Três motivos para brincar mais na vida adulta
Pessoas descontraídas agregam diversão e humor para o trabalho, contribuem para um clima mais leve e agradável para a equipe
rincar, na cabeça da maioria das pessoas adultas, é o oposto do trabalho. Ouvir a palavra é lembrar as tardes da nossa infância ou de adultos irresponsáveis. Para mim, mesmo no ambiente corporativo, lembra bom humor, executar as atividades com alegria e ter horas de prazer descomplicado. É a habilidade de se soltar, se permitir experimentar, olhar para a opinião do outro com mais curiosidade e ter mais tolerância com o fracasso, aprendendo com o processo.
Entendo que pode ser bem estranho considerar argumentos diferentes na tentativa de junção entre as palavras brincar e trabalho. Mas, na essência, quando desabotoamos a forma como pensamos o “trabalho sério” e incorporamos mais leveza e experimentação à nossa rotina, podemos, de fato, aumentar a qualidade do nosso tempo produtivo. Até porque, em ambientes nos quais o respeito e a descontração são bem dosados, nos conectarmos com os outros de uma forma autêntica. Locais como esses também são ótimos para nos recuperarmos de situações de alto estresse.
Para poder traduzir melhor o que penso sobre esse tema, compartilho aqui alguns argumentos que explicam por que “brincar” pode ser uma coisa séria.
1. A descontração nos permite experimentar algo novo sem medo
“Brincar é o que permite que as crianças experimentem as coisas de uma maneira que não seja muito assustadora, antes de sair pelo mundo e experimentar as situações de verdade”, diz Sarah Stein Lubrano, membro do corpo docente da The School of Life na Inglaterra. Na visão dela: “Como adultos, nosso mundo, muitas vezes, parece grave e mortalmente sério, o que significa que brincar é, muitas vezes, visto como algo imaturo – mas é precisamente por causa do medo e da ansiedade do mundo adulto que precisamos de um lugar para experimentar, longe de qualquer nervosismo sobre as consequências. Pode parecer contraintuitivo, mas os adultos geralmente precisam disso muito mais do que as crianças, especialmente no contexto de um projeto de trabalho.”
As crianças podem estar longe de dominar o lado prático de suas aventuras, mas sua bravura em inventar planos e testá-los, não importa o que aconteça, é impressionante. Da mesma forma que uma criança de 6 anos pode fazer as malas e anunciar seu plano de caminhar até a China naquela mesma tarde, os adultos podem se beneficiar de uma indulgência semelhante ao mergulhar sem medo em experimentos mentais, brincar com ideias antes de se permitirem ser sobrecarregado pela lógica mais severa da vida real.
2. A descontração nos permite ser infinitamente criativos
Seria ingênuo imaginar que o trabalho sempre será divertido. Mesmo os trabalhos mais criativos ainda carregam certa quantidade de esforço braçal e duro. Mas, nos estágios iniciais de um projeto, a descontração é muito boa para abrir portas. Também é muito boa para nos manter motivados no meio de um plano de trabalho, quando o entusiasmo está começando a diminuir.
Mesmo no trabalho, onde parece que devemos ser totalmente sérios, analisando riscos constantemente, ainda precisamos tentar novas maneiras de fazer as coisas. E especialmente nesse momento é muito importante que permaneçamos curiosos, de mente aberta e até energizados durante tempos difíceis. Ou seja, descontrair é sempre essencial.
3. A descontração pode nos lembrar do que torna o trabalho significativo
Idealmente, o trabalho deveria ser mais significativo, ou seja, ser uma via de conexão com alguns dos nossos prazeres. Quer venham da sensação de limpeza e ordem que desfrutamos ao aperfeiçoar uma planilha com perfeição ou do prazer que sentimos ao ver outra pessoa se beneficiar de algo que produzimos ou aperfeiçoamos, prezar pela descontração pode ajudar a nos reconectar com a alegria de uma maneira que é tão instrutiva quanto ao que podemos ganhar em nosso trabalho. É com essa leveza que o trabalho pode nos apontar na direção certa.
Gregos antigos: os primeiros exploradores da descontração na vida adulta
A posição ideal da descontração na vida foi explorada pela primeira vez pelos gregos antigos. Entre todos os seus deuses, dois eram especialmente importantes para eles. O primeiro foi Apolo, Deus da razão e da sabedoria, que se preocupava com a paciência, o rigor, o dever e o raciocínio lógico. Ele presidiu aspectos do governo, comércio e o que hoje chamaríamos de ciência. Mas havia outro Deus muito importante, uma figura diametralmente oposta. Os gregos o chamavam de Dionísio, alguém que se mantinha preocupado com a imaginação, a impaciência, o caos, a emoção, o instinto e brincar.
O ‘dionisíaco’ envolvia sonhos, libertação e um relaxamento das regras estritas da razão. É importante ressaltar que os gregos não achavam que qualquer vida pudesse ser completa sem uma combinação dessas duas figuras. Tanto Apolo quanto Dionísio tinham suas reivindicações sobre vidas humanas, e cada um poderia gerar mentes perigosamente desequilibradas se mantivessem o domínio não diluído.
Pessoas descontraídas agregam diversão e humor para o trabalho e contribuem para um clima mais leve e agradável para a equipe. Então, da próxima vez que você escutar ou pensar em falar a frase “Acabou a brincadeira!”, pense nos gregos, em seus deuses Apolo e Dionísio e na importância de abraçar esses dois lados da vida. Escolha o humor de maneira consciente e, certamente, terá mais chance de ter dias melhores.
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