m dos temas que mais trabalho com meus clientes, especialmente, os CEOs é o “legado”. Aprendi a sua importância quando fiz minha última transição de carreira, migrando de uma posição executiva para o meio acadêmico.
Por conta dos movimentos naturais do mercado, a maior parte dos projetos que havia conduzido, e que muito me orgulhava, tinha sido, digamos, desconstruída. A empresa que deixei foi comprada por um grupo norueguês e as práticas de planejamento estratégico e gestão de talentos passaram a ser modeladas pelo corporativo.
Apesar de não ter vivenciado esse momento, pude acompanhar via mensagens e relatos de colegas que lá ficaram, e isso não fez diferença, porque sofri como se ainda estivesse por lá. Naquele momento, entendia que minha dor era oriunda do fim do meu legado.
Há pessoas que, apesar de terem uma passagem rápida por nossa vida, plantam uma “sementinha” para uma contribuição bem considerável. Pois é, uma dessas pessoas, em uma apresentação que fiz sobre um dos projetos mais significativos em minha carreira, notou o quão eu estava inconformada por saber que o tal projeto não existia mais.
Essa pessoa simplesmente comentou: “Luciana, você pensa que esse projeto é o seu legado, mas para mim, o seu legado é quando eu, por pura coincidência da vida, sou chamado para fazer um trabalho em alguma empresa e me deparo com uma pessoa que fez parte do seu time, e eu vejo nela uma “pitada” de Luciana, uma bela “pitada”, que aparece por meio de comentários pertinentes, análises profundas, capazes de mudar uma realidade!”
Naquele momento, me dei conta do que seja, de fato, o legado. Naquele momento, muita coisa se encaixou e essa sensação de sentido do trabalho perdurou. Mas, como sempre tende a acontecer comigo, precisei de mais, de mais conhecimento, entendimento e sentido sobre o legado.
Percorrendo diversos caminhos, fui coletando um pouco daqui e dali, como num mosaico, e entendo hoje que, se em sua etimologia, legado tem a ver com o cumprimento de uma missão, também tem a ver com escrever sua história. Conversando com um dos personagens de Stephen King, entendi que grande parte da beleza das histórias tem a ver com a narrativa dos personagens. Logo, legado tem a ver com a missão, mas também com sua narrativa. Também tem a ver com conexão e intencionalidade, porque nada do que fiz foi solitário; pelo contrário, sempre teve muita gente envolvida, unida não por um objetivo, mas por uma intenção muito forte, sim, uma missão, válida por ela própria! E, talvez, tenha a ver com permanência. O legado parece, de alguma forma, ter a ver com temporalidade — ou seja, ele não é o que foi feito, e sim com o que foi deixado dentro das pessoas e que perdurará até que faça sentido e seja reconhecido por elas.
Diante dessa perspectiva, fico pensando sobre os legados em dimensões mais amplas, tais como os das práticas de gestão de pessoas…. então, deixo aqui minhas provocações: você já parou para pensar sobre o seu legado? Ao fazer isso, sua perspectiva é mais profissional ou pessoal? Pensa em legado coletivo ou individual? Te convido a compartilhar comigo seus legados. Em tempos tão turbulentos, sem dúvida esse exercício é capaz de nos manter mais “sóbrios”.