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Vívian Rio Stella

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Doutora em Linguística pela Unicamp. Idealizadora, curadora e professora da VRS Academy, pesquisa e desenvolve trabalhos voltados à lifelong learning
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Não vivemos longe do celular. O que isso tem a ver com comunicação?

O tempo excessivo de telas prejudica nossa concentração, a capacidade de contemplação e de nos comunicarmos adequadamente. Há escapatória?

Por Vívian Rio Stella, colunista da VOCÊ RH
7 mar 2024, 18h32
Imagem de uma bateria com baixa carga.
 (MirageC/Getty Images/Reprodução)
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Houve um tempo em que eu começava alguns cursos fazendo a seguinte dinâmica para quebrar o gelo: pedia às pessoas que dissessem um objeto sem o qual não saíam de casa. Nesse momento, o silêncio imperava. Então, para instigar as pessoas a começarem, eu dizia: “Não pode repetir objeto. Se uma pessoa falar algo, as demais não poderão mais dizer o mesmo”.

Prontamente duas ou três pessoas já se adiantavam em dizer: “Meu nome é Fulano, o objeto é meu celular”. Zero surpresa. As demais pessoas ficavam atônitas pensando qual objeto poderiam indicar. O curioso – e esperado – é que as coisas mais divertidas e criativas eram ditas pelas últimas pessoas da rodada de apresentações.

Hoje em dia, invisto em outras estratégias, até porque eu despertaria sentimentos de indignação ao permitir apenas uma menção ao celular. Porque somos cada vez mais dependentes dele, seja para estar em contato com as pessoas, para pagar contas ou para acessar o cardápio do restaurante.

A questão não é o objeto em si, mas o uso que fazemos dele. E eu, sinceramente, espero que essa frase não te faça abandonar a leitura do texto, com a justificativa de que “todo mundo está ultraconectado”. Afinal, nem todo mundo está: 64,4% da população mundial está online, segundo a pesquisa Digital 2023: Global Overview Report da Data Reportal.

Mas a sensação de que todos estão nas redes é válida: em um ranking de 45 nações, o Brasil é o segundo país que gasta mais horas diante de telas (atrás da África do Sul). Calcula-se que brasileiros de 16 a 64 anos gastem em média 9 horas e 32 minutos na internet. Os americanos gastam 6h59. Os alemães, 5h12; os japoneses, 3h45.

O que isso tem a ver com comunicação?

Tudo. Estamos distraídos demais para ouvir o que as outras pessoas têm a nos dizer, para sair do “modo produtividade” e entrar num modo contemplativo da vida, nem que seja em algum momento do nosso dia.

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Temos dificuldade em dizer “bom dia” para as pessoas que cruzam nosso caminho, mas a primeira coisa que fazemos ao acordar é dar bom dia para o nosso celular.

Estranhamos quando uma pessoa não está com o celular na mão em uma fila. Normalizamos até que as pessoas reunidas em uma mesa, estejam cada uma em seu celular. Temos pressa para acabar logo a reunião, a aula, a conversa, porque sempre temos outro compromisso agendado. 

Abrimos várias abas do navegador no notebook ou desbloqueamos o celular mais de 20 vezes por hora, enquanto uma pessoa apresenta um projeto importante, em que várias pessoas dedicaram meses para chegar àquele resultado.

Sem falar no quanto ficamos impacientes com conversas difíceis. É melhor até que elas não aconteçam, caso possamos escolher. Porque essas conversas tomam tempo, exigem foco.

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Existe esperança? 

Ainda que eu tenda ao pessimismo, uso desse desconforto para agir – e incentivar pessoas a fazerem a mesma coisa.

Que tal acompanhar os relatórios de tempo de uso do seu celular, para aumentar sua compreensão do quanto isso toma o seu escasso tempo? Faça isso semanalmente, como quem se pesa na balança para acompanhar se a dieta tem surtido efeito.

Caso sinta necessidade, como eu senti, estabeleça limites de tempo para uso de aplicativos que mais consomem sua atenção, inclusive horário limite de uso. Eu, por exemplo, programei meu celular para bloquear os aplicativos a partir das 22h30, para dormir mais cedo e em paz. Ainda acho que cabe uma melhoria, mas é um processo.

Essas pequenas ações podem ter um impacto positivo para baixar a ansiedade e o estado permanente de alerta que nos assolam e tanto prejudicam a comunicação.

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Arranjar tempo para viver fora das telas é um dos grandes desafios que enfrentamos. Porque é no convívio social, sem o celular como centro da atenção, que a escuta ativa, a empatia, os diálogos e o respeito às diferenças efetivamente ocorrem. 

A vida no feed ou nos streamings pode ser divertida e curiosa, mas parece contribuir para a piora da comunicação – e das relações. Estar sempre ocupado com a tela na mão pode nos levar a perder o melhor da vida.

E se você chegou ao fim deste texto, parabéns: o excesso de telas também está impactando a leitura. Mas isso é assunto para outro texto.

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