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Fábio Milnitzky

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Sócio fundador e CEO da iN, consultoria de propósito e gestão de marcas
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Empatia e vulnerabilidade: a pandemia tornou as empresas mais humanas?

A crise da covid-19 exacerbou as fragilidades de funcionários e de líderes. As empresas devem aproveitar esse cenário para criar valores mais humanos

Por Fábio Milnitzky, colunista de VOCÊ RH
18 ago 2021, 07h00
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  • Reuniões online, colaboradores sendo acionados por vídeo a todo momento, incontáveis mensagens de trabalho pipocando nos aplicativos. Sem dúvida alguma a pandemia resultou numa exaustiva exposição de nossas intimidades. Por muitas vezes nos questionamos se não estávamos ultrapassando os limites do aceitável, sendo acionados (e também acionando pessoas) além dos horários de trabalho. Passamos a viver quase que no modo automático, com a sensação de que tínhamos que fazer mais, entregar mais. Se estivéssemos na era industrial, poderia comparar nosso ritmo ao de Carlitos apertando parafusos em Tempos Modernos – clássico de Charlie Chaplin.

    No entanto, com o passar dos meses estamos ficando mais escolados. Estabelecemos boas práticas de comunicação, regras e limites ao que era inédito para nós. Estamos mais conectados – pela internet e pela empatia. Com o avanço digital durante o home office, nos tornamos mais pontuais, mas também mais tolerantes e humanos. Se antes nossa saúde mental e física, estava sendo deixada de lado, hoje é tratada como prioridade nos ambientes corporativos. As acelerações digitais, que já eram necessárias, se mostraram eficientes e estamos nos adaptando, pouco a pouco, melhor à vida online. Ao que parece, temos uma rota para um equilíbrio.

    Em paralelo, nossas fragilidades também foram mais expostas quando abrimos as portas de casa para o trabalho. Não existe mais o limiar que dividia nossa vida pessoal da profissional. Porém, essa fragilidade que nos uniu. No cenário de vulnerabilidade em que vivemos, passamos a trabalhar mais a solidariedade e conquistamos a resiliência, agora não só por parte dos colaboradores, mas também dos líderes e das próprias organizações. Se antes esse era um comportamento esperado especificamente por parte dos funcionários, hoje as empresas entendem que ser resiliente é um papel que cabe a elas também. Seja para atravessar a crise, como para reter talentos e manter seu time engajado.

    Humanização das relações

    Com todas essas transformações, as empresas tiveram a oportunidade de perceber que elas fazem parte da vida das pessoas e, a partir dessa premissa, inicia-se um processo de humanização das relações. Pela primeira vez, vemos gestores se preocupando quanto ao estado de espírito dos seus colaboradores – não falo no sentido religioso, mas sim no âmbito energético mesmo. Eles passaram a se questionar como as pessoas estão se sentindo e como podem promover o bem-estar delas.

    É uma elevação clara de valores que estavam sufocados em algum lugar, mas que vieram à tona impulsionados pela pandemia. Esses valores foram ressignificados e passamos a nos preocupar mais com o coletivo e menos com o individual. Perdemos vidas, fomos tocados de diversas formas por sentimentos muitas vezes controversos, mas concluímos que vivemos em um ecossistema e precisamos protegê-lo.

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    Pouco a pouco fomos mudando a forma como nos comunicamos com as pessoas e com o mundo. Valorizamos mais o human to human e tiramos a impessoalidade das nossas relações de trabalho. É nesse momento que se faz necessária uma liderança mais transparente e acessível. Criando uma analogia breve entre crise e incêndio, podemos claramente perceber que esse não é o momento de nos comunicarmos com complexidade. Ao receber um chamado, por mais complicada que seja a situação, os bombeiros precisam traçar o plano mais simples e rápido para conter o fogo antes que ele se alastre. Da mesma forma ocorre nos ambientes corporativos. Minimizamos o tempo de crise quanto maior simplicidade e clareza houver nas comunicações.

    Precisamos ser melhores

    Em meio a todas as discussões, sentimos a necessidade de evoluir. Não da porta para fora, mas sim como propósito e porque faz bem. Aproveitando esse momento em que as organizações abraçaram valores tão relevantes, é hora de também nos posicionarmos em relação a eles e identificarmos a linha de intersecção entre nosso propósito e as necessidades do mundo. No centro desse tema, a diversidade grita. Em inúmeros momentos durante o último ano, a diversidade foi alvo de movimentos, tanto por parte de indivíduos ou grupos, como também em programas de inclusão em empresas.

    Mas precisamos ressaltar que esse não é um tema que deve ser tratado de forma superficial. Quem acha que é modismo, está enganado. Nos últimos meses fomos atropelados por uma mudança social que eleva a condição humana. Isso é mais observado no Brasil do que em outros países. Se no exterior a maioria das pessoas relata conhecer alguém que foi testado positivo, aqui muita gente conhece alguém que morreu por covid-19 – e muitas vezes perdeu mais do que um ente. Não há como negar que estamos mais frágeis.

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    Porém, dentro desse contexto, temos a chance de olhar para o próximo, de nos identificarmos com suas fraquezas, seus medos e de expor os nossos também. Com esses processos se dando no dia a dia, também as relações de trabalho ficam mais saudáveis, mais humanizadas. Estamos em um momento único na história que traz a chance de as empresas viverem essa sinergia com seus colaboradores e passar a alinhar discurso com prática. Não pensando em impactar diretamente na produtividade e obter resultados, por mais que esse seja um dos desfechos, mas como propósito. Algo que faz parte da cultura e das práticas da empresa.

    Chegou o momento de diminuirmos a sensação de distância entre as organizações, gestores e colaboradores, mesmo estando uma grande maioria ainda em trabalho remoto. Aos poucos vamos voltar a ocupar os escritórios e certamente estaremos mais próximos, mais engajados e motivados, pois sabemos que juntos construímos propósitos mais consistentes e efetivos. O mundo certamente continuará em constante mudança, mas nossos valores foram redefinidos e precisam ser mantidos em evolução.

    A verdade é que não há indícios históricos de que a humanidade melhore após crises dessa magnitude. Em alguns casos podemos, inclusive, constatar retrocesso e involução como na decomposição do Império Romano e a Grande Depressão de 29 nos EUA. Dessa forma, nossa oportunidade está justamente em mudar a história. A reflexão que quero deixar é que, quando tudo isso passar, que a gente não se permita esquecer o que vivemos e nem voltar a ser como éramos. E, principalmente, que as organizações possam assumir essa mudança definitiva, abraçando a possibilidade de construir ambientes corporativos mais humanizados.

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    Assinatura de Fábio Milnitzky
    (VOCÊ RH/Divulgação)

     

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