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42% dos profissionais de RH estão trabalhando mais durante a pandemia

Pesquisa da Convenia mostra que a carga horária aumentou e que reuniões online e mensagens por WhatsApp são desafios para as lideranças

Por Elisa Tozzi
4 jun 2021, 07h00
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  • Como foi a pandemia para o RH? Para responder a essa pergunta a Convenia, software de gestão para RH, fez uma pesquisa em parceria com a TiqueTaque, que ouviu 269 profissionais de recursos humanos de todo o país.

    As descobertas mostram que o RH está trabalhando mais: 4 em cada 10 precisaram aumentar a sua jornada diária. Além disso, o levantamento revela que 45% dos que exercem suas atividades presencialmente afirmam que as empresas não estão tomando os cuidados necessários para evitar a transmissão da covid-19.

    Para Marcelo Furtado, CEO da Convenia, a liderança deve ficar atenta para esses sinais e proteger mais os trabalhadores. A seguir, o executivo comenta os principais pontos da pesquisa.

    Um dado importante da pesquisa é que 42% dos entrevistados estão realizando carga horária acima do contrato. Por que isso acontece?

    No momento em que o trabalho invadiu a casa das pessoas, ficou muito mais fácil perder o limite entre horário de trabalho e horário de descanso. As pessoas se viram trabalhando sem pausas para descanso até muito mais tarde e isso causa um prejuízo grande na qualidade de vida. Os líderes nas empresas não podem fechar os olhos para isso e devem orientar e cobrar dos seus colaboradores que tenham tempo de descanso, que continuem respeitando os horários de suas vidas pessoais, mesmo que trabalhando de casa.

    O que as empresas podem fazer para diminuir esse problema?

    Um dos pontos mais importantes neste sentido é o líder dar o exemplo. Em vez de mandar aquele e-mail no período da noite, guarde a mensagem para o dia seguinte. Em vez de discutir apenas assuntos profissionais, reserve tempo na agenda para falar de outros assuntos com as pessoas do seu time. Comemorar resultados positivos também é uma excelente forma de demonstrar que precisamos parar e, mesmo que no mesmo ambiente físico, ter uma quebra entre a vida pessoal e profissional.

    Entre os profissionais com jornada de trabalho presencial, a pesquisa revela que 45,5% das pessoas dizem que as empresas não tomam cuidados para evitar a transmissão da covid-19. Esse índice é alarmante, por que as empresas relaxaram?

    De fato, este índice foi muito mais alto do que imaginávamos obter antes da pesquisa. Um dos fatores importantes que precisamos destacar é que a pergunta foi feita para que o respondente avaliasse a sua empresa em um nível de 1 a 5, ou seja, respondendo 1 a pessoa discordava completamente da afirmação de que a empresa tomou medidas e 5 concordava completamente. Apenas 3,6% discorda totalmente e outros 5,4% discordam parcialmente.

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    Destaco este ponto pois pode haver uma distinção entre o que a empresa entende como medidas de segurança e o que os indivíduos entendem como algo necessário. E isso é grave. Não ouvir os colaboradores e não aplicar medidas que eles entendem como ideais pode gerar um nível alto de estresse e em pior caso colocá-los em risco real de saúde. A dica é sempre trabalhar em conjunto com os funcionários e chamá-los para participarem das decisões, incluindo quais seriam as medidas de segurança básicas a serem tomadas para a continuidade das operações.

    Mais de 80% das companhias estão usando o WhatsApp como ferramenta de comunicação interna. Quais são os riscos do uso dessa ferramenta?

    É preciso lembrar que o WhatsApp não foi criado para o mercado corporativo. Há um risco mental para o profissional ter no mesmo ambiente mensagens particulares e de trabalho. Em um mundo em que o trabalho remoto levou as empresas para dentro de casa, o estresse pode aumentar quando isso também é levado para o ambiente virtual.

    Há também um outro risco relacionado à segurança de informação. Atualmente, a Lei Geral de Proteção de Dados prevê multas severas para empresas que façam mau uso das informações de pessoas físicas (sejam elas clientes ou até mesmo dos próprios colaboradores). Trafegar mensagens da empresa no WhatsApp aumenta o risco de vazamento de dados.

    Como utilizá-la corretamente?

    A dica é usar o aplicativo de mensagem como um dos canais de comunicação da empresa mais voltado para a integração dos times e menos voltado para os assuntos de trabalho que deveriam estar sendo tratados em plataformas com maior segurança. Outra dica é criar regras para o uso da ferramenta estabelecendo, por exemplo, uma proibição para horários além da jornada de trabalho.

    Para os participantes da pesquisa, as principais dificuldades do trabalho remoto estão na falta da estrutura da empresa e no excesso de reuniões virtuais. Como resolver essas questões?

    A meu ver, são problemas naturais, já que ninguém estava preparado para o trabalho 100% remoto de uma hora para a outra. As nossas casas não foram sequer imaginadas para serem o escritório, a escola. No entanto, vale ressaltar que na grande maioria dos casos as pessoas conseguiram se adaptar a essas dificuldades e manter uma produtividade bastante alta no período.

    Em relação a estrutura (internet e local de trabalho, por exemplo) algumas empresas conseguiram ajudar os funcionários. Na Convenia, por exemplo, nós mandamos, além do computador, mesas e cadeiras para todos que precisavam. Mas há um limite dessas ações pelo alto gasto e foi preciso muito boa vontade dos próprios colaboradores para conseguirem se organizar e organizar os seus locais de trabalho. Ao longo dos meses fomos percebendo que cada vez mais os lugares de trabalho estavam adequados.

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    E sobre as reuniões virtuais, o que fazer?

    Entendo que no começo muitos líderes tentavam “simular” a presença física através do excesso de reuniões virtuais. Entretanto, a dinâmica dessas reuniões é muito mais cansativa do que se fossem presenciais e isso foi levando os times a uma grande fadiga da tela. Isso também é um fator em que houve uma grande adaptação das equipes e fomos aprendendo ao longo do tempo a dimensionar assuntos que precisávamos estar conectados e outros que poderiam ser feitos de forma assíncrona. Importante destacar que a falta de contato (mesmo que seja por videoconferência) também é ruim e pode causar um afastamento do time.

    Uma parte considerável dos RHs em modelo híbrido acredita que o estresse e ansiedade vão crescer, assim como o investimento em programas de saúde mental. As empresas já estão prestando mais atenção nisso?

    Sem dúvida, as empresas estão cada vez mais atentas à saúde mental do colaborador. Infelizmente, nós estamos vivendo um período onde um fator externo (uma pandemia em proporções nunca imaginadas) já causa estresse suficiente em cada família. As empresas precisam também entender que podem ajudar sendo uma fonte de segurança e estabilidade para que os colaboradores passem por este momento da forma mais confortável possível.

    Entendo que isso muitas vezes pode ser difícil, pois as próprias organizações estão ameaçadas, porém, é uma busca necessária. Temos visto em vários casos que os colegas de trabalho e a própria rotina servem de motivação para inúmeros profissionais que estão trancados em suas casas por mais de um ano. É preciso estar atento aos mínimos sinais de queda na saúde mental do time e ter sempre a ajuda de profissionais de saúde para encaminhar os colaboradores que necessitarem.

     

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