Eu li esses dias uma pesquisa da Edelman Trust Barometer feita com profissionais com curso superior, que consomem um grande volume de notícias e estão no topo da faixa de renda de seus países. E essa pesquisa, com 33 mil pessoas de 27 países, mostrou que os brasileiros têm um alto índice de confiança no seu empregador e têm alta desconfiança no governo e na mídia.
Interessante ver também que os brasileiros têm um alto percentual de medo de perder o emprego comparado com outros países do mundo, seja por considerar que não têm a formação e competência para um emprego melhor, seja pelo receio que a automação ou outras inovações possam roubar o seu emprego, segundo a mesma pesquisa.
O estudo também diz que as pessoas esperam que os CEOs das empresas possam promover mudanças sociais mais do que esperam alguma atitude do governo. Os papéis dos CEOs aumentam a cada dia, além de gerir suas empresas deve-se pensar em todos os subsistemas que giram em torno das empresas.
Recentemente o Talenses Group lançou os resultados de uma pesquisa sobre os principais erros dos CEOS durante a pandemia, segundo a visão dos seus conselheiros. Os principais pontos citados foram: demora na tomada de decisão e atitude; agir com emoção; centralização da decisão; aversão ao risco e condução excessivamente conservadora diante de oportunidades; descolamento da realidade (otimismo ou pessimismo em excesso).
Os conselheiros também apontaram as principais habilidades comportamentais que os CEOs devem ter (e praticar) durante um período de crise: inteligência emocional, coragem para tomar decisões e atitudes, resiliência, comunicação, ética, poder de influência, criatividade e discurso motivacional. Entendo que essas competências são importantes também para todos os graus de liderança.
O que determina o vínculo
Esse período de pandemia foi interessante, pois vimos uma série de profissionais mudando seu índice de confiança nos seus empregadores de acordo com a forma com a qual as empresas enfrentaram esse momento. Algumas conseguiram engajar ainda mais seus colaboradores, enquanto outros desmotivaram suas respectivas equipes e passam agora por uma fase que talentos começam a deixar a organização por novas oportunidades de trabalho.
Mas o que significa ter o vínculo de confiança com o empregador? Entendo que quatro pilares principais constroem essa confiança:
1. Transparência
O quanto os líderes são transparentes?
2. Comunicação
O quanto os profissionais se sentem a par das decisões de suas empresas e o quanto eles se sentem engajados? Esse é um dos tópicos mais difíceis. Nas pesquisas internas de muitas organizações, o item comunicação costuma ter um destaque negativo.
3. Conduta ética e compliance
O quanto a organização está preocupada em seguir regras e fazer o que é certo. Afinal, “não há maneira certa de fazer a coisa errada” e os colaboradores sabem disso. Fato é que a liderança está sendo observada o tempo todo e qualquer deslize no sentido ético causa um rompimento na relação de confiança, e na maior parte das vezes irreversível.
4. Propósito e cultura
A identificação com o propósito e a cultura da empresa certamente aproxima ou afasta os colaboradores da organização. As pessoas confiam em pessoas que elas se identificam. Também é importante a conexão com a missão, visão e valores, com o jeito de fazer da organização. Esses itens precisam corresponder àquilo que as pessoas acreditam.
O peso da liderança
É importante também ressaltar o papel da liderança na construção de confiança com o colaborador. As pessoas geralmente enxergam suas organizações com base nas atitudes de seu gestor e do seu departamento, e quando confiam em seus gestores, geralmente elas confiam na organização.
Por isso, fica um alerta para todos os que têm um papel de liderança nas empresas: tente ser o melhor líder possível para com os seus liderados. Diretores e CEOS precisam ter na pauta essa visão social do ecossistema no qual suas empresas estão inseridas. Isso causará um impacto gigantesco nos liderados e um consequente aumento de retenção e produtividade. Pessoas felizes produzem mais e melhor.
E agora uma reflexão individual: o quanto você confia no seu empregador? Você está feliz com a sua organização? Se não estiver feliz, será que esses pontos podem ter alguma relação com isso? Se estiver buscando uma nova oportunidade, vale a pena olhar para esses quatro pilares ao avaliar os futuros empregadores durante os processos seletivos.