stamos próximos do Dia das Mães. Há bastante mídia e estímulo ao consumo em torno do tema. Alguns dados chegam a apontar a data como uma das principais do país para o faturamento do comércio. É triste, porém, ver que ainda existem tantos preconceitos no mundo corporativo quando o assunto é a capacidade profissional das protagonistas da data.
Eu tenho três filhos com 2, 4 e 8 anos de idade. Vejo, com frequência, as pessoas surpreendidas ao notarem que consigo conciliar de uma forma saudável o meu trabalho e o meu papel de mãe. Tenho ao meu redor exemplos de muitas mulheres que são incríveis e inspiradoras na conciliação de suas diferentes funções dentro e fora de casa.
Infelizmente, com frequência, ainda me deparo com organizações que não enxergam o real valor de uma mulher que decide ser mãe e permanecer no mercado de trabalho. É comum, por exemplo, durante o processo para o preenchimento de uma posição, eu notar um preconceito velado por parte do empregador com as candidatas que, no processo seletivo, expressam a vontade de serem mães ou revelam terem filhos pequenos.
Estigmas comuns que rodeiam a maternidade
Acredito que esse preconceito persiste, em grande parte, porque há o estigma de que essas mulheres faltarão mais do que outras, seja por questões relacionadas à gravidez, seja pelo cuidado com a criança. Alguns empregadores ainda acreditam que uma área não pode suportar a ausência de uma profissional no período de licença-maternidade, que pode durar até sete meses, dependendo da política da empresa.
Por que as empresas deveriam rever esse preconceito
Uma mulher não precisa ser mãe para se tornar uma profissional mais competente. Ter um filho ou não é uma escolha pessoal, totalmente legítima e não merece interferência ou opinião externa. Mas, como essa reflexão é focada em mães, permitam-me indicar bons motivos para contratá-las:
1. Com a maternidade, as mulheres tendem a amadurecer como pessoas e profissionais
Entre aquelas que optam por ter um filho, noto que, a partir da chegada da criança, nasce uma mulher mais guerreira, disposta a fazer tudo da melhor forma para inspirar o filho e garantir o sustento dessa criança. Elas também costumam elevar seu comprometimento e a sua organização para dar conta das duas funções com o mínimo de sobrecarga possível.
2. No cuidado com a criança, elas desenvolvem ou aprimoram habilidades importantes para a o dia a dia da empresa
Após se tornarem mães, em geral as mulheres agregam ao dia a dia da empresa algumas habilidades que desenvolvem ou aprimoram no cuidado com a criança. Em geral, elas costumam ter um olhar bastante atento a temas de ESG, já que desejam deixar um mundo melhor para seus próprios filhos. Elas costumam ser focadas, rápidas e multitarefas, pois o dia a dia com uma criança exige esse dinamismo. Tendem a ser empáticas, acolhedoras, cuidadosas e gentis, mas sem deixar de oferecer feedbacks sinceros e certeiros, uma vez que dedicam horas da vida a educar e liderar outro ser. Também são boas em avaliar algo ou alguém além da superfície, identificar melhor as emoções e os cenários em torno de uma situação.
3. Muitas estão verdadeiramente dispostas a enfrentar esse desafio de conciliar funções
Algumas mulheres optam por deixar o mercado de trabalho para vivenciar plenamente a maternidade, e está tudo bem com essa decisão. São escolhas pessoais. Mas a verdade é que muitas deixam a empresa depois de terem um filho por não se sentirem acolhidas no ambiente corporativo. Outras simplesmente são desligadas depois do período de licença-maternidade, o que é bastante cruel, pois, normalmente, para voltar ao trabalho aquela mulher se organizou adaptando o bebê em uma escolinha ou contratando alguém para cuidar da criança. Já soube de mulheres que, inclusive, anteciparam o processo de introdução alimentar do bebê para estarem prontas para esse retorno à empresa. Ou seja, muitas nem têm chance de provar ao empregador que são capazes de conciliar os dois papéis. E, depois dessa saída voluntária ou por meio de demissão, voltam a sofrer preconceito para se recolocar.
Uma sugestão: contrate pessoas pensando no longo prazo
Por mais que o mercado de trabalho seja dinâmico, ao contratar alguém, o desejo do empregador é firmar uma parceria longa com a pessoa. Se você, como gestor, concorda com esse pensamento, te convido a se abrir também para a seguinte ideia: considerando uma possível longa jornada de contribuição da colaboradora à empresa, períodos de ausências justificadas podem representar pouco no todo da relação de parceria com essa profissional.
Na minha experiência como gestora e no contato diário com profissionais que estão em busca de recolocação ou movimentação na carreira, noto que, no saldo, homens e mulheres sem filhos se ausentam do trabalho tanto quanto as mães que têm a oportunidade de permanecer no mercado. Por isso, precisamos combater esse preconceito que existe no mundo corporativo e dar chance às mulheres que querem ser ou já são mães.