Mercado de trabalho: o que esperar do segundo semestre
Inflação, eleições e novos anseios dos profissionais devem trazer desafios em várias áreas
stamos no último dia de junho e o mercado segue marcado por algumas incertezas. A primeira delas é a questão da inflação, que tem subido em diversos países, inclusive no Brasil, diminuindo o nosso poder de compra. É em momentos como esse que as empresas costumam adotar uma postura mais conservadora, traduzida em ações para preservar o caixa, na paralisação ou postergação de projetos, no congelamento de promoções e na diminuição de novas contratações. O lema do fazer mais com menos ganha muito destaque nesse cenário.
Quando olhamos apenas para o Brasil, é preciso considerar que temos um semestre eleitoral pela frente, com grupos políticos bastante polarizados e muitas incertezas de propostas, independentemente de quem assumir a presidência e as demais posições. Não está claro o caminho que o país deve adotar. Com isso, as empresas, de uma forma geral, ganham mais um motivo para manter uma postura conservadora.
A Copa do Mundo no Catar, entre os meses de novembro e dezembro, é outro tema que merece atenção. Porém, ainda não existem muitos indícios dos impactos que o evento irá causar. A expectativa é de que haja muito alvoroço e planos por parte das empresas do setor de bens de consumo, apesar de a população em geral não demonstrar estar tão ansiosa para acompanhar a seleção brasileira. Vamos ver como será.
No setor das startups de tecnologia, que de uma forma macro são empresas que dependem de investimentos de fundos, as empresas estão claramente passando por um período de redução de gastos e de estruturas. Quanto aos demais setores, os movimentos têm variado de acordo com o momento individual do negócio. Alguns setores demonstrando rapidez ao ajuste de rota ou tomadas de decisões e outros setores de ciclos mais longos, sentindo um pouco menos as oscilações de mercado.
Com relação aos processos seletivos, vejo que eles tendem a ficar mais morosos e longos, inclusive com mais etapas nesse segundo semestre. No recrutamento de posições-chave e indispensáveis, é bem claro o descasamento das conjunturas políticas e econômicas versus o apetite de as empresas manterem os planos de contratações.
De qualquer forma, é importante destacar que a maior parte dos processos se refere a substituições de profissionais que se movimentaram ou que não estão atendendo as expectativas das áreas e não tanto de novas posições sendo criadas. Tenho visto vagas novas em setores que são de ciclos mais longos, como, por exemplo, o setor de energia e o setor de papel e celulose. Se pensarmos, tem bastante lógica nisso, pois o tempo de maturação de uma floresta leva sete anos, um semestre de incertezas impacta pouco uma empresa desse setor.
No segundo semestre também é prevista uma maior estabilização das decisões das empresas sobre o formato de trabalho que vão adotar, já que os modelos híbrido, remoto e presencial foi amplamente testado. Sob a ótica dos profissionais, é esperado que as pessoas estejam com mais clareza com relação aos seus propósitos e se questionem muito mais sobre permanecer em um determinado emprego ou buscar outros rumos que estejam mais alinhados a seus desejos, suas necessidades e suas expectativas.
Vemos aquele movimento chamado de “the great resignation” — a grande resignação — batendo mais forte à porta do Brasil nesse segundo semestre, principalmente nas gerações mais jovens. Existem legiões de pessoas debandando das empresas em busca de um propósito maior e uma maior felicidade no trabalho. Esse movimento tem exigido que as empresas tentem se adequar cada vez mais para proporcionar um ambiente corporativo no qual os colaboradores possam ter qualidade de vida, boa saúde mental e felicidade.
Em resumo: o segundo semestre será desafiador em muitos sentidos. Mas, de uma forma macro, enxergo o período como um semestre positivo em que teremos definições importantes acontecendo no mercado, que guiarão o nosso próximo ciclo. O importante é não desanimar.