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Fim da quarentena: veja o que muda no dia a dia de trabalho

Quais as principais mudanças e os novos hábitos adotados nos escritórios com o retorno às atividades presenciais

Por Bárbara Nór
Atualizado em 10 dez 2020, 20h41 - Publicado em 28 ago 2020, 09h13
Escritório da Unilever, em São Paulo: retorno gradual e pagamento de táxi para quem depende de transporte público (Omar Paixão/VOCÊ S/A)
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No último mês, governos como os de São Paulo e Rio de Janeiro anunciaram o fim gradual da quarentena imposta para controlar a pandemia da covid-19. Os escritórios já podem voltar a funcionar, e as empresas têm mais um desafio nesta crise: retomar o trabalho físico com segurança. Mas elas estão indo com calma.

De acordo com uma pesquisa da consultoria KPMG feita com 722 executivos, 35% preveem que o retorno acontecerá entre setembro e dezembro; 21% planejam a volta ainda em agosto; e 9% só querem regressar em 2021. “Ninguém sabe o que vai acontecer. Todos estão estudando os cenários possíveis e fazendo planos em cima disso”, diz André Coutinho, sócio líder de clientes e mercados da KPMG.

Ainda segundo o levantamento da consultoria, a maior parte das companhias fará a retomada de maneira gradual, sem deixar que todos os funcionários estejam ao mesmo tempo no escritório. O período será de experimentação, inclusive quanto aos protocolos de segurança. “Não existe legislação específica, apenas recomendações de diversos órgãos oficiais”, diz Denise Moraes, diretora de projetos do AKMX, escritório de arquitetura corporativa. Mas já existem alguns consensos sobre quais estratégias as organizações terão que aplicar em cada momento da jornada de trabalho. A seguir, mapeamos as principais mudanças.

Chegando ao trabalho

Quem usa transporte público deve seguir trabalhando de casa — assim como aqueles que são de grupos de risco. Pelo menos esse é o protocolo que empresas como a Unilever, que tem um plano de retomada gradual, estão preferindo adotar.

Nos casos em que é imprescindível a presença no escritório ou na fábrica, a multinacional de bens de consumo está pagando táxi para garantir o deslocamento com menor risco — o benefício também é acessível a quem depende de ônibus, trem ou metrô para acessar o fretado da companhia. E a recepção aos funcionários é diferente: conta com medição de temperatura de todos.

“Quem estiver febril será direcionado para o serviço de saúde”, diz Luciana Paganato, diretora de RH da Unilever. Além dessas medidas, especialistas aconselham que exista flexibilização dos horários de entrada, almoço e saída. “A ideia é evitar aqueles picos de recepção lotada, filas para entrar e sair, e elevadores cheios”, diz a arquiteta Denise.

Na Roche Diagnóstica, divisão da farmacêutica suíça voltada para análises laboratoriais, tablets de leitura facial foram instalados e verificam tanto a temperatura dos empregados quanto se eles estão usando máscara. A empresa também decidiu fazer uma testagem em massa: os cerca de 2.000 empregados e terceiros terão a opção de se submeter a um teste para detectar a covid-19 em um sistema drive-thru.

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Os familiares também poderão fazer o teste a um preço acessível. “Isso é importante porque você consegue monitorar se as ações de prevenção estão funcionando ou não”, diz Henrique Vailati, diretor de RH da Roche Diagnóstica. “Acreditamos que a testagem seja primordial para entender como a pandemia está evoluindo.”

Assim como na Unilever, na farmacêutica quem é do grupo de risco deve continuar em casa, e os que apresentam qualquer sintoma da covid-19 são orientados a não se deslocar até o trabalho. “As empresas precisam criar políticas que permitam às pessoas informar seus sintomas sem ser discriminadas nem prejudicadas”, diz Maura Salaroli, infectologista e gerente médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Sírio-Libanês.

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(Arte/VOCÊ S/A)

Kit de boas-vindas

Em vez de bloquinho ou caneca, há grandes chances de que seu próximo brinde corporativo seja um kit de higiene. Afinal, máscara e álcool em gel têm sido os grandes aliados para se defender da covid-19, e muitas empresas têm distribuído esses itens para os funcionários. Totens de álcool em gel e produtos de limpeza para higienizar mesas e computadores também ganham espaço.

E, claro, a máscara passa a fazer parte do dress code. “O distanciamento social e a máscara são muito importantes para evitar o contágio”, diz Marcos Loreto, diretor médico técnico da Omint, que fornece planos de saúde para empresas. Uma dificuldade, no entanto, é garantir que todos usem o aparato o tempo todo e o troquem a cada duas horas. É comum que muitos vistam a máscara por algum tempo e depois a retirem ou fiquem com ela sem cobrir o nariz e a boca. As companhias terão que criar políticas de educação para explicar aos empregados a importância de usá-la continuamente.

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(Arte/VOCÊ S/A)

Usou, limpou

No caso de equipamentos compartilhados, como impressoras, bebedouros e mesas compartilhadas, é provável que cada um seja responsável por limpá-los antes e depois do uso — e fica a necessidade de higienizar bem as mãos depois da atividade.

Essa medida também exigirá a presença mais frequente de equipes de limpeza, que deverão higienizar os espaços comuns mais vezes ao dia. “As pessoas terão que ter esse cuidado em superfícies altamente tocadas, como botões de elevadores, maçanetas e impressoras”, diz Marcos, da Omint.

No caso das estações de trabalho, os profissionais também devem ser responsáveis por mantê-las sem sujeira. “A ideia é dar autonomia para o próprio usuário limpar sua mesa na frequência que achar mais recomendada”, diz a arquiteta Denise.

Na estação de trabalho

Com pessoas dividindo o mesmo espaço, o desafio é manter a segurança nos ambientes fechados e, normalmente, sem muita circulação de ar dos escritórios. “No começo falavam em colocar divisórias de acrílico em todos os lugares, nos escritórios e até nas praias”, diz Enrico Benedetti, sócio da Arealis, escritório de arquitetura.

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Mas, ele aponta, isso teria impacto negativo, por tornar o ambiente menos agradável. Soluções como distanciar as mesas, aproveitando espaços como salas de reunião e de colaboração, têm ganhado a preferência. Além disso, quando possível, as janelas e portas devem ficar abertas, mesmo com ar-condicionado. “Ter o máximo de ventilação ajuda a evitar que partículas com o vírus se depositem por muito tempo”, explica a infectologista Maura.

Por essas razões as empresas estão adotando sistemas de rodízio de trabalho para diminuir a ocupação do prédio. “A gente deve ter 30% das pessoas trabalhando no escritório, de maneira rotativa”, diz Henrique, da Roche. Na Unilever, a previsão é que, por enquanto, apenas 15% dos empregados voltem à sede da companhia — de forma voluntária e alternada.

Para isso, a empresa desenvolveu um sistema que funciona como uma passagem de avião: o funcionário acessa um aplicativo e “compra” sua passagem para estar na empresa. “Ele responde a um questionário de saúde, diz se usa transporte público para chegar ou não e se apresenta algum risco”, diz Luciana.

Na hora do “check-in”, o sistema aponta qual mesa deverá ser ocupada pelo profissional. E as estações de trabalho terão distância de 2 metros em relação à mesa da frente e de 1,67 metro em relação à mesa ao lado. Além de facilitar o controle do contágio, a medida serve para ir testando as novas possibilidades. “A ideia é treinar todo mundo nos protocolos de distanciamento e em relação aos fluxos de movimento”, diz Luciana. Exemplos são as escadarias e os corredores, que terão rotas determinadas para evitar aglomeração.

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(Arte/VOCÊ S/A)
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Almoço da firma

Na hora do almoço, esqueça aquelas mesas cheias de gente, conversando alto e dividindo sobremesas. Para evitar o contágio, as palavras de ordem agora são precaução e distância. “O refeitório é uma área de alto risco, porque você tira a máscara”, diz Marcos, da Omint. Por isso, as mesas devem ser espaçadas e ocupadas por pessoas longe umas das outras.

Segundo Marcos, o ideal seria que cada um levasse os próprios talheres ou usasse descartáveis, para evitar o compartilhamento de materiais. “Deve-se evitar também o serviço de bufê”, diz. Afinal, os utensílios usados para se servir e a própria comida ficam expostos a todos.

Outra medida envolve, mais uma vez, alternar os grupos. “Se for um número muito grande de pessoas para almoçar, o melhor é escalonar os horários”, diz Maura, do Sírio-Libanês. A famosa pausa para tomar um café e puxar conversa com os colegas também deve ser menos animada — pelo menos por enquanto.

Na Unilever, por exemplo, que não tem refeitório, a quantidade de pessoas por vez nas copas será limitada. Um micro-ondas ficará disponível, mas deve ser higienizado antes e depois de cada uso.

Até o uso dos banheiros mudará. Na Roche, a indicação será de ocupá-los com no máximo duas pessoas — mesmo os sanitários tendo capacidade para muito mais. Uma luz de led do lado de fora irá indicar a lotação. “Medidas assim são mais para educar quanto aos cuidados”, diz Henrique.

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Henrique Vailati, diretor de RH da Roche Diagnóstica: tablets na recepção verificarão a temperatura e se os empregados estão de máscara (Leandro Fonseca/VOCÊ S/A)

Viagens e eventos

A Associação Médica do Texas, nos Estados Unidos, criou uma escala das atividades e locais com mais e menos risco de contágio pelo coronavírus. No topo estão viajar de avião e frequentar grandes eventos. Por isso, prepare-se para continuar fazendo reuniões virtuais, participando de celebrações online e conversando com colegas que trabalham em outras localidades pelo computador, em vez de embarcar numa aeronave.

Embora esses encontros virtuais cortem os custos com viagens corporativas, as companhias precisam investir dinheiro para garantir que os funcionários tenham acesso a boas tecnologias de acesso remoto. “Se você trabalhar com ferramentas que não são eficientes, as pessoas vão querer voltar ao modelo anterior”, diz André, da KPMG. “Serão necessárias plataformas, sistemas e processos automatizados para não ter perda de produtividade.”

Os treinamentos também devem seguir virtualmente, o que, na avaliação de Lucas Nogueira, diretor de recrutamento da Robert Half, consultoria de recrutamento em São Paulo, é um desafio para as empresas. “Uma coisa é treinar o profissional dentro do escritório e ter mais controle sobre o que ele faz. Outra são as ferramentas e mecanismos que existem para treinar alguém de forma remota, especialmente um profissional que acaba de entrar na empresa”, explica.

Tudo isso mostra uma mudança de comportamento: a ideia de que talvez o contato físico não seja sempre necessário para fechar negócios. Práticas como visitas para prospecção de clientes e viagens de negócio estão sendo repensadas, mesmo para depois da pandemia.

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(Arte/VOCÊ S/A)

O novo escritório

Essas transformações indicam que os escritórios deverão ser menores, com pessoas se revezando no uso. Esses ambientes serão vistos como pontos de encontro, e haverá tendência a pulverizar os locais de trabalho, deixando de existir apenas uma sede que abrigue muita gente.

De acordo com Mariana Lima, sócia arquiteta da Arealis, clientes estão mapeando as cidades para oferecer espaços mais próximos às casas dos funcionários, o que possibilitaria a ida ao escritório com menor tempo de deslocamento. Isso é importante porque, para muitos profissionais, trabalhar de casa pode ser inviável e desgastante, seja por falta de espaço ou de estrutura, seja por questões familiares ou particulares e as companhias deve ficar atentas a esses fatores.

Na tentativa de minimizar esses pontos, a Roche Diagnóstica deu alguns benefícios aos funcionários em home office, como uma verba de até 1.000 reais para que quem estivesse em casa pudesse comprar material de escritório, como monitor ou cadeira. “Queríamos fornecer boas ferramentas de trabalho para todos, mesmo em casa”, explica Henrique.

 

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