lá se vão dois anos do início da pandemia da covid-19. omo indivíduos, cada um de nós carrega, nesse período, seus sofrimentos e suas experiências particulares e totalmente legítimas. Como humanidade estamos tendo mais uma prova de que sabemos bem como sofrer e lamentar. Mas sabemos ainda melhor como enfrentar as adversidades – e com mais força do que imaginamos. A história pode nos confirmar com fatos.
Um pouco de história
No século 27 a.C, o rio Nilo secou por sete anos consecutivos e causou uma das primeiras e maiores fomes na história do Egito. Em 13 de dezembro do ano 115 d.C, um terremoto devastador atingiu a cidade de Antioquia destruindo três quartos de suas construções e matando metade de seus 500 mil habitantes em minutos. O trabalho de reconstrução durou uma década. Em 21 de julho de 365, um tsunami devastador atingiu Alexandria matando 50 mil pessoas.
Em 542, passamos pela primeira pandemia global de peste bubônica, que começou ferozmente em Constantinopla, entrando pelas movimentadas rotas comerciais da Ásia. Em 1346, a Peste Negra chegou à Europa, vinda das estepes russas e matou cerca de 25 milhões de pessoas. Entre 1918 e 1919, a pandemia de influenza conhecida como “gripe espanhola” matou mais de 50 milhões de pessoas, superando de longe o número de mortes da Primeira Guerra Mundial.
Como nos redirecionar em momentos de crise
É claro que nenhum desses fatos que eu relembrei deve ou pode diminuir – nem mesmo por um segundo – os imensos sofrimentos individuais e coletivos do nosso próprio tempo. Minha intenção com essa retrospectiva é apenas acrescentar à história que estamos vivendo o seguinte capítulo: “sempre há um amanhã”. Não para ignorar o que está ao nosso redor, mas para ampliar a perspectiva no nosso mundo interior, uma habilidade poderosa para nos redirecionar em momentos de crise.
O mundo exterior pode ser ruim, muito ruim. Mas ele pode se tornar ainda pior dependendo de nossas vozes internas, que se não forem bem calibradas, podem acrescentar ainda mais medo, pavor e sensação de condenação ao nosso dia a dia. Muito mais do que seria estritamente necessário.
O papel do autoconhecimento e da inteligência emocional nesse processo
Aqui, não refiro-me a ter pensamentos positivos. Mas sim ao processo de constante autoconhecimento e de aferição da nossa inteligência emocional, à prática de pensar sobre as nossas emoções em vez de simplesmente tê-las, a compreender e analisar nossos sentimentos, aprendendo a ver como as emoções afetam nosso comportamento e a nossa rotina de maneiras inesperadas, contraintuitivas e, às vezes, perigosas. Os filósofos, que foram os primeiros terapeutas da humanidade, nos ensinam muito sobre isso.
O que define uma vida boa
Tendemos a acreditar que a diferença entre uma vida boa e outra ruim está diretamente relacionada à qualidade dos eventos externos que nos acontecem. Mas, surpreendentemente, o que qualifica a nossa jornada na vida é a maneira como cada um de nós é capaz de interpretar os acontecimentos. Tem a ver com a nossa capacidade de passar pelos caminhos mais estreitos e nebulosos da vida sem adicionar à caminhada sentimentos de vergonha, perseguição ou ódio de si mesmo.
Saber incorporar um comentário tranquilizador a um campo de batalha é um poderoso exercício de autocompaixão e humildade. Acredito muito que aquele que pode dizer a si mesmo no meio de um inferno que “não merece isso”, que “muito pode ser consertado” e que “ainda somos amáveis”, definitivamente, aprendeu a arte de viver.
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