o livro O Lado Doce da Melancolia — A arte de transformar a dor em criatividade, transcendência e amor, Susan Cain, autora do best seller O Poder dos Quietos, ambos da Sextante, afirma que os melancólicos — que ela define como agridoces — tendem a ser mais criativos, segundo estudos. Baseada nessa premissa, Susan defende que é preciso aceitar a tristeza como parte da vida, e que normalizar esse sentimento no trabalho pode tornar as pessoas mais satisfeitas, criativas e inovadoras. Leia um trecho da obra a seguir e faça o Teste da Personalidade Agridoce clicando aqui.
Trecho do livro
Estudos descobriram que estados de espírito tristes tendem a aguçar a nossa atenção: eles nos deixam mais concentrados e detalhistas, melhoram nossa memória e corrigem nossos vieses cognitivos. Por exemplo, o professor de psicologia da Universidade de Nova Gales do Sul Joseph Forgas descobriu que as pessoas são mais capazes de se lembrar de itens que viram em uma loja em dias nublados do que em dias ensolarados.
Há muitas explicações possíveis para tais descobertas, é claro. Seja qual for a teoria, não devemos cometer o erro de compreender a escuridão como o único ou mesmo o principal catalisador da criatividade. Afinal, muitas pessoas criativas são do tipo sanguíneo. Outros estudos também mostram que é mais provável que insights surjam quando nosso estado de espírito é bom. Também sabemos que a depressão clínica mata a criatividade.
Pode ser mais útil ver a criatividade através das lentes do agridoce — do contato simultâneo com a escuridão e a luz. Não é que a dor necessariamente se torne arte. É que a criatividade tem o poder de olhar a dor nos olhos e decidir transformá-la em algo melhor.
Estudos preliminares mostram que pessoas com pontuações altas no Teste agridoce tendem a ter pontuação alta na característica de absorção, que prevê a criatividade. E Christina Ting Fong, professora da Escola de Negócios da Universidade de Washington, descobriu que as pessoas que experimentam emoções positivas e negativas ao mesmo tempo são melhores em fazer saltos associativos e em enxergar conexões entre conceitos aparentemente não relacionados.
Susan David ensina clientes, inclusive das Nações Unidas, do Google e da Ernst & Young, sobre “agilidade emocional”, que ela define como um processo de “sustentar emoções e pensamentos difíceis com leveza, encarando-os com coragem e compaixão, e depois superá-los para iniciar a mudança em sua vida”.
Mas, quando observa nossa cultura global de trabalho hoje, ela vê muitas pessoas presas na fase em que ela mesma se encontrava logo depois de perder o pai aos 15 anos, quando ainda sorria em público e vomitava sorvete em particular. Ela vê uma “tirania da positividade” segundo a qual você nunca deve chorar no trabalho, mas se não puder evitar, pelo amor de Deus, faça isso em silêncio e no banheiro.
Para Susan, esse é um grande problema. Não apenas porque é bem melhor enxergar a vida claramente, com todo o seu aspecto agridoce. Mas também porque, se não nos permitimos emoções difíceis, como tristeza e anseio, tais sentimentos nos enfraquecerão a cada passo. “Pesquisas sobre repressão emocional mostram que, quando as emoções são postas de lado ou ignoradas, elas se tornam mais fortes”, explica Susan em sua famosa palestra TED. “Os psicólogos chamam isso de amplificação. Como aquele delicioso bolo de chocolate na geladeira: quanto mais você tenta ignorá-lo, mais ele controla você. Você pode até pensar que está no controle das emoções indesejadas quando as ignora, mas, na verdade, são elas que controlam você. A dor interior sempre encontra um jeito de sair. Sempre. E quem paga o preço? Nós. Nossos filhos, colegas, comunidades.”
Ela reforça que não é “contra a felicidade”, que gosta de ser feliz. Susan e eu somos amigas próximas e posso garantir que é verdade. Ela é naturalmente alto-astral, calorosa e afetuosa, ri com facilidade e tem um sorriso com covinhas. Costuma iniciar os e-mails dizendo “Oi, linda”, e isso é como receber um abraço verbal. Susan está sempre de braços abertos para a vida e o amor, disposta a tudo. Acho que é por ser tão alegre que as pessoas recebem sua mensagem tão bem. Elas desabafam com ela sobre todas as coisas que gostariam de não sentir. “Não quero sofrer”, dizem. Ou: “Não quero fracassar.”
“Eu entendo”, Susan responde. “Mas vocês têm objetivos de gente morta. Somente gente morta nunca se estressa, nunca sofre, nunca vive a decepção de um fracasso.”