Ao longo da carreira, as especializações por MBAs nas melhores instituições de negócios são muito bem vistas. Mas tenho notado que essa qualificação tem mais impacto só até o meio da pirâmide organizacional. Nos cargos mais altos, de diretores e CEOs, as empresas esperam que os executivos já sejam profundos conhecedores de suas funções e, consequentemente, muito bons no que fazem. Nesses casos, o título de Alumni pode agregar glamour para o currículo e fazer bem para o ego, mas não contribui por si só para mais ascensão ou estabilidade.
Minha recomendação para os profissionais do topo é investir no desenvolvimento ou aprimoramento das habilidades comportamentais. Muitos diretores e CEOs têm gaps de soft skills sem se dar conta disso, mesmo com a evolução das organizações quanto a fornecer dados objetivos sobre a melhora que é esperada. Isso, em alguns casos, tem feito parte dos parâmetros de cálculo de bonificações.
Às vezes, um executivo é incrível na entrega de resultados, mas tem sérias dificuldades em outros papéis: assumir responsabilidade sobre falhas nos processos, conectar-se com o time ou ter conversas difíceis com os colaboradores, por exemplo. A falta dessas e de outras habilidades comportamentais tende a interferir no todo da organização. Afinal, a cadência e o sucesso dos negócios têm muito mais a ver com a forma com que os seus principais executivos agem no dia a dia – inclusive com relação a direcionamentos e rapidez para corrigir rotas – do que com as ações de suas equipes.
Não à toa, tenho acompanhado grandes empresas investindo na capacitação comportamental de seus executivos por meio de viagens de experiências. São jornadas para estimular o autoconhecimento e a humanização – e que podem ser individuais ou em grupo. O destino prioritário é aquele que tira o profissional da zona de conforto, que o faz enxergar as próprias limitações ou provoca alguma transformação pessoal, seja na forma de viver, relacionar-se ou ver o mundo.
Há, ainda, empresas enviando executivos de diferentes áreas para participar de feiras de inovação ao redor do planeta com o objetivo de ampliar seu olhar sobre diversas questões – dos indivíduos e das organizações –, enquanto têm a oportunidade de desenvolver ou aprimorar relações interpessoais. Algumas empresas apostam na visita de seus executivos a outras de suas unidades ou a startups do Vale do Silício. Um dia desses, soube de uma grande multinacional do setor de energia que levou seus gestores para uma semana de atividades voluntárias na África, em uma região sem acesso justamente… a energia. A ideia era que, indiretamente, eles vissem que o propósito do seu trabalho também é ajudar pessoas que vivem naquele tipo de cenário.
Para melhorar o entrosamento entre seus executivos, as companhias ainda estão organizando passeios esportivos em grupo, dentro e fora do Brasil. Algumas propõem escalada em algum monte, outras organizam dias de mergulho. Há as que mesclam passeios de aventura com sessões de interação. Tudo vai depender do perfil dos viajantes.
É bem visível o benefício de apostar em viagens e atividades que humanizem profissionais que já são tecnicamente muito bons. E essa parece ser uma tendência no tratamento ao alto escalão. Se você está no topo da pirâmide e a sua empresa ainda não tem esse tipo de iniciativa, sugiro considerar esse investimento por conta própria. Aumentar o nosso arsenal de habilidades comportamentais, no fim das contas, nunca será algo em vão.