empresa, fazer isso permite que as equipes foquem no que realmente é essencial e mais importante no dia a dia e em momentos estratégicos.
Somos falhos na arte de definir limites
É preciso humildade para aceitar quanto somos ruins na arte de definir limites. Podemos já ter gasto boa parte de nossas vidas em uma relação essencialmente passiva com as infrações cotidianas cometidas por pessoas próximas a nós. Mas não precisamos permanecer flutuando no rio dos desejos de outras pessoas. Afinal, temos inteligência e somos capazes de definir nossa própria direção. Não precisamos pagar afeto com complacência.
Definir um limite envolve informar aqueles ao nosso redor um conjunto de “regras” objetivamente razoáveis que precisamos que eles sigam para nos sentirmos respeitados e felizes. Fazer isso de uma maneira que transmita acolhimento e força. Isso pode significar dizer a um gerente que não responderemos e-mails ou mensagens instantâneas nos finais de semana, informar a um colega que, embora queiramos ajudar, estamos sobrecarregados e não poderemos contribuir naquele momento.
Não saber estabelecer limites, seja com relação aos pedidos do outro ou aos nossos próprios impulsos, é um dos motivos para a nossa vida pessoal e profissional ser tão movimentada e cansativa. Por isso, eu gostaria de encerrar essa reflexão com um desafio: nos próximos dois dias, tente dizer não para, pelo menos, três coisas que podem atrapalhar a sua rotina, os seus planos ou o seu humor. Acredite, o mundo não vai acabar e você ainda poderá se sentir muito melhor.