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Vívian Rio Stella

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Doutora em Linguística pela Unicamp. Idealizadora, curadora e professora da VRS Academy, pesquisa e desenvolve trabalhos voltados à lifelong learning
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Ser crítico não é sentar-se na cadeira do cancelamento

Após um longo período de trabalho remoto, ficamos menos tolerantes – e parece que julgar nos convém mais do que fazer acontecer.

Por Vivian Rio Stella, colunista de Você RH
Atualizado em 6 jul 2023, 17h07 - Publicado em 6 jul 2023, 14h58
No primeiro plano, um homem de camisa social está sentado de lado e aponta para algo na sua frente. No segundo plano, uma mulher observa o que está sendo apontado por ele
 (Pexels/Jack Sparrow/Divulgação)
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G

raças a eventos presenciais, encontros com pessoas de diferentes círculos de convivência e viagens, já ouvi diversos comentários de fora da minha bolha. Se eu ainda estivesse no modo de trabalho remoto, isso provavelmente não aconteceria.

Circular por aí significa muito. Permite ouvir conversas entrecortadas, passar por novos ou conhecidos lugares e se deparar com diferentes olhares e visões de mundo. Isso, claro, se você estiver no aqui e agora. E não no modo avatar, andando conectado com o mundo virtual ao alcance dos dedos no celular.

Mas é curioso também como o aparente grau de exigência das pessoas aumentou. Nada parece ser tolerado e tudo parece estar sob vigília, para capturar o erro inaceitável de quem está diante de nós. Não à toa, as pesquisas sobre o papel do erro na inovação e na aprendizagem demonstram que as pessoas temem muito mais errar do que atuar em modo multitarefa e sob pressão.

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E basta o mínimo desvio para generalizar, rotular e categorizar. De esquerda, com preconceito, cheia de privilégio, sem lugar de fala, criativa, bem-sucedida, acomodada, geração sabe-se-lá-que-letra, motivada ou sem engajamento…

Mais curioso ainda é observar que quem mais profere esses julgamentos, embalados como se fosse visão crítica sobre as coisas, tende a ser pessoas que não estão sob os holofotes, não colocam a mão na massa, não estão lá no corre do dia a dia fazendo acontecer – e sim em suas confortáveis posições de comentadoras de tudo e todos. Afinal, tomar decisões, fazer escolhas, negociar, renunciar ou reforçar valores e caminhos é de uma responsabilidade tamanha que há quem se esquive disso a todo custo. Já opinar sobre pautas quentes, ah, isso engaja muito, gera seguidores, mostra posicionamento!

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Um contra-senso em tempos de empatia, escuta, autocuidado e outros conceitos tão simbólicos estampados em camisetas, postagens, slides de palestras e capas de livros. E assim vamos criando rótulos identitários para pessoas que mal conhecemos, cujos repertórios de vida mal nos aproximamos e com quem pouco dialogamos.

Se tivéssemos aprendido a vivenciar esses conceitos tão caros às relações humanas, agiríamos mais como arqueólogas e arqueólogos das situações, como pessoas que investigam mais antes de proferir opiniões, que analisam de onde vem uma afirmação ou, simplesmente, embarcaríamos na experiência proposta sem colocar o julgamento como lente avaliativa. E, acima de tudo, compreenderíamos que estar à frente de uma equipe, uma empresa, um palco ou qualquer instituição requer muita coragem, infinitas escolhas e renúncias. 

Te convido a refletir sobre o que escrevi neste texto-desabafo, de alguém que tem ouvido muito, lido mais ainda, exercitado o sair das bolhas e percebido que há muito mais pessoas se valendo de sua capacidade de criticar, julgar e comentar sem embasamento, do que de analisar e exercitar realmente seu pensamento crítico.

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