Sempre me questionei sobre o que, frequentemente, diferencia vidas plenas daquelas não tão plenas. Em contato com as boas ideias da The School of Life, antes mesmo de trazê-la ao Brasil junto com a minha sócia Diana Gabanyi, descobri que o segredo está em um ingrediente que não faz parte do currículo educacional formal e que, para alguns, pode parecer algo vago, meio bobo ou idealista no mau sentido: aquela flutuação da alma que chamamos de confiança.
Mas por que é tão difícil ter confiança? Parte do motivo está relacionado a uma ressaca do passado. Durante milhares de anos, para a maioria da humanidade, simplesmente não existiam oportunidades para a esperança: muitos eram servos e escravos e a habilidade de sobrevivência psicológica central era manter a cabeça baixa e as expectativas, também.
Mesmo sem nos darmos conta, muitos de nós ainda carrega um pouco do legado desse passado, com uma atitude de servidão interna que ameaça nosso espírito, mesmo que já estejamos em uma Era moderna, tecnológica e democrática. Somado a isso, na infância, alguns ainda foram submetidos a ideias de adultos com certa influência sobre suas vidas por meio de discursos que iniciavam com algo, como: “pessoas como nós não…”; ou “quem você acha que é para…”.
Exercite a compaixão
Deveríamos, porém, sentir compaixão pela origem dessas mensagens defensivas e bem intencionadas desses nossos cuidadores ou orientadores da infância. No fundo, elas eram uma proteção, uma estratégia de sobrevivência e uma fuga da humilhação. A escola também não ajudou muito, afinal, dentro dela, deveríamos ser crianças boas e confiar na autoridade estabelecida.
Pratique a desobediência calculada
Parte de se tornar adulto parece ser aceitar a percepção dolorosa de que nessa fase da vida ainda não temos todas as respostas e, portanto, temos todo direito – até mesmo o dever – de romper certas regras e elaborar as coisas de uma maneira mais independente. Precisamos aprender uma forma calculada de desobediência, o que pode ser surpreendente, depois de uma sequência de anos de obediência imposta. Um bom exercício é começar suspeitando construtivamente da autoridade, se permitindo ficar entre a conformidade total e o ceticismo obstinado.
Aceite a imperfeição
A confiança também tem a ver com a nossa capacidade de nos perdoarmos pelos horrores das primeiras tentativas, envolve a coragem de aceitar a imperfeição. É reconhecer a tentação que existe em não seguir com uma ideia, um projeto ou uma iniciativa sob a desculpa de que tudo precisa ser perfeito. Se prender a isso, aliás, pode dar origem a uma receita para não sair da cama. Mas, em momentos como esse, é útil lembrar que muitas das supostas grandes vidas também são permeadas por erros que não as afundaram.
Permita-se ousar
Muitos projetos e planos morrem por um motivo banal: não ousamos. E eu, particularmente, acho uma pena passarmos por essa vida sem tentar nos conectar a vozes internas mais produtivas, úteis e encorajadoras, que nos levem a diante. Comecei a pensar mais seriamente sobre isso depois de participar de um evento sobre amor, perdas e o que importa no final com o terapeuta existencial mais celebrado do mundo Irvin Yalom, que esteve virtualmente na TSOL Berlim e Amsterdã e se prepara para o evento na TSOL Brasil, em novembro. Na primeira vez que o ouvi, com a experiência de alguém que já vivenciou o luto e ajudou tantas pessoas a lidar com essa experiência, ele disse que “é mais fácil enfrentar a morte se você tiver poucos arrependimentos”.
Sei que, para alguns, a frase pode soar um pouco mórbida. Mas eu queria propor uma perspectiva diferente sobre o que ele disse. Tente ver essa reflexão como um incentivo para colocar, frutiferamente, a mão na massa. E, no lugar de focar as energias no medo de estragar tudo, jogue luz sobre o único perigo verdadeiro que existe: o de nunca tentar.