Um levantamento inédito mostrou que apenas uma em cada dez pessoas recém-formadas nos cursos de graduação mais populares do Brasil, como Direito, Enfermagem e Administração, conseguem um cargo compatível com seu nível de instrução no modelo CLT. O restante acaba ocupando vagas que exigem somente ensino médio completo.
A taxa de sucesso no mercado de trabalho varia conforme o curso de graduação. Por exemplo: 9% dos graduados em Direito atuam em cargos de nível superior. Nos cursos de Enfermagem e Administração, 7% e 3% dos graduados alcançam tais posições, respectivamente. Em Medicina, 100% dos recém-formados.
Quem realizou o estudo foi uma equipe multidisciplinar da Geofusion, uma empresa especializada em análise de dados, geomarketing e inteligência geográfica de mercado. O grupo combinou informações do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho, analisando quase 100 mil egressos de 2018 (o último período disponível nas bases de dados federais que foram usadas).
Pessoas que ocupam postos de trabalho que exigem um nível menor de formação são chamadas de “overeducated” (ou “supereducadas”, em tradução livre). Até julho deste ano, o grupo representava 4,9 milhões dos trabalhadores brasileiros – e ele aumentou desde o início da pandemia: no primeiro trimestre de 2020, eram 4,3 milhões de pessoas nesta situação.
Segundo Isabela Cavalcanti de Albuquerque, gerente de produtos de dados da Geofusion, este cenário destaca “a necessidade de uma atuação direcionada da gestão pública em conjunto com instituições de ensino, para o desenvolvimento de estratégias que promovam uma conexão mais efetiva entre o ensino e o mercado de trabalho”.
As responsáveis pela pesquisa defendem que os resultados do levantamento poderiam ajudar instituições de ensino a identificar lacunas nas habilidades demandadas pelo mercado, por exemplo, e desenvolver programas específicos para preencher essas necessidades, proporcionando treinamento e capacitação customizados.