Em dezembro de 2019, havia certo clima de expectativa de que o ano seguinte seria menos difícil para moradores de comunidades, que representam mais de 6% da população brasileira. É o que apontava um levantamento realizado em mais de 60 bairros periféricos de todos os estados do país: oito em cada dez entrevistados estavam confiantes com as perspectivas para 2020, segundo estudo dos institutos Data Favela e Locomotiva, em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA) e a Comunidade Door.
Dois anos depois, o Brasil engatinha para tentar sair da crise econômica que a pandemia intensificou. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o país deve encerrar 2021 com uma taxa de desemprego próxima a 14% – acima dos 12% de 2019. Esse cenário tem motivado o mundo corporativo a realizar iniciativas voltadas às comunidades. A SouthRock, operadora licenciada de marcas como Starbucks, TGI Fridays e B.A.R. (Brazil Airport Restaurants) no Brasil, anunciou a criação de um programa de trainee para profissionais da periferia, sem exigência de diploma universitário, apoiados pela Gerando Falcões, que atua com projetos de desenvolvimento social.
O programa vale para lojas e escritórios. “Ao se unir a parceiros que, em sua essência, são agentes transformadores, como é o caso da Gerando Falcões, a SouthRock espera promover um impacto positivo nas comunidades”, afirma Sandra Collier, diretora de marketing e responsabilidade social da SouthRock. “O programa de trainee foi pensando para ampliar as oportunidades desses profissionais no mercado de trabalho em todas as cidades onde operamos com nossas marcas Starbucks e TGI Fridays, contando também com a capilaridade nacional da Gerando Falcões por meio de seus projetos.”
Para Edu Lyra, fundador e CEO da Gerando Falcões, a parceria pode colaborar para quebrar um círculo vicioso e dar oportunidades para aqueles que, historicamente, não têm acesso a elas. “O morador da favela não consegue estudar porque não tem condições, e, consequentemente, não consegue emprego porque não se especializou e não tem experiência. Essa situação se agravou ainda mais durante a pandemia, quando muitos foram demitidos e outros, impedidos de trabalhar em serviços informais, que eram suas únicas fontes de renda”, diz Lyra. “Dar oportunidade para quem não tem diploma é como romper essa bolha.”
E nas favelas existem grande talentos, inclusive com habilidades como capacidade de inovação, criatividade e resiliência, competências que o mercado busca nos profissionais. “A diferença é que, sem acesso à educação, ao desenvolvimento e às oportunidades de emprego, esses talentos muitas vezes não são descobertos. Por isso, iniciativas como essa são essenciais”, afirma Alex do Santos, conhecido como Lemaestro, diretor de expansão e cofundador da Gerando Falcões.
O programa
Para participar do programa de trainee da SouthRock não é exigido diploma universitário. As exigências são ter idade mínima de 18 anos, ensino médio completo e conexão com a Rede Gerando Falcões Aceleradas ou Fellows. O processo seletivo envolve dinâmicas em grupo, entrevistas individuais e treinamentos internos, além de oferecer um plano de acompanhamento e de desenvolvimento de carreira. O projeto ainda é piloto e a primeira turma já foi formada, mas a ideia é que a iniciativa se estabeleça e renda novas edições.