Liderança na pandemia: o que o RH deve fazer para treinar os líderes?
Depois de mais de um ano de crise, as empresas precisam cuidar da saúde mental e engajar. E é papel do RH preparar as lideranças para esses desafios
Nunca se falou tanto sobre saúde mental como em 2020 — a capa de VOCÊ RH de outubro do ano passado não me deixa mentir. A pandemia testou nossos limites e nos colocou em condições nunca antes vivenciadas. Foi uma soma de preocupações com o país, com a saúde, com as finanças e com um modelo de trabalho completamente novo, em que famílias inteiras passaram a viver em quarentena dentro de um mesmo ambiente 24 horas por dia.
Nos últimos meses do ano, recebemos alguns sinais positivos com a redução do contágio e das mortes e a possibilidade real da vacina. Pessoas começaram a relaxar e a viver uma vida mais próxima do normal. Um alívio do ponto de vista emocional. Porém, aglomerações voltaram a acontecer, o descuido da população foi geral, e o resultado disso já sabemos: uma nova onda de contágio e mortes, ainda mais forte do que a primeira.
Agora, quase um ano depois, voltamos à angústia do isolamento mais restrito assistindo a cenas terríveis de pessoas morrendo por falta de capacidade de atendimento dos hospitais. Soma-se a isso uma gestão incompetente, inconsequente e criminosa do nosso governo diante da pandemia. Em meio a essa gangorra emocional, a saúde mental de toda a sociedade volta a se desgastar.
A saúde mental está abalada com a pandemia
É importante lembrar que, se por um lado a população está mais habituada a conviver com a pandemia, a maior parte de nós está com seu estado psíquico mais frágil e fatigado. É como se pessoas e organizações estivessem se arrastando. Afinal, a emoção causada pelo início da vacinação vem seguida de uma frustração quando se percebe que a vida ainda vai demorar muitos meses para voltar ao normal.
As empresas, mais do que nunca, tiveram de estender suas preocupações com os funcionários e cuidar também de seus familiares, fornecendo apoio e informação constantes. Posso dizer com tranquilidade que boa parte dos profissionais de RH viveu em 2020 alguns dos momentos mais críticos de sua carreira.
Como o RH deve agir nessa crise?
Ao que tudo indica, 2021 continuará sendo um ano desafiador. Motivar e engajar profissionais no meio de uma pandemia que tem uma duração tão longa e destruidora é uma tarefa hercúlea. O que nós, RHs, podemos fazer? Dentro de nossas possibilidades de ação está nossa capacidade de educar. E isso pode ser de grande valia. Podemos influenciar as lideranças para que elas estejam atentas aos sinais que indicam problemas de saúde mental em seus times. Criar uma lista de sintomas de ansiedade e depressão e compartilhá-la com os líderes é um bom caminho. Além disso, vale desenvolver uma rede de apoio para aqueles que estão sucumbindo à ansiedade ou com quadro de depressão.
É fundamental ouvir constantemente as pessoas, promover conversas individuais ou em grupo para que todos possam desabafar e identificar as fragilidades e os aprendizados comuns. Capacitar os gestores para apoiar e orientar suas equipes nos ajudará a tratar os medos e desconfortos da própria liderança — e isso é essencial para auxiliá-los a chefiar pessoas neste contexto de pandemia.
*Psicóloga da Vicky Bloch Associados, professora na FGV-SP e FIA, e colunista de VOCÊ RH