caminho para chegar ao desejado cargo de CEO nem sempre é tão claro para todos. Hoje, esses executivos podem ter no currículo passagens por áreas como planejamento estratégico, finanças, administração, vendas e marketing, manufatura, operações, supply chain, jurídica e tecnologia, entre tantas outras. Tudo depende do setor da empresa em questão, do seu momento no mercado e do histórico de resultados do executivo ou da executiva.
Minha percepção e aposta, porém, é que, no futuro, a experiência técnica de quem almeja um cargo de CEO seja menos importante. O background técnico fará com que o profissional consiga se manter antenado às tendências do mercado e do setor e às formas de ter acesso a elas. Mas acredito que o CEO do futuro precisará ter sensibilidade e ética, paralelamente à capacidade de atingir resultados de qualidade por meio das pessoas – e não apesar delas.
Hoje, as habilidades técnicas imprescindíveis para ocupar a cadeira do CEO incluem, por exemplo, conhecimento de análise de P&L (Profit & Loss Statement ou Demonstrativo de Lucros e Perdas), estratégia de vendas e de canais comerciais e marketing. Também precisa de uma visão de inovação, de dados e de transformação digital. E ser capaz de fazer a leitura de diferentes cenários do negócio da empresa e entender os impactos da cadeia de suprimentos no seu negócio.
O ponto é que, daqui a alguns anos, é provável que esses requisitos continuem sendo necessários, mas não tenham mais o mesmo peso de importância, pois vivemos em um mundo em constante transformação.
Creio que, daqui a cinco anos, provavelmente, o cenário será muito similar. Mas daqui a 15 ou 20 anos, os avanços em inteligência artificial e ciência de dados podem nos trazer muitas surpresas sobre as habilidades técnicas demandadas dos CEOs.
O que deve ganhar força é a capacidade desse executivo considerar as pessoas no centro das decisões. Isso poderá fazer com que, inclusive, comecemos a ver mais diretores de RH sendo alçados ao cargo de CEO – algo que não é comum nos dias de hoje.
Outro ponto importante a mencionar é que, atualmente, a maior parte das empresas ainda trabalha de forma dividida em departamentos. Mas algumas já organizam seu organograma por projetos ou squads (grupo de trabalho) multidisciplinares. Nesse novo conceito, a tendência é que as pessoas não fiquem rotuladas com base nos setores pelos quais passaram, tornando-se mais generalistas e muito fortes em resoluções de problemas, já que terão o raciocínio constantemente desafiado – principalmente pelos recursos de inteligência artificial.
Alguns cenários dão claros sinais de transformação no perfil do CEO. No futuro, esse executivo não estará intrinsecamente ligado aos aspectos técnicos e os conhecimentos de hard skills poderão ser mais facilmente “comprados”. O diferencial estará ligado às habilidades comportamentais (soft skills), à capacidade de antecipar movimentos macro e microeconômicos e ao profundo conhecimento setorial. Isso além de uma ampla visão do movimento do negócio, do perfil dos acionistas e da cultura da organização.
Esse líder não precisará necessariamente ter trilhado uma carreira linear no mundo corporativo, pois as empresas estão cada vez mais abertas a aportar pessoas de históricos profissionais e de vida mais variados. Arrisco dizer que teremos inclusive espaço para CEOs de fora do mundo corporativo, mas que despontaram como líderes de temáticas globalmente. Porém será fundamental que esse executivo seja capaz de impactar positivamente e de maneira consistente todos os stakeholders que orbitam o ecossistema das companhias: colaboradores, fornecedores, clientes e autoridades regulatórias, entre outros que precisam reconhecer na figura do CEO um líder a ser seguido.
O foco da escolha do futuro CEO será com base na credibilidade e na reputação construída por esse executivo. As habilidades comportamentais mais fortes provavelmente estarão baseadas no poder de observação, na habilidade de escuta e na sabedoria de fazer as perguntas certas. Estamos falando de pessoas altamente inspiradoras e impactantes, que precisarão visar ao bem comum em todas as suas ações.
Você teria disposição para encarar essa missão?