A carreira de Natalia Martins no mundo da beleza começou sem muito planejamento. Em 2015, depois de se casar e se mudar da capital paulista para São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, ela começou a administrar uma clínica de estética da qual era sócia com seu marido – antes disso, só havia trabalhado em restaurantes. A clínica se diferenciava por ter uma profissional especializada em micropigmentação de sobrancelhas, técnica que usa uma tintura especial para corrigir falhas ou mudar o desenho dessa região do rosto. Mas a funcionária de Natalia pediu demissão e ela se viu com um grande problema: não tinha mais ninguém para atender as novas clientes e fazer os retoques das clientes antigas. “Decidi que eu mesma resolveria o problema. Fiz o curso no final de 2015 e no ano seguinte já estava trabalhando com isso. E me apaixonei pela técnica”, diz Natalia.
A nova ocupação veio junto de um momento muito desafiador em sua vida pessoal: seu divórcio. Ela se separou do marido e precisou voltar para a São Paulo, sua terra natal. “Eu tinha uma filha pequena, muitas dívidas e meu não aceitava a situação. A única maneira de me tornar independente era trabalhar com o que eu sabia, sobrancelhas”, lembra Natalia.
Mesmo com muita gente dizendo que essa área não daria nenhum dinheiro, ela se encheu de coragem e acreditou na sua intuição. Assim, em 2017, além de atender clientes também começou a dar aulas sobre micropigmentação. Alugou uma sala de 30 m² na Avenida Nove de Julho, região central de São Paulo, e passou a formar suas turmas de alunos. E um dia tudo mudou: Natalia resolveu que as aulas seriam dadas de pijama. “Estava muito frio em São Paulo e eu me peguei com vontade de dar a aula do dia seguinte usando pijama. Fui até a C&A, comprei 17 pijamas cor-de-rosa e falei para as alunas que todas usaríamos pijamas. Foi uma surpresa”, conta Natalia.
Ela aproveitou o momento para falar sobre sensação de fracasso, auto responsabilidade, empoderamento e igualdade – e que o pijama estava ali para representar todos esses objetivos. “Não tinha mais aquela coisa de uma aluna parecer ter mais condições financeiras do que a outra que precisou vender o carro para fazer o curso. Foi incrível, mostrou que ninguém é melhor do que ninguém”, lembra a empreendedora. E isso foi a guinada para o negócio de Natalia crescer: a foto da turma usando pijama se espalhou e houve um grande aumento na procura pelas. “A chave virou. O pijama me ensinou que quem nos limita somos nós mesmos”, diz.
Ser quem você é
Com as aulas e o desenvolvimento de uma técnica única no mundo em sua área, a nanopigmentação – mais sutil e natural do que a micropigmentação, porque a tintura não adere profundamente na epiderme, Natalia deixou a salinha em que começou sua trajetória para estabelecer a Natalia Beauty em um casarão na Avenida Rebouças, também em São Paulo. Lá, dá aulas sobre a nanopigmentação, atende clientes e vende produtos – inclusive pijamas. Hoje, ela lidera 80 funcionários diretos, 200 indiretos, atua em 12 países e tem 90 afiliados.
E todo mundo trabalha e estuda de pijama. “É uma quebra de padrões. Às vezes alguém começa a trabalhar aqui e diz que não vai se sentir bem, principalmente se veio de uma empresa tradicional. Mas depois de um tempo, começa a se sentir confortável. É como se o pijama fosse mágico: mostra que você pode ser quem é o tempo todo”, diz Natalia.
Com a pandemia, a empreendedora precisou se reinventar e está colhendo bons frutos: seu negócio triplicou de tamanho depois que começou a ministrar cursos online. “Nunca tínhamos feito e isso foi muito importante para nós, pois ampliamos o alcance no Brasil e no mundo. Traduzimos os cursos para cinco línguas”, explica a fundadora.
Além da estética
Natalia tem uma atuação social que vai além do tratamento de beleza. A nanopigmentação é usada para reconstruir as areolas dos seios em mulheres que tiveram que operar o local no tratamento do câncer de mama. Além disso, agora a empresa está desenvolvendo próteses de silicone que podem ser usadas para reconstruir o mamilo e outras pequenas partes do corpo, como nariz, orelhas e dedos por pessoas que têm má formação ou sofreram algum tipo de mutilação.
“Mexe muito com a autoestima das pessoas. E é esse propósito social, que não é estético, que conecta nossos funcionários. As pessoas sentem que estão contribuindo com algo bom. Apenas trabalhar te deixa oco, o que preenche é dar algo de bom para os outros sem esperar nada em troca”, diz Natalia.