“Palavras, pequenas, palavras, apenas. Palavras…”
Cássia Eller entoava esses versos que tanto embalam minhas reflexões sobre o efeito das palavras nas relações e no contexto em que vivemos, seja no trabalho ou em outras esferas da vida.
E, para muitas pessoas, as palavras são ditas sem intenção, sem ao menos imaginar que elas podem reafirmar estereótipos e pré-julgamentos.
Pessoal chão de fábrica, macaco velho, a gordinha do TI, o nerd do financeiro, LGT… esse monte de letras, tudo refugiado, essas domésticas… e a lista só aumenta.
Com uma pitada de empatia, trocamos por pessoal da linha de produção, pessoas experientes, pessoa do TI, pessoa do financeiro (ou o nome da pessoa), LGBTQIA+, pessoas refugiadas, as profissionais da limpeza.
Ao fazer essas mudanças, notamos que não são palavras apenas. Representam ações que se conectam com visões de mundo, hábitos de nomear que se naturalizam pela experiência, em círculos de convivência, por vezes, pouco diversos. Um fenômeno chamado “referenciação”, amplamente pesquisado por diversas linhas teóricas na linguística e em outras áreas de pesquisa.
Não, os preconceitos não somem por causa da ação na linguagem. Essa mudança não é efetiva se não for acompanhada por ações e transformações no mundo, como bem pontuam os linguistas Anna Christina Bentes, Edwiges Morato e Kanavilil Rajagopalan.
De todo modo, a reflexão, a discussão e o sair do automático que o dito “politicamente correto” proporciona já são, em si, um ganho. Afinal, “intervir na linguagem significa intervir no mundo” (Rajagopalan).
Mudanças de palavras, apenas, já podem transformar comportamentos. Como evitar que situações como estas ocorram:
Um profissional com mais de 20 anos de empresa está numa reunião de equipe. Um dos colegas fala sobre a influência da IA nos processos da empresa. Eis que diz: ah, peraí, deixa eu explicar para a turma mais velha o que é, porque pra quem é mais novo é mais fácil de entender isso.
Na chegada a um evento, uma palestrante negra vai fazer sua credencial. A pessoa que a recebe pergunta: você veio para a modalidade gratuita do evento?
Não é mimimi. É adotar uma postura de ver a pessoa antes de qualquer rótulo, estereótipo, pré-julgamento. Romper um círculo vicioso de microagressões, que tanto prejudicaram a inclusão efetiva e o espaço aberto de diálogo e respeito. Olharmos por trás de cargos e classificações e vermos a humanidade da outra pessoa.
Empresas com a cultura de manter as pessoas em primeiro lugar têm muito a ganhar com diálogos abertos, respeito e inclusão, a começar pelo espaço de segurança psicológica criado com isso.
Experimente rever suas palavras. Não são palavras apenas. São mundos de conexão e respeito que se abrem.