urante a maior parte da história humana, em quase todos os lugares, estava fora de questão que o chefe pudesse se reunir com um funcionário e avaliar seu trabalho, perguntar sobre seus sentimentos ou suas atitudes, esperanças e ambições. A relação básica era de comando de um lado e obediência do outro. No ensino, havia uma estrita separação entre mestre e discípulo. Havia aqueles que davam as ordens e aqueles que faziam o que era ordenado.
Felizmente, essas dinâmicas estão cada vez mais escassas. Não por que os chefes sejam mais simpáticos, mas porque as tarefas dos negócios são psicologicamente mais complexas do que no passado. Houve uma percepção totalmente prática e intransigente de que, para obter o melhor desempenho, as pessoas precisam estar psicologicamente em um bom lugar, ou seja, bem motivadas, de bom humor e até mesmo entusiasmadas e ansiosas pelas tarefas que estão realizando.
No passado, quando muito do trabalho era puramente rotineiro e dependia, principalmente, da flexão do corpo, a liderança não se importava tanto com o que estava acontecendo dentro da cabeça dos colaboradores. Na visão daqueles líderes, uma pessoa infeliz poderia digitar ou cortar carvão tão rápido quanto uma que estivesse alegre; um indivíduo de coração partido poderia adicionar colar rótulos tão rapidamente quanto alguém que estivesse desfrutando de um momento pleno na vida amorosa.
O trabalho mudou de um caráter físico ou mecânico para se tornar muito mais psicológico. Hoje, para o sucesso do negócio, é primordial que a equipe de uma loja ouça com mais empatia as demandas de clientes difíceis; o time de vendas acredite nas vantagens, na qualidade e nos diferenciais um novo produto para vendê-lo de todo o coração; os profissionais de TI sejam criativos na forma como interagem com outros setores do negócio. Para essas e outras tarefas, torna-se crucial que os colaboradores estejam no estado de espírito certo. Portanto, a alta administração precisa levar muito a sério o bem-estar mental e emocional dos membros do seu time. Passamos da Era da gestão física para a Era da gestão psicológica.
A qualidade do bem-estar emocional e mental de um colaborador é tão significativa que, de acordo com uma pesquisa da The School of Life em parceria com a Robert Half, 38% dos 620 líderes e 52% dos 180 liderados entrevistados afirmaram que, no último ano, deixaram de produzir ou se engajar no trabalho por estarem emocionalmente abalados. O que prova a tendência da nossa mente de desligar sem aviso prévio dependendo do desconforto.
Há, também, uma ideia bastante inspiradora que pode ser tirada dos esportes de elite. Os melhores tenistas não gastam apenas muito tempo trabalhando para aperfeiçoar seu saque ou backhand na quadra. Eles perceberam, há muito tempo, que parte da vitória do atleta também é conquistada com a ajuda da mente. Isso quer dizer que a capacidade de dominar uma série de habilidades psicológicas está no centro do sucesso de diferentes esportistas. Eles precisam saber como não se deixar abalar por uma enorme pressão; como lidar com a dúvida; como ter confiança para voltar depois de uma série de erros… O grande jogador tem uma vida cheia de feedbacks psicológicos — e é bom nisso.
A sessão de feedback no dia a dia do trabalho é, atualmente, a principal forma que a nossa sociedade encontrou para abordar o que podemos chamar de obstáculos psicológicos ao sucesso de um negócio. As empresas reconhecem que precisam ter melhores conversas com os colaboradores, com empatia, abertura e acolhimento, sobre vários hábitos mentais, como distorções, neuroses de caráter ou vieses inconscientes, por exemplo, que atrapalham o bom desempenho do profissional e, portanto, a lucratividade do negócio.
O feedback pode parecer, à primeira vista, apenas mais uma ação na rotina do escritório. Mas é um lugar em que podemos ver a economia do futuro começando a emergir. É quando temos a oportunidade de mapear o tipo de educação — em termos de habilidades emocionais e comportamentais — que os colaboradores precisam coletivamente. Ainda estamos nos estágios iniciais de treinamento psicológico no local de trabalho. Mas, pouco a pouco, vejo que as empresas estão cada vez mais abertas a essa necessidade de educação especial, inclusive buscando ajuda especializada sempre que possível.
No mundo ideal, todas as Escolas de Negócios incluíram em seus currículos uma educação emocional muito completa e astuta, não apenas disciplinas como matemática, ciências e tantas outras. Nesse dia, teremos não apenas profissionais hábeis no raciocínio e conhecimento, mas também psicologicamente sofisticados.
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