aranaense criado no Rio de Janeiro, Marcelo Pimentel, de 48 anos, é apaixonado pelo varejo. A conexão com o setor vem desde a infância, quando usava a mesada para comprar e revender balas da doceria do bairro. Com passagens por Walmart e Grupo DPSP, ele está desde 2017 nas Lojas Marisa, onde se tornou CEO há cerca de dois anos. A pandemia de covid-19 fez com que a companhia acelerasse sua transformação digital e consolidasse seu e-commerce, que nasceu em 1999. “Acredito que o futuro será híbrido. As pessoas gostam de interação”, diz o executivo em entrevista para VOCÊ RH.
Sua carreira no varejo é longeva. O que o atraiu para a área?
Sou varejista desde criança: quando recebia mesada, eu ia correndo comprar doces e saía vendendo na rua. Alguns amigos até iam perguntar para meus pais se a gente estava com problemas financeiros, porque eu estava vendendo doces na rua. O varejo está comigo desde sempre. Tanto que meu primeiro trabalho, aos 18 anos, foi como vendedor de carros numa concessionária no Rio de Janeiro — como sou apaixonado por Fórmula 1, queria trabalhar com automóveis.
Uma de suas primeiras experiências foi na Inglaterra. Como chegou até lá?
Em 1997, terminei a faculdade, mas não falava inglês fluente e sabia que ter o domínio da língua seria importante para o futuro. Estava recém-casado, e minha esposa e eu decidimos vender tudo para morar na Inglaterra. A ideia era ficar um ano estudando, mas moramos durante 14 anos, nossas filhas nasceram lá.
Enquanto eu estava fazendo uma pós-graduação em negócios, surgiu a oportunidade de participar de um programa de trainee de uma grande rede de supermercados inglesa. Fui aprovado e trabalhei ali por dois anos, quando me convidaram para uma vaga no Walmart. No total, foram 11 anos na Inglaterra. Isso me trouxe grandes aprendizados sobre performance e busca por resultados do jeito certo. É algo que tenho praticado em toda a minha carreira.
“Com a pandemia, eu me senti como se tivesse acabado de virar CEO. Ninguém nunca passou por algo assim antes”
Como foi seu retorno ao Brasil?
Voltei em 2012 para liderar uma área do Walmart que padronizava com diretrizes globais os processos regionais. Foi uma integração sistêmica e cultural que conduzi ao lado de um time de americanos. Fiquei lá até 2015, quando assumi o Grupo DPSP, da Drogaria São Paulo. Foi uma experiência muito gratificante, pois o setor estava em plena expansão: abríamos 150 lojas por ano. Depois de dois anos, em 2017, entrei na Marisa como VP de operações e, em julho de 2019, me tornei CEO — tem sido um MBA acelerado. Brinco que vendi arroz com feijão, Rivotril e, agora, moda.
Estamos há mais de um ano enfrentando a pandemia de covid-19. Como a Marisa se preparou para isso?
O ano de 2020 foi de muito aprendizado. Em fevereiro do ano passado, eu estava na Europa com minha filha para escolher uma universidade. E, naquele momento, eu me lembro de assistir ao noticiário no hotel e ver a situação da Itália. Sabia que a pandemia chegaria aqui e, quando voltei, já começamos a nos planejar. Criamos um núcleo para nortear as ações e estabelecemos quatro pilares.
“Às vezes são conversas difíceis, mas o time tem que saber direto do líder o que está acontecendo”
Quais são?
O primeiro é cuidar das pessoas, por isso colocamos em home office todo o grupo de risco e as gestantes, antes mesmo de qualquer fechamento de loja. O segundo é a segurança financeira. Em 17 de março de 2020, fechamos nossas 350 lojas e tivemos que fazer um esforço de contenção de despesas grande — passamos bem por isso porque, em 2019, tínhamos captado 150 milhões de reais, o que nos preparou para enfrentar o momento. O terceiro pilar é a comunicação com nossas clientes. Em março e abril de 2020, falamos pouco sobre vendas e quisemos fortalecer a autoestima das mulheres, que passavam — e continuam passando — por um momento muito desafiador. E o quarto é a retomada, pois sabíamos que tínhamos que estar preparados tanto para a volta dos clientes com segurança às lojas físicas quanto para usar esses espaços para alavancar o e-commerce. Para isso, transformamos as lojas em centros de distribuição.
Suas habilidades de liderança foram colocadas à prova?
Com a pandemia, eu me senti como se tivesse acabado de virar CEO. Liguei para vários mentores, profissionais muito experientes, para entender a visão deles. Mas ninguém nunca tinha passado por algo assim. O que eu sabia era que precisaria ser mais transparente. Então, desde 17 de março do ano passado, tenho uma agenda semanal de conversas virtuais com toda a empresa, sempre às quintas, das 8 às 9 horas. Às vezes são conversas difíceis, mas o time tem que saber direto do líder o que está acontecendo. Como ferramenta de comunicação, estamos usando o Workplace e dando mais autonomia e responsabilidade para a equipe, porque não tem como os líderes gerenciarem tudo sozinhos, ainda mais à distância.
O isolamento social fortaleceu a digitalização do varejo?
Ainda temos muito caminho pela frente, mas a Marisa se beneficiou porque foi o primeiro e-commerce do Brasil, com uma plataforma desde 1999. A tecnologia estava ultrapassada e nós a atualizamos em 2017, quando criamos uma nova estratégia digital, que culminou com o lançamento, em agosto de 2020, do nosso aplicativo. Já temos mais de 4 milhões de downloads, e o app responde por 40% das vendas atuais.
Como é seu relacionamento com o RH?
A área reporta direto para mim e é a base da empresa. Quando construímos nossa visão estratégica, colocamos a ambição como teto, a cliente no centro e o RH como o alicerce que segura os pilares estratégicos. Em 2020, lançamos nossa cultura e tivemos o cuidado de envolver os funcionários para construirmos em conjunto. Tivemos representantes de todas as regiões do Brasil, de diferentes setores, como lojas, centros de distribuição e escritórios. Agora nosso próximo projeto é a Universidade Marisa, que deve ser inaugurada no segundo semestre.
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