Há 21 anos, a consultoria global de comunicação Edelman investiga como anda a confiança das pessoas nas instituições. Para fazer isso neste ano, a empresa ouviu 7.000 trabalhadores de Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos, Índia, Japão e Reino Unido no mês de agosto de 2021. Os resultados se transformaram no estudo Edelman Trust Barometer 2021 – Relatório Especial O Empregado Motivado por Convicção.
Os resultados mostram que os profissionais confiam muito em seus empregadores: no Brasil, 77% se sentem assim – o índice mundial é de 78%. Além disso, o propósito tem se mostrado importante para que as pessoas continuem em seus empregos. Segundo o estudo, 74% dos brasileiros esperam poder gerar impacto social e afirmam que fatores como o negócio refletir seus valores pessoais e ter um trabalho que influencie positivamente a sociedade são decisivos para avaliar ou considerar um emprego.
E a saúde mental também se tornou questão importante aos profissionais e as empresas devem ficar aletas, pois 48% dos entrevistados brasileiros dizem que seu empregador não está levando a sério o cansaço dos funcionários, nem criando práticas para prevenir a exaustão.
Para Natalia Martinez, vice-presidente executiva e líder de clientes corporativos da Edelman Brasil, os dados do levantamento mostram que as companhias precisam ir além dos salários e oferecer a possibilidade de que os funcionários construam um mundo melhor. “Os empregados esperam de seus empregadores o que os consumidores esperam das marcas: que olhem além do seu negócio, que tenham um propósito, que façam o possível para a construção de um mundo mais justo para todos”, diz a executiva. Confira a entrevista completa a seguir.
Qual foi o resultado que mais chamou a sua atenção no estudo?
A principal mensagem do estudo está no aumento da expectativa dos empregados em relação ao empregador. Para eles, bons salários já não bastam. Eles querem se identificar com os valores da empresa para a qual trabalham e, cada vez mais, querem que a empresa zele por sua saúde.
Isso pode ser um reflexo do aumento das expectativas das pessoas em relação às instituições, em especial empresas, e às marcas, que temos observado nos últimos anos, no Brasil, e no mundo. Os empregados esperam de seus empregadores o que os consumidores esperam das marcas: que olhem além do seu negócio, que tenham um propósito, que façam o possível para a construção de um mundo mais justo para todos.
Além disso, o empregado hoje tem noção de que a sua saúde mental também é responsabilidade do seu empregador. Trata-se de uma tendência que se intensificou com a pandemia, como se dissessem “estou dando o meu melhor em tempos de crise. Mas, estou cansado e preciso de apoio”. Os empregados exigem mais exatamente por compreenderem o seu valor: 69% dizem que, durante a pandemia, se tornaram mais valiosos para os seus empregadores ao assumir mais trabalho e responsabilidade.
A pandemia elevou a confiança dos profissionais nas empresas. Qual é a explicação para o fortalecimento dos laços entre funcionários e empregadores?
No Brasil, a instituição mais confiável é o “meu empregador” e a segunda são as “empresas” (empresas em geral, não necessariamente para a qual trabalho), à frente das ONGs, Mídia e Governo.
As pessoas tendem a confiar em quem está mais próximo delas. Ou seja, pessoas como elas (familiares, amigos e colegas) e seus empregadores.
Além disso, com a pandemia e a crise, as pessoas se voltaram ainda mais para as empresas onde trabalham. Muitas delas, além de muitas vezes oferecerem o que o governo deixa de entregar – caso de planos de saúde, por exemplo – se tornaram uma fonte confiável de informação sobre o vírus e se engajaram no combate à pandemia e na reconstrução da economia.
Um ponto interessante do estudo é que os funcionários estão se sentindo mais empoderados para realizar transformações nas empresas. Isso pode ter relação com o fato de que as companhias precisaram dar mais autonomia aos profissionais na pandemia?
Os empregados podem estar se sentindo mais empoderados por diversas razões. Apesar de não termos feito essa pergunta, podermos fazer algumas inferências. A pandemia mudou as prioridades da pessoas e elas estão mais cientes de seu valores e dispostas a batalhar por eles. Além disso, reconhecem o seu valor perante as empresas – muitos precisaram assumir mais trabalho e mais responsabilidades. Tudo isso pode ter aumentado o senso de pertencimento. Mais autonomia pode ter contribuído também.
O relatório deixa claro que os valores pessoais estão pesando mais nas escolhas profissionais – ficando à frente até do salário. Por que os brasileiros estão mais criteriosos com esse tema mesmo em um período de alto desemprego?
É de fato curioso, mas isso só reforça a importância que as pessoas estão dando aos seus valores e crenças, seja na hora de comprar um produto, seja na hora de escolher o seu emprego. Ao mesmo tempo que estão receosas por perder o seu emprego, não querem abrir mão do que importa para elas e estão dispostas a buscar o emprego que melhor atenda às suas expectativas.
Tendo em vista os dados do relatório, quais são as principais recomendações para as empresas?
As empresas devem ouvir seus empregados e buscar atender às suas expectativas, encarando-os como importantes parceiros de negócio. Além de um bom salário e um plano de carreira, devem mantê-los habilitados para o trabalho e se preocupar genuinamente com a sua saúde mental.
Nesse contexto, os CEOs e os líderes devem agir (antes de falar) em áreas relacionadas à diversidade e inclusão, Meio Ambiente e Governança, mas nunca deixar de se posicionar sobre questões relevantes aos seus empregados, que já são considerados seus stakeholders mais importantes. O relacionamento entre empregador e empregado deve ser empático e baseado em fatos. O empregado feliz e realizado trabalha melhor, permanece na empresa, defende seus produtos e atrai talentos.