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As tendências atuais do mercado de trabalho para ter emprego em 5 anos

Confira os conselhos de Mônica Flores, presidente para a América Latina do ManpowerGroup, empresa líder mundial em contratação de pessoas

Por marinaverenicz
Atualizado em 5 dez 2020, 20h55 - Publicado em 20 out 2019, 06h00
Mônica Flores, presidente para a América Latina do ManpowerGroup (Divulgação/VOCÊ S/A)
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São Paulo – As intenções de contratação das empresas permanecem em um crescimento estável até o final do ano no país. É o que aponta a pesquisa do ManpowerGroup referente a expectativa de emprego no último trimestre de 2019.

“Apesar da tendência global de queda na atividade econômica, espera-se que a Reforma da Previdência seja aprovada, o que poderá impulsionar a aprovação das reformas tributárias e trabalhistas, criando um ambiente favorável para a retomada dos investimentos e do crescimento”, afirma Nilson Pereira, CEO do ManpowerGroup Brasil.

Dos empresários nacionais que participaram da análise, 70% sinalizaram que pretendem manter o quadro atual de profissionais no próximo trimestre, 18% planejam aumentar o ritmo de contratações e 10% indicam uma redução no quadro de funcionários. O levantamento contou com a participação de 59 mil empregadores de 44 países, sendo 850 brasileiros.

No entanto, um aumento no índice de contratações no país traz à tona questões relacionadas com o futuro do trabalho e as transformações digitais. Segundo reportagem de maio do jornal O Estado de S. Paulo, em setores específicos, como o da tecnologia da informação, cerca de metade dos 70.000 empregos que serão criados por ano até 2024 poderá não ser preenchida.

Para Mônica Flores, presidente para a América Latina do ManpowerGroup, estamos enfrentando um paradoxo. “Muitas pessoas estão à procura de emprego e não acham, ao mesmo tempo em que as empresas estão com dificuldades em encontrar o candidato adequado, no tempo, preço e produtividade certa”.

Esse cenário de dificuldades da empregabilidade no futuro é atribuído pela falta de adequação dos profissionais às novas necessidades do mercado.

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“Fazer as mesmas coisas não nos colocará em um lugar diferente. Precisamos mudar, aprender e usar da tecnologia como uma oportunidade para desenvolvermos novas habilidades”, explica a presidente do grupo para a América Latina.

Para entender mais sobre o cenário atual e como se preparar para o mercado de trabalho futuro, a curto e médio prazo, Mônica concedeu uma entrevista para a VOCÊ S/A. Leia a entrevista com a presidente na íntegra.

Dados do ano passado do ManpowerGroup apontam que 37% das empresas de grande porte relatam problemas para preencher as vagas disponíveis. Como as pessoas podem se preparar melhor para o mercado?

Mônica Flores: Para resolver esse paradoxo, precisamos fazer algo para combinar as expectativas dos candidatos com a dos empregadores.

Os que procuram uma colocação devem se tornar mais empregáveis, desenvolvendo habilidades comportamentais, como liderança, comunicação, colaboração e pensamento lógico e melhorando a capacidade de aprendizado. Entender de tecnologia e ter conhecimentos sobre o mercado que atuarão também é necessário para os desejam ser atrativos para o mercado de trabalho.

Os que estão procurando trabalho, precisam aprender algo diferente. O mercado de trabalho hoje está baseado na oferta e na demanda, e precisamos entender quais são essas demandas, e nos preparar adequadamente para o futuro.

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Por isso, além da motivação para aprender algo novo, as pessoas precisam se informar. Precisam entender as tendências do mercado e quais as habilidades que serão na tendência nos próximos 5 anos, em quais setores e em quais regiões. Aqueles que não estão se preparando, correm o risco de se tornaram obsoleto nos próximos dois anos.

Sob uma outra perspectiva, precisamos mudar os programas educacionais nas escolas. Eles ainda estão nos educandos para o século passado. As metodologias tradicionais, com professores falando e crianças anotando, já foram superadas. Necessitamos de crianças investigando, pesquisando, colaborando e entendendo matemática, como é feito em países do primeiro mundo.

Precisamos nos preparar para competir contra os melhores talentos do planeta, não somente os que estão em sua comunidade. O mercado está mudando e estamos competindo com pessoas do mundo todo pela mesma posição e precisamos estar no mesmo nível.

E como os profissionais podem aprimorar as habilidades que os tornarão competitivos?

Mônica Flores: Eles precisam ler, se informar e estudar. A internet disponibiliza oportunidades para aprender coisas diferentes. E de graça. Você não precisa gastar muito dinheiro para isso.

Existem coisas simples que podem ser feitas para melhorar as habilidades comunicacionais, por exemplo, como estudar teatro ou praticar com os seus amigos. Ou estudar idiomas.

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Precisamos pensar e levar em consideração o que sabemos fazer agora e como as carreiras vão mudar nos próximos 5 anos e nos preparar para esse momento. Isso envolve em pensar como a tecnologia pode mudar a minha posição ou eliminá-la, como é o caso do telemarketing. Se preparar para o futuro não é nenhuma ciência espacial.

Nos últimos anos, houve o crescimento de demanda em áreas específica?

Mônica Flores: Sim, eu acho que estamos vivendo um aumento de posições relacionadas a atendimento ao cliente, TI, técnicos especializados e gestão de projetos.

Como se preparar para procurar um emprego?

Mônica Flores: Você precisa fazer o que o mercado está demandando e dedicar um tempo sério para procurar esse emprego. Você deve fazer um currículo que seja atrativo. Curto e que mostre resultados. Os recrutadores recebem dezenas de currículos, os muito longos, ou sem fatos concretos, são jogados fora.

Você também precisa praticar sua entrevista, saber exatamente o que vai falar e não ser surpreendido durante seleção com perguntas difíceis. Você precisa treinar o que dizer sobre si mesmo, sua performance e demonstrar porque deve pertencer aquela companhia.

Outro conselho que eu daria é que você precisa fazer uma pesquisa sobre a companhia que você está tentando uma vaga. Chegar sem saber o produto, os nomes dos CEOs, será uma perda de tempo.

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Esteja preparado para achar um emprego que não será o emprego dos seus sonhos. Você pode fazer de um emprego ordinário o emprego dos sonhos. Procure um trabalho que você sinta que pode se apaixonar.

Atualmente, as empresas têm investido alto em políticas que promovam a equidade de gênero. Quais os benefícios em se ter essa proporcionalidade dentro das companhias?

Mônica Flores: Há inúmeros benefícios quando aumentamos o número de mulheres nos times. De acordo com diversas pesquisas, organizações mais inclusivas, tem de 13% a 27% mais lucros do que não tem investido em diversidade.

Outro benefício, de acordo com estudos, é que a inclusão aumenta 6% a margem de lucro. As empresas que figuram como mais lucrativas no ranking global da Fortune 500 tem investido em equidade de gênero. Quanto mais mulheres tomando decisões, mais lucratividade pode se alcançar.

As razões envolvem engajamento, colaboração e disputa dentro das equipes. Quando se tem mulheres nos times, o engajamento da equipe é maior. Isso se dá porque as mulheres tendem a ser mais colaborativas que os homens, em geral. Claro que sempre podemos achar exceções à regra, mas essa é uma tendência.

Mulheres são mais colaborativas, mais focadas nas tarefas e são menos competitivas. As mulheres estão focadas em tarefas para atingir metas de forma mais fácil e mais organizadas do que os homens. Nos times, a mulher não luta para ser a líder. Isso gera um ambiente de trabalho mais tranquilo, e mais produtivo. No entanto, as mulheres não lutarem pela liderança, tem o seu ponto negativo.

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Ter mais mulheres tomando decisões, principalmente ocupando cargos de liderança, trazem benefícios para as funcionárias da empresa. Quando você tem mais CEOs ou Diretores femininos, existe uma tendência a colocar em prática políticas que tenham como objetivo dar mais oportunidades às mulheres. Não somente para posições, mas também para pagamento.

É importante que tenhamos mais mulheres no mercado de trabalho para continuarmos a aumentar o ciclo da diversidade de gênero. Isso traz mais oportunidades para as mulheres dentro da companhia.

A segunda ração que devemos ter mulheres tomando decisões é que existem impactos positivos na sociedade. As filhas das mulheres que trabalham, ganha 23% mais. Os filhos das mulheres que trabalham passam mais de 7 horas por semanas realizando tarefas domésticas, quando comparado com aqueles cujas mães não trabalham.

Mulheres que contribuem para a renda familiar gastam mais em saúde e educação e isso beneficia a sociedade no final. As crianças também estudam mais do que 5 anos, em média, do que as crianças de mães que não trabalham.

Houve mudança no desafio que as mulheres enfrentavam, enfrentam e vão enfrentar nos próximos anos no mercado de trabalho?

Mônica Flores: As mulheres já passaram pelos desafios mais difíceis. Agora temos mais mulheres trabalhando, possivelmente não em posições de liderança, mas houve uma melhora nesse cenário.

No passado, a cultura e os estereótipos eram mais fortes do que agora. Às mulheres, não era permitido estudar e deveriam ficar em casa, cuidando das crianças e dos familiares mais velhos. E isso era mais desafiador.

Apesar das mudanças, muitas mulheres na América Latina ainda enfrentam essa realidade, principalmente em países com culturas mais antiquadas, como é o caso do México. Quando falamos em grandes cidades, como São Paulo, onde a população tem maior acesso à educação, essa perspectiva é melhor.

Os estereótipos representam um enorme desafio para as mulheres no mercado de trabalho. Não somos incentivadas a estudar engenharia, ou outras áreas mais técnicas. Continuamos estudando “pink careers”, como design, decoração, psicologia, comunicação, que não são as áreas mais demandadas no mercado, e nem tem os melhores pagamentos do mercado. E possivelmente vão desaparecer em um futuro autômato próximo.

Isso significa que vamos enfrentar problemas para ter melhores salários e para chegar em posições de liderança. Precisamos estar presentes nas carreiras que vão ascender na era digital.

E como mudar esse cenário?

Mônica Flores: É uma pergunta curta que merece uma longa resposta. Do meu ponto de vista é uma solução multifatorial que envolve questões culturais e estereótipos. Precisamos fazer algo contra esses estereótipos que a mídia, a publicidade, os filmes e as novelas colocam nas mentes das jovens mulheres. Principalmente os que nos obrigam a estar “sexy” o tempo todo, e que precisamos ser provocativas para sermos bem-sucedidas.

Esses estereótipos estão presentes desde a infância. Meninas são encorajadas a brincar de bonecas, enquanto os meninos devem salvar o mundo. E isso começa na família. Não é uma solução externa. Precisamos pensar em uma educação diferente dentro de casa. Meninos podem chorar, sofrer e dança. E meninas podem jogar futebol, boxe ou o que quiserem.

Devemos encorajar as meninas a estudar matemática, engenharia, física ou química. Carreiras que culturalmente não deveríamos estar.

O governo deveria reforçar esse processo de equidade com cotas. Cotas são muito controversas, mas quando usamos de forma concreta, as mudanças acontecem de forma mais rápida. Provavelmente você poderá eliminar essas cotas nos próximos 5 anos. Mas é preciso incentivar de forma definitiva a entrada de mulheres no mercado de trabalho. As empresas deveriam promover mais diversidade e inclusão para promover inovação.

No entanto, se as mulheres não fizerem o que precisam, nada vai mudar. Precisamos superar a culpa, que é um problema global. Precisamos pensar de uma forma diferente, agir de uma forma diferente. Precisamos aproveitar as oportunidades, falar mais alto, diferente. Precisamos assumir riscos.

Podemos citar muitos impactos negativos da automação das profissões. Mas o que isso traz de positivo para os trabalhadores, principalmente para os brasileiros?

Mônica Flores: A tecnologia é capaz de tornar as coisas mais fáceis, nos tornar mais saudáveis e felizes. Precisamos aprender como usar a tecnologia nesse sentido. Ela nos permite focar em habilidades humanas, e não mais em atividades repetitivas. Devemos ver a tecnologia como um vizinho, e não um inimigo.

É uma oportunidade para nos tornarmos seres humanos melhores e desenvolver nossas capacidades analíticas. Isso significa que devemos pensar na informação de uma forma diferente, com os algoritmos certos para pensar na melhor experiência para nossos empregados, candidatos e clientes. Teremos mais tempo para sermos criativos e investir em inovação. Atividades repetitivas não nos permitem isso. É uma oportunidade de sermos mais sofisticados nas nossas habilidades.

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