Inteligência artificial: a nova fronteira da gestão de pessoas
Profissionais têm usado o ChatGPT para atividades como montar descritivos de cargo, criar roteiros de entrevistas e estruturar ideias para reuniões
emos acompanhado o frequente surgimento de novos sistemas de inteligência artificial (IA) para automatizar, facilitar e desburocratizar uma série de ações no nosso dia a dia. O frisson do momento é o ChatGPT, que surpreende positivamente cada novo usuário. Eu tenho visto as pessoas ao meu redor utilizarem a plataforma para montar um descritivo de cargo, criar roteiros de entrevistas por competências, revisar ou traduzir pareceres sobre perfis, estruturar ideias para reuniões e esclarecer dúvidas corriqueiras, entre tantas outras rotinas. É um robô que se comunica de maneira muito parecida com o ser humano por meio da escrita em formato de chatbot, gerando respostas para os mais variados questionamentos e temas, sem a mecanização que vemos na Siri ou na Alexa, por exemplo.
A desvantagem é que se trata de um banco de dados que não está conectado à internet e que foi atualizado apenas até setembro de 2021. Os textos, de uma forma geral, são bons e bem completos, mas sem o toque pessoal que só o ser humano consegue dar. Há quem diga que esse pequeno “oráculo” pode revolucionar o modo como nos conectamos com as informações, com potencial para substituir os buscadores tradicionais no futuro, quando o sistema estiver mais sofisticado.
O Elon Musk e o Sam Altman, que são alguns dos fundadores da OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, de fato conseguiram criar algo que facilita e muito a rotina. Já existe até uma parceria dos desenvolvedores com a Microsoft para o ChatGPT trabalhar junto com o Teams escutando as reuniões e transcrevendo o áudio desses encontros. Se isso ocorrer, não precisaremos mais tomar nota das inúmeras conversas que temos todos os dias.
Eu comparo o ChatGPT à revolução que vimos no passado com a manufatura, quando tarefas repetitivas de linhas de produção foram sendo automatizadas por robôs, aumentando a produtividade das fábricas. Hoje, com a IA, estamos, na prática, facilitando o trabalho das pessoas, automatizando o que é muito manual, braçal e repetitivo. Com isso, é fato que departamentos possam, talvez, passar a trabalhar com menos pessoas.
Também existem aqueles que enxergam a tecnologia como mais um colega de trabalho que esclarece dúvidas cotidianas. No entanto, as nuances, o tom, o requinte, a personalização e o pensamento crítico que o ser humano agrega para o todo do conteúdo de um texto ainda são imprescindíveis. Isso faz com que a ferramenta seja útil para que possamos migrar a nossa atenção da parte operacional para a parte intelectual das ações. Acredito que o ser humano continuará tendo o seu lugar garantido, pilotando as perguntas certas por trás da máquina.
Ao meu ver, a IA ficará mais perigosa quando começarmos a criar robôs que tenham a capacidade intelectual de evoluir sozinhos e, por exemplo, além de elaborar uma lista de perguntas, entrevistar e avaliar um candidato a emprego. E quando um candidato puder utilizar um robô para fazer a entrevista no seu lugar. Diante de uma possível evolução dessa ação, será preciso criar um mecanismo para distinguir humanos de máquinas.
Isso me lembra o antigo filme Blade Runner, em que os androides eram quase idênticos aos seres humanos, diferenciando-se apenas por uma reação na retina dos olhos em momentos de interação. Sei que ainda estamos muito longe de chegar a essa realidade, mas é algo para termos no radar, principalmente diante de um relatório do Institute for the Future, em parceria com a Dell, que prevê que 85% dos empregos que existirão em 2030 ainda não foram inventados.
Por enquanto, devemos aproveitar o melhor que as tecnologias podem trazer para o nosso dia a dia. Entender de que forma elas podem ser nossas aliadas, nos poupar tempo e como podemos aproveitar essa realidade para otimizar a nossa rotina e contribuir mais e melhor com as atividades por meio das nossas habilidades técnicas e comportamentais. Em vez de entrar em pânico, esse deve ser o nosso foco.
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Este trecho faz parte de uma reportagem da edição 85 (abril/maio) de VOCÊ RH. Clique aqui para se tornar nosso assinante