figura dos “sombras” é bastante comum em empresas asiáticas, principalmente em companhias chinesas e coreanas. Na prática, é aquele profissional expatriado para ocupar posições de gerência, diretoria ou outro cargo-chave e que, estrategicamente, a organização o coloca ao lado do executivo brasileiro que está na função.
Sei, por exemplo, do caso de uma empresa coreana instalada no Brasil que tem um profissional brasileiro e outro vindo do da Coreia. Cada um ocupa uma das posições de diretoria da empresa. O do Brasil toca a operação no dia a dia com as equipes. Mas, para tomar decisões mais importantes, ele precisa arquitetar e alinhar a estratégia com seu par. O “sombra” não aparece para o mercado, mas internamente é um aliado dos executivos brasileiros.
Nesse caso, a presença dele é importante porque é ele quem conhece com mais profundidade a cultura da empresa e do país em que ela foi fundada. Muitas vezes, esse executivo expatriado é a pessoa que tem mais conexão com a alta liderança global, incluindo o CEO e os principais conselheiros do grupo. Na prática, usualmente, ele ajuda o executivo brasileiro a estruturar defesas de ideias para que tenham mais chances de serem aprovadas pelo board.
No dia a dia, o papel dele não é fiscalizar o executivo brasileiro ou tentar ocupar o lugar dele, como muitas pessoas pensam. Ele está na companhia para apoiar, contribuir com suas habilidades estratégicas e políticas e elaborar relatórios de desempenho para a matriz.
Boa prática nessa parceria
Recentemente, grupos asiáticos compraram companhias brasileiras, o que gerou a vinda de uma série de executivos expatriados para exercer a função de “sombra” por aqui. O movimento gerou surpresa e insegurança nos brasileiros que estavam no comando. O que consegui mapear é que, em um primeiro momento, a sensação foi de perda de autonomia e do livre acesso ao CEO.
Essas situações de desconforto tendem a ser geradas pela falta de comunicação clara, objetiva e empática. Dentro de uma empresa, quando qualquer acontecimento polêmico, delicado ou drástico não é bem explicado, ele tende a gerar receio e frustração. E, em muitos casos, pedidos de demissão.
Aos executivos que estão passando pela experiência de atuar em parceria com o “sombra” ou estão prestes a ingressar em uma empresa adepta da prática, uma sugestão: una-se ao seu par. Dedique tempo para entender mais sobre o perfil dele e suas habilidades dominantes, demonstre disposição e abertura para que a relação seja harmoniosa e colaborativa. Buscar conexões com executivos de outras companhias, que estão vivendo a mesma situação, pode te ajudar a ampliar, confirmar e/ou corrigir percepções e boas práticas.
Prós e contras da iniciativa
Como todo modelo cultural de operação, a prática tem seus prós e contras. Sem dúvida, é uma excelente solução para que um líder nunca se sinta sozinho na hora de tomar uma decisão, refletir, traçar uma estratégia ou ler situações e pessoas pelas entrelinhas.
Na contramão disso, quando não há maturidade emocional dos dois profissionais envolvidos, há o risco de se criar um ambiente de competitividade desgastante e pouco ou nenhum apoio mútuo, o que não é bom para ninguém.
O que difere o “sombra” do “deputy”?
E o cargo de deputy que também vemos em algumas organizações asiáticas? Essa é uma posição bem diferente. Ela é criada quando uma empresa quer promover alguém para uma determinada função e, antes de concretizar a movimentação, cria uma rotina para que esse profissional conviva com aquele que ainda está ocupando a vaga almejada. É um movimento para a troca de bastão das atividades
No caso do deputy, também há receio por parte dos envolvidos, tendo em vista que não existe um tempo determinado para que a passagem de bastão seja finalizada. Para que a carreira do executivo que ocupa o cargo possa tomar outros rumos, é fundamental que ele colabore com essa transição. Ou seja, é uma movimentação que tem tudo para durar apenas o tempo necessário.
Usualmente, ele e o atual titular do cargo costumam ter o mesmo patamar em relação a salário e benefícios. Isso quer dizer que não é demérito ocupar um cargo ou outro. É apenas uma preparação mais estratégica, estruturada e bem feita para que o executivo que vai assumir a posição tenha mais chances de sucesso na missão.
Novidades como essa no mercado de trabalho sempre me fazem refletir sobre o quanto podemos ser melhores atuando em modo colaborativo. Como disse Andrew Carnegie, no livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, “o trabalho em equipe é a habilidade de trabalhar juntos em direção a uma visão comum. A habilidade de direcionar realizações individuais para objetivos organizacionais. É o combustível que permite que pessoas comuns alcancem resultados incomuns.”