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Como empresas podem acolher funcionárias com endometriose

A endometriose afeta atualmente 6 milhões de brasileiras, causando dores intensas e, por vezes, incapacitantes. Veja o que as companhias podem fazer

Por Letícia Furlan
Atualizado em 30 mar 2022, 15h04 - Publicado em 28 mar 2022, 06h33
Mulher com a mãos cobrindo o rosto.
 (Pexels / Kat Jayne/Divulgação)
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rofissionais e pacientes lutam para que a endometriose seja reconhecida pelo INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) por meio do Projeto de Lei nº 545. A discussão acontece no Senado Federal e, caso avance, trará benefícios para pacientes com a doença com sintomas incapacitantes, levando ao afastamento da vida produtiva sem maiores prejuízos. O acolhimento por parte das empresas também é peça fundamental para que funcionárias que enfrentam o transtorno consigam exercer o seu máximo desempenho na vida profissional.

O ambiente de trabalho é afetado, porque, em razão da doença, poderá haver faltas, causando à mulher uma sensação de constrangimento. Além disso, situações discriminatórias, mesmo que de forma velada, acabam resultando em rescisão do contrato de trabalho. Se aprovado o Projeto de Lei, o acesso dessas mulheres aos benefícios sociais pertinentes será facilitado, para que o tratamento adequado seja viabilizado, reduzindo o espaço discriminatório no ambiente laboral, que hoje existe até em grandes centros urbanos, independentemente do tempo de prestação de serviço, e afeta diretamente o posicionamento da mulher no mercado de trabalho”, afirma a advogada trabalhista Fernanda Evaristo, da BVA Advogados.

A enfermeira Tathiane Cruz, de 38 anos, viveu na pele a discriminação. Ela descobriu que tinha endometriose em 2010, quando se deparou com dificuldades para engravidar. “Procurei uma ginecologista que pediu exames mais específicos. No primeiro exame de vídeo foi diagnosticada a doença”, afirma. A dor era tanta que Tathiane tinha que ficar de cama, fora o sangramento intenso.

Hoje, apesar de mais controlada, a doença ainda está presente junto com suas sequelas. A enfermeira sofre com depressão e insônia, dores crônicas, incontinência urinária e precisa manter uma alimentação balanceada, já que perdeu todo o seu intestino grosso.

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Por causa das dores, foram várias as vezes que Tathiane se viu impossibilitada de trabalhar. “De 2010 para cá, quando a situação se complicou um pouco mais e recebi meu diagnóstico, tive uma alta taxa de absenteísmo na minha grade profissional”, conta a enfermeira. 

A falta de acolhimento por parte das organizações intensifica ainda mais o problema. “Por várias vezes, as empresas não entendem, não sabem o que é, não sabem como lidar”, afirma. “Pensam que faltamos ao trabalho por falta de comprometimento e somos taxadas como irresponsáveis.” Na empresa onde a enfermeira trabalhava, foi com o tempo que seus gestores passaram a compreender o que de fato era a endometriose — a compreensão da doença é peça-chave para o acolhimento de que as mulheres precisam. 

“A maioria não sabe o que é a endometriose e pelo que as mulheres passam. Geralmente, a doença é vista como uma cólica menstrual simples, mas ela é muito mais do que isso”, diz Tathiane. 

O que é a endometriose?

A endometriose é caracterizada pelo implante de um tecido semelhante ao que reveste a cavidade do útero em regiões fora do órgão. A doença pode causar infertilidade e dor durante a evacuação ou a micção, antes ou durante o período menstrual e nas relações sexuais.

Sem cura definitiva, se bem tratada e diagnosticada cedo, ela pode ser bem administrada. Os tratamentos dependem dos sintomas e do estágio da doença, afirma Maurício Abrão, ginecologista da Faculdade de Medicina da USP, presidente da Associação Americana de Ginecologia Laparoscópica e coordenador do setor de Ginecologia Avançada da Beneficiência Portuguesa.

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A paciente pode fazer consultas periódicas, com indicação de ultrassom para descobrir se a doença está controlada. O médico pode sugerir, ainda, medicações e mudanças no estilo de vida, como comer melhor, praticar atividades físicas e evitar o estresse. Em casos mais graves, no entanto, a doença demanda uma laparoscopia para remoção dos focos da doença.  

O diagnóstico não costuma ser rápido, levando, em média, de 7 a 10 anos. E é importante procurar um especialista o quanto antes, já que a demora pode fazer com que a doença se espalhe e afete outros órgãos, como bexiga e intestino.

O papel das empresas

O primeiro passo é entender que sentir dores muito fortes não é comum e pode, sim, ser algo debilitante e que impossibilite o trabalho. As mulheres que se queixam de cólicas intensas precisam ser orientadas a procurar um especialista para o diagnóstico da endometriose. “As empresas devem, ainda, estimular estratégias para diminuir o estresse dos funcionários, ou sugerir a prática de atividade física. São ações que colaboram para minimizar doenças, como a endometriose, e outras que envolvam a imunidade”, afirma Maurício. “Quando a paciente tem uma queda da imunidade, que pode ser causada, entre outros fatores, por crises diárias de estresse, que podem ser por conta do trabalho, isso pode intensificar os sintomas da doença”, completa.

Já a advogada cita benefícios inclusivos para essas mulheres. “Outro aspecto relevante para o acolhimento dessas funcionárias é a elaboração de políticas internas pelas empresas, que podem criar alguns benefícios extraordinários, inclusive, licença remunerada especial, prevendo período e valores diferenciados em relação à legislação vigente”, diz Fernanda. 

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