esquisa realizada pela plataforma de currículos ResumeLab em 2022 mostra que 80% dos entrevistados têm pelo menos um colega de trabalho considerado “terrível” — para 83%, essa situação causou impacto negativo no próprio desempenho.
Outros estudos, como o “The Price of Incivility”, publicado na Harvard Business Review, demonstram que dividir o ambiente corporativo com alguém difícil pode reduzir a performance, diminuir a criatividade e a inovação, gerar descomprometimento, aumentar o estresse e afetar de forma negativa a saúde física e mental. Mas já parou para pensar o que torna alguém “difícil”?
“Durante minha participação no SXSW 2023, maior festival de inovação do mundo, me chamou atenção a palestra ministrada por Amy Gallo, autora do livro Getting Along: How to Work with Difficult People”, afirma Maria Eduarda Silveira, sócia-fundadora da consultoria Bold HRO. “A apresentação levantou importantes reflexões: geralmente os outros que são intitulados como difíceis de lidar, podem também ser nós mesmos. Essa autoavaliação faz toda a diferença na forma como os relacionamentos são conduzidos.”
“Amy Gallo destaca que o difícil é relativo. Com exceção de casos de assédio e condutas tóxicas que devem ser notificados para a devida intervenção, as percepções cotidianas dos colegas de trabalho podem ser enviesadas por opiniões individuais e pela nossa própria perspectiva. É preciso ponderar se o que o incomoda no outro está ligado a algo que conflita nossos interesses ou traz uma perspectiva a qual não estamos tão acostumados”, diz Maria Eduarda.
“Discordar, no entanto, não é algo necessariamente ruim. Perspectivas diferentes trazem novas contribuições e devem ser consideradas com integridade e respeito. Empresas são formadas por pessoas com histórias, pensamentos, repertórios e comportamentos diferentes que somente funcionam em sinergia quando a cultura organizacional, em seu conjunto de valores, crenças, normas e comportamentos, reconhece essa pluralidade e mantém uma comunicação aberta entre os colaboradores”, afirma a executiva.
“Vale ressaltar que a cultura da empresa também está relacionada ao clima organizacional, ou seja, a como os indivíduos se sentem em relação ao ambiente de trabalho. Ter uma gestão que se preocupa com a qualidade de vida do seu público interno faz toda a diferença em um contexto no qual o Brasil é o segundo país com mais casos de burnout no mundo, de acordo com dados da International Stress Management Association (Isma)”, diz.
“Embora não exista a necessidade de ‘forçar’ amizades com colegas, o bom relacionamento profissional já contribui para a prevenção dos sintomas de estresse e esgotamento corporativo.” Veja, a seguir, seis sugestões de Maria Eduarda inspiradas no painel do SXSW para desconstruir os problemas interpessoais no trabalho.
1. Desenvolva a autoconsciência
Você também pode ser uma pessoa difícil na ótica de outra pessoa — o que incomoda no outro pode ser um espelho da sua própria conduta. Busque por feedbacks honestos sobre como você se comporta no dia a dia e que impacto causa nos demais. Identifique seus limites e respeite-se, para conseguir antecipar provocações e evitar reações extremas, das quais pode se arrepender no instante seguinte. Esse processo de autoconsciência e autoconhecimento também faz parte da administração da inteligência emocional, fundamental para o fortalecimento da carreira.
2. Entenda o outro lado
Tente compreender em qual posição o seu colega se encontra no momento. Fatores pessoais ou situações de pressão no trabalho podem interferir no comportamento. Nesses momentos, a escuta deve ser praticada para evitar conflitos desnecessários e encontrar melhores formas de resolver as pendências, o que muitas vezes exige que opiniões sejam deixadas de lado em um primeiro momento. Por outro lado, caso a situação perdure, resta aceitar que você não pode controlar o comportamento dos outros e que as ações não devem ser levadas para o lado pessoal.
3. Trabalhe com trocas, não com guerras
Não veja o colega como inimigo. Mesmo diante de desavenças, é preciso oferecer diálogos que permitam alinhar os pontos de vista e encontrar soluções para o trabalho em conjunto. Tentar prejudicar o outro ou rejeitar trocas podem tanto prejudicar a produtividade quanto gerar mais estresse.
4. Evite fofocas
A fofoca pode parecer uma maneira fácil de promover a interação entre os profissionais, mas é preciso se atentar para o motivo que leva a isso. É para acolher o próprio ego? Atacar algum colega? Há algum benefício nisso? Embora aparentemente inofensivas, fofocas podem construir um ambiente hostil que dificulta reconciliações e até mesmo o exercício da autoconsciência.
5. Aperfeiçoe suas soft skills
“As pessoas são contratadas pelas suas habilidades técnicas, mas são demitidas pelos seus comportamentos”. A famosa frase de Peter Drucker traz uma realidade ainda mais evidente com a priorização atual das chamadas soft skills, habilidades comportamentais com grande influência em como o profissional se relaciona com os outros e lida com as próprias emoções. Alguns dos principais exemplos são empatia, comunicação, adaptação e liderança.
6. Embarque na jornada do autodesenvolvimento
Reconhecer o que precisa mudar nas relações de trabalho é um grande passo para que a ideia de “pessoa difícil” deixe de tirar seu sono. O comprometimento consigo é a palavra-chave para quem pretende embarcar nessa jornada de transformação em busca de melhores relacionamentos do trabalho — e na vida.