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Vívian Rio Stella

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Doutora em Linguística pela Unicamp. Idealizadora, curadora e professora da VRS Academy, pesquisa e desenvolve trabalhos voltados à lifelong learning
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Quem usa as canecas e camisetas que ganha da empresa?

Dar voz e visibilidade para pessoas dos mais diferentes perfis na companhia, não apenas aos extrovertidos, é uma prática que deve ser diária

Por Vivian Rio Stella, colunista de VOCÊ RH
Atualizado em 6 mar 2023, 16h52 - Publicado em 6 mar 2023, 16h52
Homem com camiseta branca e calça creme está em frente a um muro com grafite
 (Jake Marty/Unsplash/Divulgação)
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O

s kits de boas vindas entregues no onboarding de colaboradores ou no kick-off de jornadas, projetos e eventos estão cada vez mais repletos de itens, de caneca a camiseta, passando por velas, placas divertidas e outros elementos criativos.

Não precisa estar em uma organização para conhecer esses kits. Basta acompanhar o feed das redes sociais para ver postagens, com mensagens positivas sobre a empresa, seja pela acolhida inicial, pelo evento impecável, seja pelo início de um novo desafio ou projeto.

Mas o que vem depois desse momento de paixão à primeira vista? Quem segue usando a camiseta da empresa num fim de semana entre amigos? Quem usa a garrafinha de água da empresa e sente aquele gostinho bom de pertencer?

Essa reflexão inicial não tem o objetivo de criticar essa prática de kits, usada há muitos e muitos anos.

Lembro de ser adolescente e amar as bolsas de brinde da empresa em que meu pai trabalhou por trinta anos. Lembro de um fim de ano na praia em que todas as pessoas (família e amigos) usavam a camiseta e a toalha da marca recém-lançada da empresa a que meu pai dedicou boa parte de sua vida. E quanta dedicação! Em casa, só usávamos as marcas da companhia (nada da concorrência entrava lá), não por política, mas por conexão total com a empresa.

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Pois bem, é sobre essa conexão que precisamos falar. Algo que não tem técnica ou magia, mas sim muita dedicação e diálogo com diferentes perfis de profissionais na empresa.

Quantas vezes os brindes são direcionados a certos públicos da organização, que nem sempre veem sentido ou valor no evento, projeto ou nos itens escolhidos para simbolizar a marca. E tantos outros públicos sequer são vistos, ouvidos, muito menos presenteados, com mais recursos, com um evento feito por e para essas pessoas, com um projeto que melhoraria o desempenho ou envolvimento, com uma visita da sede lá naquela unidade tão tão distante, com ou sem kit.

As tentativas de chegar a esses públicos pouco vistos e ouvidos, por vezes, são ineficientes. Um link de pesquisa enviado num canal pouco usado pelas pessoas ou um exemplo que pouco representa a realidade local pode ser aquele presente que não sabemos o que fazer, como usar, e o deixamos de lado. Ou aquele relacionamento que já está esfriando…

Quem idealizou acha que aquele público não entende o que a empresa precisa, o público não se sente parte da empresa. E assim entramos naquele ciclo vicioso, em que senso de pertencer, envolvimento, reconhecimento e compartilhamento são impactados. Daí para o fim do amor é um pulo.

Quando levo essas reflexões para as conversas sobre influenciadores, multiplicadores e curadores internos nas empresas, ouço diversos relatos. São tentativas de encontrar respostas rápidas para identificar e potencializar vozes diversas nas empresas.

O fato é que precisamos atuar mais como etnógrafos das empresas onde atuamos, para capturar práticas, linguagens, rituais e símbolos. Assim, daria para ver por que as costureiras da fábrica de roupa não abrem o link de pesquisa de clima da empresa, por que lideranças locais insistem em reter informações depois de participar de um super evento na sede da empresa, de que forma a força de vendas pode propor fragrâncias e aromas mais aderentes ao público do que a área de marketing supõe (uma rixa quase histórica que vejo desde os tempos do meu pai também).

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Dá mais trabalho. Sempre dá. Dialogar, observar, perceber, questionar, dar voz e visibilidade para as pessoas dos mais diferentes perfis da empresa (não apenas as pessoas ditas extrovertidas ou afeitas às redes sociais) são os desafios da conquista, que é feita no dia a dia, não apenas em um ou outro encontro.

Mas um desafio que abre novas frentes de atuação, contribui para o crescimento das pessoas e dos negócios, constrói relacionamentos saudáveis e pode tornar, inclusive, os kits mais efetivos, em termos de identificação, significado e portanto, conexão entre pessoas e empresas.

E desafios não precisam depender se ações grandiosas. Que tal arriscar saber quem usa a camiseta ou a caneca da empresa, sem mandar link, olhando pelos espaços de convivência da empresa? Encontrou o item do kit? Pare, converse, ouça, perceba o que há ali que faz com que a pessoa siga usando aquele objeto. Pode parecer só um item, mas também pode ter uma história de amor ou uma boa conversa para abrir caminhos para novas práticas.

Experimente.

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