O começo do ano carrega a tradição simbólica do recomeço. Jasão, que inspira o nome do primeiro mês de nosso calendário – janeiro – era um deus romano com duas faces: uma se voltava para trás. A outra, para frente. É o momento das reconexões e projeções, que estimulam reflexões fundamentais para pessoas e para os negócios.
Confirmamos, nestes primeiros dias de 2022, que a turbulência que marcou nossos últimos anos continuará. Com a variante Ômicron, a pandemia poderá atingir milhões de brasileiros já em fevereiro, segundo projeções da Universidade de Washington. Analistas preveem eleições difíceis e a economia, com suas projeções modestas e na lanterna dos países emergentes, segundo o FMI, preocupa.
O momento pede, portanto, por uma nova – e definitiva – postura das empresas, com um olhar consciente sobre o quadro em que vivemos. Prosperar passa por compreender que as organizações devem cumprir cada vez mais um papel significativo na promoção de senso e sentido para a vida das pessoas. Às organizações líderes caberá, inclusive, promover o ambiente para contribuir com a diminuição das incertezas que existem e daquelas que ainda estão por vir.
Estas organizações são aquelas que se perguntam constantemente sobre a marca que elas desejam deixar na sociedade. Sabem que o lucro surgirá na medida em que elas observam necessidades humanas e atuam para auxiliar na resolução dos problemas. Não é obrigação delas cumprir um papel social, mas sim, inspirar. Conectadas com o mundo e motivadas pelo propósito e valores, fazem valer o entendimento de por que existem. Os exemplos são variados. O Banco Safra, que traz na sua cultura a preocupação de cuidar do futuro, direcionou R$ 50 milhões para entidades de saúde durante a pandemia. Já a BRF, que mantém como propósito promover uma vida melhor, tem investido em uma série de startups que facilitam acesso e eliminam o desperdício de comida para mais de 19 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar.
Refletir os espaços e o papel que as organizações devem ocupar em momentos difíceis, portanto, ressalta e reforça o entendimento de que o mundo tem necessidades. E que, a partir deste reconhecimento, é possível ajudar. Assumir este protagonismo traz efeitos práticos: empresas movidas pelos seus propósitos têm retorno financeiro até 5,5 vezes maiores do que aquelas que não atuam desta forma, segundo a startup Humanizadas. Já a Harvard Business Review verificou que colaboradores que atuam em organizações com propósito demonstram o dobro de satisfação no trabalho – e são três vezes mais propensos a se manter na empresa atual. Quando um funcionário abraça o propósito da organização, ele acredita naquilo que faz, no porquê e para quem ele faz.
Estes resultados mostram como, ainda, o trabalho deixou há muito de ser apenas uma questão de salários e benefícios. Gestores que atuam com base em propósitos têm em mãos um norte eficiente para disseminar a cultura e estimular o senso de identificação de seus participantes com uma marca. Mais ainda, pesquisa feita recentemente pela iN, em parceria com o CiLbab da ESPM, apontou que 53% dos respondentes já deixaram de aceitar uma proposta de trabalho – ainda que financeiramente atrativa – por considerar que a empresa não se preocupa com o bem-estar dos seus funcionários.
Provocar a evolução passa agora por unir boas condições de trabalho a uma cultura organizacional pautada por valores e que contribui diante das necessidades do mundo. Este é o conjunto que dá sentido à trajetória das pessoas. Esse alinhamento só é possível por meio da decisão de olhar para um cenário incerto e torná-lo plataforma para transformação. Uma mudança que pode e deve ser abraçada por todos, compartilhada a partir da estratégia e da comunicação bastante clara entre líderes e seus colaboradores. Trabalhando dessa forma é mais fácil garantir, mais do que nunca, a conexão entre o que fomos, o que somos, e o aquilo que poderemos ser. O tempo não deixa de seguir seu fluxo. Cabe a nós tirar dele o melhor.
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