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A importância da aprendizagem ativa nos treinamentos corporativos

Ir contra o padrão, a tradição, o conservadorismo é uma batalha necessária não só na arte, mas também na educação

Por Lígia Velozo Crispino, sócia-fundadora da Companhia de Idiomas
24 mar 2022, 11h36
Uma mulher está sentada enquanto olha para um caderno, concentrada, e segura um lápis
 (Pexels/Antoni Shkraba/Divulgação)
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A

nita Malfatti era tímida e se considerava feia, desajeitada, por causa de uma atrofia. Ela tinha uma deformação congênita em sua mão direita, que sempre disfarçava com um lenço. Mesmo assim, pintava incrivelmente bem!

Em 1916, depois que voltou de um período de estudos na Europa e Estados Unidos, Anita foi incentivada pelo pintor Di Cavalcanti a expor sua obra. Por falta de galeria de arte para isso, ela expôs seus 53 quadros no segundo andar de um sobrado na rua Líbero Badaró, no centro de São Paulo. Porém, sua exposição causou polêmica e chocou os conservadores que apreciavam a pintura realista, acadêmica. Monteiro Lobato escreveu um artigo com críticas duras, chamando a mostra de “paranoia ou mistificação”. Já Mário de Andrade adorou e se tornou seu amigo.

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A verdade é que a mostra de Anita plantou a semente de questionamento dos novos caminhos da arte. Ela, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e outros artistas e intelectuais começaram encontros que culminaram com o projeto da Semana de Arte Moderna de 1922 no Theatro Municipal, entre os dias 13 e 18 de fevereiro. Foram apresentações de diversas expressões artísticas: música, poesia, pintura, dança etc.  Esse ano foi bastante simbólico porque era o primeiro centenário da Independência do Brasil e o país estava passando por muitas mudanças sociais, políticas e econômicas. O impacto da Primeira Guerra Mundial, que tinha acabado em 1918, ainda era recente.

Agora estamos em 2022, centenário da Semana de Arte Moderna e segundo centenário da Independência. Estamos saindo – esperamos – de uma pandemia que mudou nossa forma de viver e presenciando uma guerra absurda na Ucrânia.

Ir contra o padrão, a tradição, o conservadorismo é uma batalha necessária na vida, não só na arte! No segmento de ensino e aprendizagem, no qual atuo há muitos anos, tem havido muitas mudanças reais, finalmente! A metodologia passiva, na qual os alunos acompanham o conteúdo dado pelo professor, por meio de aulas expositivas, colocando o professor como protagonista e detentor do conhecimento, representa o conservadorismo.

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O equivalente da revolução que trouxe a Semana de Arte Moderna para as artes são as Metodologias Ativas para a aprendizagem. Na verdade, a aprendizagem ativa é estudada desde a década de 90, por autores como Bonwell, Eison, Barnes e tantos outros, que defendem um ambiente adequado, diferentes interações e estratégias de ensino/aprendizagem. Com o isolamento e o ensino tendo de ser online ao vivo da noite para o dia, escancarou a necessidade de mudanças profundas na educação e as metodologias ativas passaram a ser avaliadas e adotadas por muitas escolas.

Estes são alguns dos elementos das metodologias ativas:

  • O protagonismo é do aluno. O professor deixou de ser o apresentador e seu papel é imprimir o ritmo.
  • Teoria do psiquiatra americano William Glasser para explicar como as pessoas geralmente aprendem e qual a capacidade de retenção:

Método de Aprendizado Passivo

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10% ler

20% escrever

50% observar e escutar

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Método de Aprendizado Ativo

70% discutir

80% praticar

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95% ensinar

  • Conteúdo online disponibilizado em Ambientes Virtuais de Aprendizagem, permitindo atividades interativas, acompanhamento do aproveitamento dos alunos e atualizações constantes.
  • Aula invertida (Flipped Class). Os alunos se preparam para as aulas online ao vivo com o professor. Estudam o conteúdo através de recursos variados, como vídeos, imagens e textos nos mais diversos formatos e realizam exercícios. Afinal, cada um tem um jeito de aprender, um tempo para fazer os exercícios escritos e orais através da gravação de vídeos.
  • O ensino híbrido (blended learning) combina atividades com e sem o professor, com o uso de tecnologia. Dessa forma, possibilita que os alunos estudem sozinho, e em sala de aula, com o professor.
  • aprendizagem baseada em projetos (ABP) ― project based learning (PBL) ― tem por objetivo fazer com que os alunos adquiram conhecimento através da pesquisa, preparação de um tema de interesse ou definido pelo professor.
  • Microlearning – pouco tempo de estudo autônomo, mas com regularidade, ou seja, estudo em doses homeopáticas.
  • Aprendizagem colaborativa – atividades, fóruns, debates em grupos diversos.

São elementos que conflitam com as crenças “escolarizantes” de comando e controle que estão impregnadas na mente dos alunos de escolas tradicionais e, principalmente, na mente dos professores. As pessoas criticam e têm medo do novo, do diferente. Elas recusam “o que não é espelho”, segundo Caetano Veloso, cantor e compositor que surgiu com o Tropicalismo, influenciado pelo Movimento Modernista. Esse é um comportamento reativo natural do ser humano.

Anita Malfatti foi criticada por suas pinceladas divergentes dos padrões acadêmicos da época. A crença “escolarizante” do escritor Monteiro Lobato, no artigo do jornal O Estado de S. Paulo de 2017, o fez criticar as formas distorcidas e abstratas representadas nas obras da Anita e outros modernistas, como sendo fruto de “cérebros transtornados por psicoses” e defendeu a arte tradicional da época.

Ler o que ele escreveu há mais de 100 anos só reforça o pensamento de o que nos trouxe até aqui não é o que nos levará adiante!

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