Nunca foi tão difícil preparar sucessores
E o principal motivo é que as empresas mantêm práticas antigas diante de novos anseios dos profissionais
sucessão sempre foi um desafio nas empresas. Planejar a continuidade das funções — e o crescimento dos negócios — envolve mais do que mapear os profissionais certos para posições-chave. O que está em jogo é a definição de uma estratégia eficaz de desenvolvimento de pessoas, alinhada aos novos tempos e aos novos anseios. E nunca foi tão difícil preparar líderes.
Estudos recentes conduzidos por pesquisadoras das universidades de Michigan e da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, indicam que três medos comuns têm afastado os talentos dos cargos de gestão: parecer autocrático, perder o senso de pertencimento à equipe e aparentar desqualificação para a posição. Quem relata níveis mais elevados desses receios é menos inclinado a agir como líder — mesmo que tenha perfil e potencial para exercer a função —, portanto, é menos propenso a ser visto como líder pelas chefias.
Esses resultados trazem várias informações relevantes. Uma delas é que os profissionais rejeitam modelos tradicionais de gestão, com um líder autoritário, onisciente e descolado da equipe. Outra é que os talentos podem estar precisando de algo bem mais básico do que qualificação técnica: apoio e empatia.
Desde o início da pandemia, é cada vez maior o número de pessoas que relatam piora na saúde mental, inclusive entre os líderes. Muitos abrem mão de assumir desafios maiores na carreira em troca de mais qualidade de vida. Uma pesquisa de 2022 da Cia de Talentos com 117 mil entrevistados mostra que 33% dos jovens em cargos de média gestão notaram piora no bem-estar emocional nos últimos meses. Para 42%, existe uma alta sobrecarga de trabalho, e 43% se sentem exaustos. A porcentagem de profissionais que pensam em se demitir chega a 54%.
Os números mostram que planejar o futuro dos negócios exige um novo olhar para a sucessão, que contemple também os interesses pessoais dos talentos mapeados e preveja movimentações de carreira mais significativas, incluindo as não lineares, além de uma gestão humanizada. Gestores precisam entender que uma liderança bem-sucedida é aquela que deixa um legado positivo.
Este texto faz parte da edição 83 (dezembro/janeiro) de VOCÊ RH. Clique aqui para se tornar nosso assinante