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Empresas que promovem este tipo de ação são mais rentáveis

Companhias que se preocupam com a responsabilidade social não fazem bem apenas à comunidade, mas também aos negócios

Por Alexa Meirelles e Juliana Américo
Atualizado em 5 dez 2020, 20h48 - Publicado em 14 abr 2020, 06h00
Carlos Henrique Ferreira, VP do Instituto Renault: capacitação de costureiras em comunidade carente de São José dos Pinhais (PR) |  (Foto: Guilherme Pupo/VOCÊ S/A)
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As empresas devem olhar apenas o lucro ou precisam se comprometer com desenvolvimento sustentável, redução da desigualdade social, preservação do meio ambiente e preocupação com a sociedade? Esse questionamento tem sido cada vez mais frequente dentro e fora das companhias. E dados comprovam essa percepção.

Do ponto de vista do consumo, os compradores estimulam empresas que se dedicam a temas socioambientais. Tanto que uma pesquisa realizada pela consultoria Nielsen em 2015 com 30 000 pessoas em 60 países revelou que 66% delas estavam dispostas a pagar mais por produtos e serviços de companhias comprometidas com essas questões.

No Brasil, os números são parecidos: 74% dos brasileiros preferem consumir produtos e serviços de empresas que tenham programas sustentáveis e 46% estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços dessas empresas, segundo outro levantamento da consultoria feito em 2012.

Consequentemente, ter uma atuação engajada influencia positivamente nos resultados das organizações. Ainda de acordo com a Nielsen, as marcas sustentáveis cresceram 4% a mais em 2015 do que as que não tinham políticas desse tipo. Globalmente, 65% do total das vendas foi gerado por companhias com responsabilidade social.

Quando o assunto é investimento, essas organizações também se destacam como as mais valorizadas e confiáveis. De 2005 a 2018, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 (bolsa de valores de São Paulo) — estabelecido para analisar a performance das empresas em aspectos sustentáveis — apresentou rentabilidade de 203,8%, ante 175,38% do Ibovespa. No mesmo período, o ISE teve a menor volatilidade: 24,67%, enquanto a do Ibovespa foi de 27,46%.

Por trás de tudo isso está a responsabilidade social — uma maneira de conduzir as atividades empresariais pensando holisticamente na sociedade e no ambiente, mas sem deixar de lado os indicadores positivos de negócio. Há redução de custo, melhoria da produtividade, crescimento da receita, acesso ao mercado de capitais e aumento das exportações.

“Também há indicadores intangíveis, como valorização da marca, lealdade do consumidor e engajamento dos funcionários”, diz Haroldo Mattos Lemos, coordenador do MBA em gestão ambiental e sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV). Mas boa vontade não basta para criar ações desse tipo. “O desafio é contratar um profissional ou uma consultoria com profundo conhecimento desse ramo. Se você não sabe o que e como fazer, os resultados não vão ser bons e você acabará gastando muito dinheiro”, diz Haroldo.

Perto de casa

Empresas que promovem este tipo de ação são mais rentáveis
(ISO 26000/VOCÊ S/A)

As companhias que estão nas 150 Melhores Empresas de 2019 já entendem a importância do engajamento em causas socioambientais. Tanto que todas realizam ações de cunho social e 95% delas possuem programas de preservação da natureza — esses índices caem para 89% e 62%, respectivamente, entre as empresas que não se classificaram neste Guia.

Na montadora Renault, por exemplo, as práticas são variadas. Há desde a adequação à ISO 26 000  até ações de educação no trânsito. Mas um projeto que chama a atenção é o de desenvolvimento do bairro Borda do Campo, região da fábrica da empresa em São José dos Pinhais (PR).

“A comunidade é uma das mais violentas da cidade, com sérios problemas de prostituição, tráfico de drogas e agressão contra as mulheres”, explica Carlos Henrique Ferreira, vice-presidente do Instituto Renault (criado em 2010 para reunir as ações de sustentabilidade social e ambiental da companhia).

Há quatro anos, a empresa se uniu ao Borda Viva, uma associação de bairro criada por mulheres da comunidade que usa a costura para arrecadar dinheiro e distribuir alimentos.

A Renault construiu uma nova sede para o grupo de ativistas com direito a ateliê, cozinha industrial e restaurante que atende gratuitamente crianças em idade escolar e que vivem em situação de vulnerabilidade social — são oferecidas mais de 37 000 refeições por ano. Além disso, a montadora treinou as costureiras levando para a Casa da Costura uma designer de produtos e uma estilista, que ensinaram a desenvolver modelos, desenhar peças e garantir a qualidade do produto.

Mas por trás disso havia uma inovação: criar peças com materiais usados na fabricação de automóveis que, antes, seriam descartados. “Dois fornecedores de bancos começaram a doar sobras de tecido, de couro e cintos de segurança”, diz Carlos Henrique.

Desse trabalho surgem necessaires, bolsas, mochilas, sacolas e carteiras, que são vendidas na comunidade, em eventos em outras cidades brasileiras e na loja-conceito da Renault em Paris. Todo o dinheiro é revertido para a comunidade e o faturamento da associação aumentou sete vezes de 2015 a 2018.

Os empregados da multinacional francesa têm um papel importante nesse projeto — por isso, são comunicados sobre as ações e sobre os resultados obtidos pelo Instituto. “Estimular o voluntariado já gerou iniciativas vindas diretamente dos colaboradores, como doação de bicicletas e organização de um festival de rock para arrecadar dinheiro para o Borda Viva”, diz Carlos Henrique.

Unidos pela educação

Já a construtora e incorporadora MPD buscou se engajar focando o desenvolvimento educacional de seus funcionários. Desde 2012 a empresa possui uma escola de alfabetização itinerante que vai até os canteiros de obra dar aulas aos trabalhadores após o expediente. Antes de se sentar nas carteiras, o pessoal tem direito a banho e a um lanche, oferecidos pela companhia.

O professor faz uma avaliação individual para entender qual é a situação dos estudantes (analfabeto, semialfabetizado ou alfabetizado) e prepara aulas de acordo com o nível de cada um. As turmas estudam durante um semestre e, no final, são submetidas à prova do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) para medir seus conhecimentos e analisar o que é preciso melhorar.

Eles continuam com os estudos até atingir a pontuação necessária para obter o diploma do ensino básico (o 9o ano do ensino fundamental). Além dos celetistas da MPD, terceirizados que trabalham nas obras também podem participar.

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Nos oito anos de programa, já foram formadas cerca de 500 pessoas. “Os funcionários dizem que podem passar o que aprendem aos filhos e que estão conseguindo se expressar de maneira melhor”, diz Afonso Caetano, responsável pelas áreas de inovação, processos de negócios e tecnologia da informação da MPD. Um deles revelou a Afonso que, antes das aulas, só pegava ônibus porque decorava o número da linha, mas não conseguia ler o letreiro.

A escola de alfabetização se desdobrou em outro projeto, o de inclusão digital, que teve início em 2016. Em uma sala montada pela empresa, os funcionários têm aulas básicas sobre computação, internet e pacote Office (como Word, Excel e PowerPoint). No fim do curso, que dura seis meses, os alunos fazem apresentações com base nos conceitos ensinados. Trinta pessoas, entre empregados e terceirizados, já participaram do projeto.

Uma delas foi Izabel Honorato, de 58 anos, copeira da MPD que trabalhou na companhia durante nove anos como terceirizada e foi contratada como CLT em 2014. “Mudou muita coisa na minha vida. Aprendi a mexer em redes sociais, a pesquisar preço da passagem para o Nordeste. Antes eu não sabia nem pegar num teclado”, diz. Ela ganhou, inclusive, um dos desktops doados pela empresa.

Cuidado com o meio ambiente

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(engajadas e sustentáveis/VOCÊ S/A)

Há 114 anos no mercado brasileiro, a multinacional de agronegócio e investimentos Bunge encara a responsabilidade socioambiental como um pilar estratégico. Para isso, a empresa ajuda os produtores a cumprir normas florestais de sustentabilidade. De 2013 a 2017, por exemplo, a multinacional contou com o apoio da Ong The Nature Conservancy (TNC) para auxiliar produtores de 19 cidades na Bahia, Mato Grosso e Pará a cumprir integralmente o Novo Código Florestal.

Mais de 25 000 imóveis rurais foram beneficiados pelo projeto. “A Bunge não compra produtos de quem não respeita a lei, mesmo que seja uma boa oportunidade comercial. Para fornecer para nós, tem de ter cadastro ambiental rural e passar por processos internos de verificação”, diz Niveo Maluf, diretor de relações institucionais e sustentabilidade da Bunge.

Mas os projetos ambientais da organização não ficam restritos ao campo — a companhia estimula toda a população a pensar sobre sustentabilidade. Um exemplo é o Soya Recicla, feito em parceria com a ONG Instituto Triângulo, programa cujo objetivo é recolher óleo de cozinha usado e transformá-lo em sabão biodegradável ou em biodiesel. Para isso, há 1 200 pontos de coletas espalhados por todo o país e um estímulo aos doadores: 2 litros de óleo dão direito a duas barras de sabão.

Desde o início do projeto, a Bunge já coletou 6 milhões de litros de óleo, entregou mais de 1,8 milhão de kits de sabão e recolheu quase 5 milhões de embalagens plásticas para a reciclagem. “É um projeto que traz um retorno tangível porque engaja quem quer participar de algo que ajuda o meio ambiente”, diz Niveo.

Internamente, esses projetos ajudam, também, no engajamento dos funcionários. “O Brasil é um dos maiores ativos da companhia na América do Sul. Temos a responsabilidade de dar o exemplo”, diz Andrea Marquez, vice-presidente de gente e gestão da Bunge. Esse exemplo aparece no dia a dia de trabalho — e os chefes têm um papel fundamental. “A sustentabilidade precisa fazer parte da pauta da liderança, sempre tratamos do assunto nas reuniões. A gente trabalha muito para que esse cascateamento seja feito pelos gestores”, diz Andrea.

 

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