Os problemas do modelo “nem home, nem office”
Novo modelo exige práticas de gestão que se pautem por colaboração, autonomia e clareza na definição de metas e resultados
emanas de 4 dias de trabalho, fim de avaliações por desempenho anuais, redução ou remodelação dos espaços físicos dos escritórios, adoção de ferramentas digitais colaborativas. Essas são algumas das mudanças que as empresas têm implantado com o retorno aos escritórios ou com o modelo híbrido, desde que a pandemia parece ter nos dado uma trégua.
Embora esse cenário pareça muito favorável quando lemos guias criados pelas organizações, em posts no LinkedIn e artigos na imprensa de negócios, especialmente porque nos promete produtividade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional, há muitos desafios na prática.
Isso porque o “nem home, nem office” (emprestando o título do ótimo livro de Tiago Alves) requer adotar práticas de gestão que se pautem por colaboração, autonomia e clareza na definição de metas e resultados. E, por menos novas que possam parecer essas atitudes, não há nada mais moderno do que desapegar de abordagens que só fazem sentido quando as pessoas trabalham no mesmo tempo e espaço físico.
Essa contradição dos velhos novos problemas fica mais clara quando paramos e nos perguntamos:
- Por que seguimos com a agenda repleta de reuniões (online ou presenciais) em que parte das pessoas está ali mas mal sabe o porquê?
- Por que ainda associamos produtividade com agenda tomada por compromissos, sem espaço para criar, elaborar, aprender e inovar?
- Por que seguimos com mensagens espalhadas por diversos canais de comunicação, gerando mais ruídos do que entendimento e agilidade?
- Por que ferramentas colaborativas de gestão ainda são uma novidade em meio ao volume de e-mails e mensagens no whatsapp?
- Por que reconhecemos a necessidade de aprender e inovar, mas nem sempre encontramos condições reais para experimentar, errar, refletir, conversar e remodelar?
Talvez todos esses e muitos outros por quês se devam a três fatores (entre outros): mindset ainda de controle e não de colaboração; ausência de planejamento estratégico condizente com o modelo híbrido; práticas enraizadas na cultura organizacional e na sociedade como um todo.
E precisamos analisar esses por quês (ou tantos outros que você enfrente no cotidiano), conversar a respeito deles para construir junto estratégias de comunicação, liderança engajada e tecnologia da informação que façam sentido e sejam coerentes com a cultura atual ou em transformação da empresa.
Caso contrário, vivenciaremos um trabalho “nem home, nem office” que só reproduz abordagens tradicionais, apenas com um novo nome, um novo layout ou novas ferramentas de (des)conexão. Como consequência, seguiremos os velhos novos dilemas: falta de engajamento, falta de inovação e falta de produtividade.
Uma sugestão mais valiosa do que listar três ou cinco formas de implantar uma gestão híbrida efetiva (até porque não existe um único modelo eficiente a ser seguido): depois de ler este texto, que tal procurar perceber o modelo híbrido pela perspectiva das pessoas que fazem parte do seu cotidiano? Pergunte:
- O que vem funcionando no modelo de trabalho adotado: home, office, “nem home, nem office”?
- O que tem causado incômodo? Por que esse incômodo ocorre?
- Quais práticas poderiam ser adotadas?
- Onde se quer chegar ou que resultados espera-se obter com essas novas práticas?
Tenho certeza de que você vai aprender muito com as respostas e vai achar brechas e caminhos para propiciar mais colaboração, produtividade e inovação. Ouse experimentar, ouse perguntar.