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Diretor global de RH do Grupo L’Oréal fala dos desafios para a diversidade

No Brasil, pretos e pardos são 37,9% dos funcionários da organização. Para Jean-Claude Le Grand, isso é só o começo.

Por Marcia Kedouk
9 jun 2023, 07h00
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    ean-Claude Le Grand, diretor global de relações humanas do Grupo L’Oréal, costuma dizer que a diversidade é sua “obsessão”, porque acredita que o futuro da sociedade e dos negócios depende de ações que façam a diferença nessa área. No Grupo L’Oréal desde 1996, Jean-Claude está à frente de algumas das iniciativas mais emblemáticas da multinacional nesse segmento, como a criação do Departamento Global de Diversidade, em 2007. Em visita ao Brasil para oficializar um programa de educação para jovens em parceria com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV Eaesp), o executivo francês falou com exclusividade a VOCÊ RH sobre gestão de pessoas no pós-pandemia.

    Cada vez mais profissionais afirmam não abrir mão da qualidade de vida por causa do trabalho, mas os índices de desgaste mental e físico continuam aumentando. O que as empresas podem fazer para sair do discurso e agir sobre essa questão?

    A pandemia de covid-19 mudou a relação da maioria das pessoas com o trabalho e trouxe à tona temas como bem-estar e saúde mental. Na L’Oréal, desenvolvemos nos últimos dez anos iniciativas consistentes de apoio nos mais de 84 países em que atuamos, e cada mercado pode lançar ações locais. No Brasil, temos o programa Você Vale Mais. Lançado depois que ouvimos o feedback dos funcionários durante a pandemia, aborda quatro frentes de bem-estar: emocional, físico, nos relacionamentos e no trabalho. No pilar emocional, alguns destaques estão relacionados ao estresse no ambiente corporativo, ao subsídio terapêutico e às mesas-redondas sobre saúde mental.

    Propósito é para os ricos?

    Valores fortes existem independentemente da condição econômica de cada um. Entendemos o propósito como uma paixão inata para deixar sua marca no mundo. O propósito é nossa espinha dorsal e princípio orientador.

    Quais são os principais obstáculos ao avanço das políticas de diversidade, equidade e inclusão no mundo?

    Para que uma política tenha repercussão em um país, ela deve levar em consideração as características e a realidade locais. Nossa estratégia de diversidade e inclusão está alinhada globalmente com estas cinco áreas: origens, deficiência, LGBTQIAP+, equidade de gênero e gerações. No Brasil, 56% da população se autodeclara preta ou parda. Gostei muito de saber, durante a minha visita, que o foco das ações por aqui está em origens e equidade racial, devido ao contexto brasileiro. Fiquei particularmente interessado em algumas iniciativas locais da L’Oréal para ajudar a acelerar a carreira de funcionários negros, como os cursos de inglês exclusivos para pessoas negras ou desprivilegiadas, e as mentorias para colaboradores negros. Esse projeto ganhou o Prêmio Beleza da Inclusão do Grupo L’Oréal, que é um desafio interno para compartilhar as melhores práticas de diversidade e inclusão da companhia ao redor do mundo. Outra grande iniciativa que vi foi a Mover, uma coalizão de quase 50 empresas pela equidade racial da qual a L’Oréal Brasil é cofundadora. Considero que, nesses temas, devemos unir forças e agir junto com os demais, e não sozinhos. É assim que conseguiremos causar o melhor impacto.

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    Como estão os indicadores de diversidade e equidade na L’Oréal Brasil?

    No Brasil, pretos e pardos são 37,9% do total de funcionários e 18,4% da liderança. Para mim, isso é só o começo. A subsidiária também é a terceira empresa do mundo – e a primeira do grupo – a receber o mais alto nível de certificação Edge, o Edge Lead, que reconhece ações efetivas de equidade de gênero.

    Recentemente, você esteve no Brasil para anunciar um programa de educação para os jovens, em parceria com a FGV Eaesp. Por que a decisão de ampliar os programas para esse público?

    De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, a taxa de desemprego entre os jovens no Brasil, de 24,6%, está entre as mais altas do mundo. Para ter uma ideia, a da América Latina é de 20%; a da Europa, de 16%; e a da Ásia, de 14,9%. A empregabilidade e a inclusão dos jovens na força de trabalho se tornaram uma preocupação social real. E a L’Oréal tem um legado de investimento na juventude. Todos os nossos CEOs passaram toda a sua carreira na L’Oréal. Nossos programas de estágio são nossa fonte de contratação número 1. Além disso, como a covid-19 afetou fortemente o acesso dos jovens ao mercado de trabalho, o grupo tomou a decisão de lançar mundialmente, em setembro de 2021, o programa L’Oréal for Youth, que oferece todos os anos oportunidades de trabalho para 25 mil jovens, com foco naqueles de origem desprivilegiada.

    No Brasil, temos várias ações para pessoas vindas de universidades que não são de primeira linha. Alguns exemplos de iniciativas locais são o Formare, programa de treinamento na fábrica de São Paulo que já formou mais de 300 pessoas e empregou 82% delas na L’Oréal Brasil, e o DiversiFica, focado em perfis específicos. A primeira edição foi dedicada às pessoas pretas, pardas e trans, e a segunda foi exclusiva para pessoas com deficiência. Ao final do curso, os participantes podem integrar os processos seletivos da empresa.

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    A parceria com a FGV Eaesp fornecerá bolsas de estudos para estudantes em situação de vulnerabilidade social, para ajudá-los com transporte, alimentação, moradia e outras necessidades.

    Qual é o seu próximo desafio profissional? Existe alguma habilidade que você deseje melhorar ou uma meta que queira alcançar ainda em 2023?

    Sou conhecido por ser bastante intenso e exigente quando se trata de cuidar de pessoas. Manter uma força de trabalho diversificada é minha obsessão, pois é um dos motores do sucesso de nossos negócios. Se eu tivesse que mencionar um desafio para mim e, acima de tudo, para a empresa, diria que é fazer com que a L’Oréal seja vista como empresa dos sonhos também por homens que desejam um ótimo emprego, o que nem sempre é o caso atualmente. Isso se deve muito ao fato de que o setor de beleza não é o primeiro a ser considerado pelos homens quando eles planejam o futuro na carreira. Mas devemos mudar essa percepção entre as próximas gerações. E há um desafio bem pessoal que eu assumi: estou me esforçando muito para me qualificar como cabeleireiro!

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