ara quem não conhece, SXSW é a sigla para “South by Southwest”, um festival conhecido por apresentar novas tecnologias, filmes independentes e músicas emergentes, além de discutir temas relevantes para o mercado digital e criativo. Desde 1987, ele acontece anualmente, em Austin, Texas, nos Estados Unidos, atraindo participantes de todo o planeta. Trata-se, simplesmente, de um dos maiores eventos do mundo nos segmentos que citei.
Austin é uma cidade incrível, na qual o lema é “Keep Austin weird”, que quer dizer “Mantenha Austin estranha”, slogan popular que incentiva a cidade a abraçar a sua cultura única e excêntrica. Inclusive, lá, é possível comprar roupas, bonés, chaveiros e outras recordações com esses dizeres. Conhecida como o novo centro de tecnologia dos Estados Unidos, é para lá que tem migrado muitas empresas da Califórnia e de outros Estados, em grande parte graças ao Texas ser o estado americano com a menor alíquota de imposto de renda, o que faz o dinheiro das pessoas valer mais. É uma cidade linda, rodeada de lagos e parques. O estilo de vida é saudável e moderno, com muita discussão de inovação acontecendo nos cafés e coworkings da cidade. É lá que Elon Musk escolheu viver, assim como muitas celebridades norte-americanas e internacionais.
A SXSW tem um pouco dessa essência de “tudo junto e misturado”. Acho importante fazer essa contextualização porque, para quem não acompanha o evento, em um primeiro momento é difícil de entender a essência dessa experiência que mistura tantos temas, participantes e visitantes diferentes. Mas garanto que é um evento que vale a pena acompanhar pelo aprendizado, pela possibilidade de ampliar a percepção do mundo e aplicar no dia a dia muito do que se vê, independentemente da área na qual atuamos.
Esse ano, não consegui conciliar a agenda para estar presencialmente em Austin. Mas acompanhei o evento de forma remota. Reconheço que a experiência não é a mesma, pois deixa-se de ganhar com networking e com a imersão na atmosfera única das ruas de Austin. Porém, ainda assim, é possível ter acesso a boas ideias.
A intenção desse texto é, justamente, democratizar o conhecimento e deixar claro que você não precisa ter ido para Austin para acompanhar os painéis que aconteceram por lá. Por isso, vou começar dizendo que, para quem não sabe, os vídeos e podcasts de todos os congressos estão disponíveis de forma gratuita na Internet, no site do SXSW e no canal do evento no YouTube.
Eu, particularmente, gostei das palestras a seguir, mas recomendo que você faça uma pesquisa mais ampla para ter sua própria percepção. Todos os painéis são ricos e, certamente, vão agregar muito valor e novos aprendizados para a sua vida e/ou carreira.
1. Simran Jeet Singh – educador, escritor e ativista americano
Em uma das palestras de abertura do evento, Simran Jeet Singh fez um relato emocionante contando sua história de vida como um americano nascido em Santo Antônio, no Texas, incluindo o momento em que começou a perceber que era visto de uma forma diferente do que imaginava em função de sua religião e por usar turbantes. Ele compartilhou experiências pessoais de intolerâncias gratuitas vivenciadas ainda na infância e de momentos de empatia de outras pessoas com ele e membros de sua família. Ele contou também como foi estar nos Estados Unidos dia 11 de setembro de 2001, durante os ataques às torres gêmeas, e o impacto e as reflexões que isso gerou no núcleo familiar dele. No encerramento da palestra, ele falou sobre a luz que podemos oferecer ao mundo, que é tema de um de seus livros. Acredito que vale a pena ouvir os relatos de Simran Jeet Singh para pensarmos em nossas próprias ações, em como podemos ser mais tolerantes com o próximo em todos os sentidos e enxergar a metade cheia do copo nos desafios do dia a dia.
2. Josh D’Amaro – executivo da Disney
Outro painel que me impactou positivamente foi o comandado por Josh D’Amaro sobre o tema felicidade e storytelling (contação de história). Por alguns instantes, ele consegue de fato nos transportar para dentro do mundo Disney e gerar momentos alegres durante o discurso. Ele destacou que as memórias de momentos felizes são guardadas para sempre, assim como a música, o gosto de comidas e o storytelling são pontos chaves que podem marcar experiências pela vida toda. A apresentação dele foi muito interativa, com a participação de outros colaboradores da Disney, incluindo a inusitada presença da Sininho. No encerramento, ele detalhou o projeto “Make a Wish” ou “Faça um Desejo”, em que o parque recebe, por alguns dias, crianças com doenças graves. Ele relembrou que um desses pequenos visitantes chegou a relatar que a alegria dos dias no parque foi tão fenomenal que, por uma semana, ela tinha esquecido que tinha câncer. Isso me fez lembrar do quanto tem aumentado o investimento das empresas em ações relacionadas ao tema “felicidade no trabalho” e o quanto esse esforço é importante para criarmos memórias felizes para nós e para quem nos cerca.
3. Greg Blockman – presidente e co-fundador da OpenIA
Como não poderia deixar de ser, inteligência artificial foi o cerne de muitos painéis. E, nesse universo, uma palestra que recomendo é a de Greg Blockman. No painel, ele compartilha as inspirações que teve para criar o ChatGPT e o Dall-E, entre muitas outras informações e curiosidades sobre essas e outras ferramentas que estão revolucionando o mundo.
4. Elizabeth Bramson-Boudreau – executiva do MIT Technology Review
Outro painel bem interessante foi conduzido por Elizabeth Bramson-Boudreau. Nele, ela fala sobre 10 tecnologias revolucionárias, com exploração de temas de inteligência artificial, incluindo exemplos de tecnologias voltadas a resolver os problemas das filas de doação de órgãos.
5. Charlotte A. Burrows – Chefe da Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego no atual governo dos EUA
No SXSW 2023, também tiveram palestras sobre o uso de IA em processos seletivos e no RH. Acompanhei reflexões interessantes sobre a perspectiva jurídica por trás de processos de recrutamento de pessoas, gerenciamento de talentos, promoções e demissões com o uso de inteligência artificial e os direitos civis dos envolvidos.
6. Jess Elmquist – CHRO Phenom
Também vi palestras que discutiram o lado positivo de termos inteligência artificial por trás do recrutamento, com pessoas como Jess Elmquist dizendo que “a inteligência artificial deve ser um suporte para a contratação, mas que são as pessoas que devem tomar as decisões”. Gostei do tom otimista da palestra. Aliás, outros palestrantes que tocaram no tema inteligência artificial destacaram que o ser humano deve permanecer no centro de todas as decisões.
7. Esther Perel – psicoterapeuta belga-americana
Outra palestra muito interessante sobre inteligência artificial nos relacionamentos que me causou bastante reflexão foi a conduzida por Esther Perel falando sobre a intimidade artificial. Ao ouvir os argumentos da palestrante é possível refletir sobre o quanto a imersão na tecnologia nos hipnotiza a ponto disso impactar a nossa relação com as pessoas e a conexão real com elas.
8. Sidney Klajner – presidente do Hospital Albert Einstein
Entre os painéis que mostram iniciativas interessantes sobre o que está sendo feito ao redor do mundo para, de alguma forma, contribuir com a sociedade, eu destaco o do Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein. Com o tema “5 maneiras de usar tecnologia para equidade na saúde”, ele compartilha iniciativas da organização para permitir que mais pessoas tenham acesso à tecnologias de ponta na área da saúde no Brasil. Ele apresentou dados bem interessantes de parcerias e ações em diversas cidades do Brasil que podem, de fato, contribuir para democratizar o acesso à saúde no nosso país.
9. Roberta Suplicy, Carmela Borst e a Natasha de Caiado Castro – executivas brasileiras
Em um painel muito interessante, as executivas brasileiras Roberta Suplicy, Carmela Borst e a Natasha de Caiado Castro discorreram sobre o tema “Do Brasil para o Mundo: Agronegócio Inteligente para Salvar Vidas”. A proposta foi compartilhar o nosso potencial e as nossas realizações quando o assunto é tecnologia nos nossos processos do setor de agronegócios. É um grande orgulho vermos brasileiros, principalmente mulheres, à frente de uma discussão como essa.
O evento ainda contou com palestras interessantes que podem inspirar a criatividade e a forma como nos relacionamos com o trabalho no dia a dia, como o painel que fala para “sermos mais cachorros” e o que apresenta “sete segredos de sucesso por trás de startups que se tornaram unicórnios”. Mas, tudo isso, é o meu ponto de vista. O que eu espero é que essas pílulas do que foi o SXSW 2023 tenham te estimulado a acessar os conteúdos do evento disponíveis gratuitamente na Internet. E quem sabe nos vemos pessoalmente em Austin, na edição de 2024, não é mesmo?