“Outro dia ficou fora do ar e eu me perguntei como trabalhar…”
“Já não sei mais ficar sem…”
“Tenho feito até roteiro de viagem e aula de inglês com IA.”
Essas são algumas frases que me marcaram recentemente, em conversas com profissionais de diferentes áreas, sobre o uso de IA generativa, como ChatGPT, Gemini e tantos outros disponíveis.
Ao mesmo tempo, já ouvi frases como:
“Mas você percebe quando alguém escreve usando IA?”
“Será que não tem mesmo vieses em IA? E a ética como fica?”
“Vamos ficar mais ou menos inteligentes, usando IA?”
E, nas grandes organizações, a discussão vem ocorrendo, até para decidir se vão ser criados modelos exclusivos para garantir a confidencialidade, se e em que contexto incentivar ou autorizar o uso – assim como há as que adotam com a maior euforia do mundo, como se todos os problemas fossem ser resolvidos.
Tamanho é o interesse em entender como as pessoas têm (re)agido nesse mundo com IA que a Microsoft e o LinkedIn publicaram recentemente uma pesquisa sobre o uso da inteligência artificial no ambiente de trabalho.
No estudo, 31 mil pessoas foram entrevistadas, em 31 países, incluindo o Brasil. Dentre os dados, três em cada quatro profissionais utilizam IA no seu dia a dia, facilitando tarefas, aumentando a criatividade e permitindo que as pessoas foquem no que realmente importa. No entanto, muitas pessoas têm medo de admitir que usam IA, receosas dos julgamentos das pessoas e até de que suas funções possam ser vistas como substituíveis pela tecnologia.
Essa preocupação é compreensível diante do novo. Resistir é um dos muitos comportamentos diante de algo que impacta nossos valores, nossos comportamentos e nossas relações com o que fazemos e com quem convivemos.
Mas é importante ressaltar que, no Brasil, temos pouco letramento digital, isto é, consumimos muito conteúdo, mas ainda precisamos entender mais sobre sua lógica de produção e como interpretar o que chega até nós. Os dados dizem muito sobre isso:
- Ocupamos o segundo lugar no ranking mundial de uso de telas (Electronics Hub, 2024), com média de 9 horas e 13 minutos por dia na frente de algum dispositivo, atrás apenas da África do Sul;
- Estamos em último lugar em uma pesquisa sobre a capacidade de identificar conteúdos falsos na internet (‘Questionário da Verdade’, OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Segundo os dados da pesquisa, muitos adultos brasileiros têm dificuldade em discernir se uma notícia online é verdadeira ou não;
- Enquanto 85% das pessoas no Brasil têm o hábito de se informar pelas redes sociais, 30% da população do Japão, da Alemanha, do Reino Unido e da Finlândia buscam informações nessas fontes.
Não tem opção: o mundo será assim
Como bem afirmou Carla Zotini em sua palestra no Summit de Segurança Psicológica, não teremos a opção de viver num mundo com ou sem IA, assim como não temos a opção de, hoje em dia, fazer cirurgias com ou sem anestesia.
Mas diante de novas linguagens, novos modos de produção de conteúdos, constantes mudanças e hiperconectividade, é ainda mais valioso desenvolvermos pensamento crítico, sermos curadores do que acessamos, interpretarmos as informações com base no contexto em que ela é produzida e veiculada, sermos poliglotas na linguagem que circula em tantos canais e situações de interação.
Senão, nos restará uma posição de consumo passivo de conteúdos, um uso a partir de uma perspectiva ou apaixonada demais, dependente demais ou cética demais. O “ou” que nos coloca em posições opostas não contribui para o aumento do letramento e do uso consciente e criterioso dessa e tantas novidades que ainda estão por vir.
Estar em contato com IA, informar-se, debater com as pessoas, experimentar para diferentes finalidades é uma das atitudes mais alinhadas à mentalidade de aprendizado por toda a vida. Ainda que gere desconfortos, que provoque confrontos com valores ou que nos coloque como aprendizes. Mas, sabendo se comunicar com ela e sobre ela, tudo fica mais fácil.
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