Os escritórios estão cada vez mais incríveis, mas continuam vazios

Nessa retomada de encontros presenciais, tenho ido a muitos escritórios. A maioria das grandes empresas adaptou os seus espaços para serem áreas agradáveis e funcionais de convivência, além de ambiente de trabalho. Tenho ficado encantada com as propostas de arquitetura, organização e decoração. Algumas são de cair o queixo de qualquer um. E, entre as práticas de ambientes repaginados, oito têm chamado a minha atenção:

1. Lugar fixo já não é mais regra

A maioria das organizações eliminou a prática de local fixo de trabalho. Algumas ainda mantêm salas fechadas e fixas para membros da diretoria ou áreas com informações mais confidenciais, como vendas, contabilidade, finanças e RH. Mas em muitas empresas cada colaborador se senta onde quiser a cada dia de expediente, inclusive os membros do board.

2. A preocupação com funcionalidade, conforto e bem-estar

Tenho visto muitas empresas oferecerem equipamentos de última geração para os colaboradores, incluindo notebook com tela dupla. Também tenho notado mais uso de mesas ergonômicas que mudam de altura, permitindo que o profissional trabalhe até mesmo em pé, se quiser. Há chaises longues com apoio para notebook. A escolha de iluminação, cores neutras, madeira e plantas na decoração tem sido pensada para ajudar na concentração, no acolhimento e no bem-estar.

3. Locais para momentos de pausa

Alguns espaços reservados ao café contam com barista e cardápio extenso ofertados gratuitamente aos colaboradores. Em algumas empresas, o local tem vista para o ambiente externo do escritório, como avenidas, jardins ou arranha-céus da cidade. Vi também: academias de ginástica com vestiários; espaços para leitura e o que tem de mais moderno nas livrarias; salas de massagem; serviço de manicure; quadra de basquete; estúdios para gravação de vídeos e podcasts; e espaço de descompressão e interação com videogames, mesas de sinuca e instrumentos musicais. Em alguns escritórios há oferta de cerveja ou chope para degustação da equipe, algo que sempre foi mais comum apenas em grandes cervejarias.

4. Em vez de mesas com gavetas, armários para uso individual

Para que os colaboradores possam circular pelo escritório apenas com o notebook, o celular e um caderno de anotações, muitas empresas têm oferecido armários com trava de segurança para que essas pessoas possam guardar seus outros pertences de uso pessoal.

5. Até mesmo os banheiros têm sido decorados e equipados com atenção especial

Nos banheiros de algumas dessas empresas estão dispostos diversos tipos de sabonetes, hidratantes e cosméticos. Tudo isso, claro, com designs e mobiliários de primeira linha.

6. Há cuidado com a alimentação dos diferentes públicos

Alguns desses escritórios contam, também, com restaurantes internos com boas opções de comida, incluindo itens saudáveis e orgânicos.

7. Pais e mães contam com berçários para os dias de trabalho presencial

Algumas empresas mantêm seus lindos berçários para bebês e crianças pequenas. Em geral, a regra é que o espaço só pode ser utilizado quando um dos pais estiver trabalhando presencialmente.

8. É possível ter privacidade em momentos de reunião

As salas de reuniões são um show à parte, com todo tipo de tecnologias de áudio e vídeo e cadeiras confortáveis, além de petiscos e bebidas para que os colaboradores possam manter a concentração em reuniões mais longas. Em algumas empresas, há cabines com mesinha, sofá, telefone e acesso à internet para quem precisa fazer uma reunião menor relacionada a tema sensível ou confidencial.

Mas por que os escritórios permanecem com baixa taxa de ocupação?

Mesmo tendo escritórios maravilhosos, as empresas que não anunciaram o retorno 100% presencial têm registrado taxa de ocupação inferior a 20%. Algo que tem gerado nos líderes de RH, e até mesmo em mim, uma busca por explicações sobre essa resistência de alguns profissionais quanto ao retorno de encontros presenciais.

Pela apuração pessoal que fiz, há diversos fatores. Na pandemia, muitas pessoas mudaram de cidade ou até mesmo de país sem ter uma conversa formal com o empregador. Vale destacar que, em muitos desses casos, tenho visto líderes extremamente incomodados com a atitude do profissional e distância física dele.

Há colaboradores, também, alegando que aprenderam a trabalhar bem de casa, inclusive de forma muito produtiva. Além disso, com menos tempo perdido no trajeto entre casa e trabalho, esses profissionais têm dito que agora podem participar mais ativamente de atividades pessoais, familiares e com amigos.

Considerando esse cenário, acredito que o chamariz mais eficiente para atrair um colaborador para o escritório seja a proposta de organizar eventos, reuniões de estratégia, treinamentos e encontros de interação entre os membros das equipes. A oferta de petiscos, diversão, conforto e espaços instagramáveis segue importante, mas não deve ser o foco da convocação. A valorização deve ser pelo estabelecimento e pela manutenção da qualidade da comunicação e conexão entre as pessoas de maneira presencial.

O mundo mudou. O ambiente corporativo e os profissionais também. Existe uma busca maior pelo propósito e pela realização por trás de um dia a dia de trabalho. E, se quisermos levar as pessoas de volta ao convívio presencial, ainda que seja em alguns dias da semana, temos que propor ações que possam mostrar o valor das interações humanas.

• Ambiente de trabalho
• Escritórios
• Futuro do trabalho
• Home office