A pandemia aumentou a percepção das empresas sobre a temática do capitalismo consciente. Este conceito defende que as companhias devem ampliar suas preocupações para além do lucro, cuidando para que os impacto sociais e ambientais de suas ações sejam positivos. Essa crescente preocupação foi vista pelo Instituto do Capitalismo Consciente Brasil (ICCB), que dobrou o número de empresas associadas neste ano e chegou a 200 companhias parceiras. Entre elas estão Magazine Luiza, Cacau Show e Natura.
Para Hugo Bethlem, chairman do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, a busca por essa maneira de fazer negócios começa pelo entendimento das lideranças de que seu papel é mais amplo do que conseguir resultados financeiros. Em entrevista para VOCÊ RH, ele explica mais sobre o tema.
Porque as empresas estão se preocupando mais com o conceito de capitalismo consciente?
A pandemia do novo coronavírus, a desigualdade econômica e a elevação das injustiças raciais em ascensão, revelaram um problema fundamental e profundo: um sistema econômico que recompensa a maximização da riqueza sobre o bem estar e prioriza o individualismo sobre a interdependência, tem que mudar. Durante anos, o capitalismo para shareholders (acionistas) vem gerando ganhos e concentração de renda absurdos para poucos, enquanto cria dor e miséria para muitos. Precisamos de um capitalismo para stakeholders, que significa ser focado na busca pelo propósito da empresa, gerando lucro para o acionista e ao mesmo tempo em que geramos riqueza para todos stakeholders.
Como disseminar essa preocupação entre as lideranças das companhias?
Um líder consciente é aquele capaz de organizar, mobilizar e engajar pessoas para atingir resultados alinhados ao propósito da empresa. Por meio da pesquisa “Humanizadas”, feita em 2018 e publicada no livro Empreendedorismo Consciente, mostramos dentro do mais “capitalista dos indicadores” que quem pratica os pilares do Capitalismo Consciente tem mais retorno para os acionistas. Isso acontece porque essas empresas engajam muito mais seus colaboradores, fazendo com que os clientes sejam mais fiéis e, por consequência, geram mais retorno aos seus acionistas no longo prazo. Não gostaríamos que o convencimento fosse por esse meio, preferíamos que fosse pela elevação da consciência. Mas é um fato.
Para as empresas, quais são os principais desafios e obstáculos na busca de um capitalismo consciente?
Primeiramente é ter um líder consciente que cuide das pessoas e do planeta, pois um negócio é o reflexo de sua gente e as pessoas são um reflexo de seus líderes. Isso significa que, se os líderes querem transformar seus negócios, eles precisam primeiramente mudar e transformar a si mesmos. Em termos de obstáculos, cito dois. O primeiro é entender que uma empresa existe para ser perpétua e não está numa corrida de curta distância onde não há linha de chegada. O segundo é mudar as métricas de avaliação: a empresa nunca irá desempenhar seu potencial completo para as pessoas e para o planeta num sistema de incentivos desalinhados e numa cultura de normas adversas.
O ICCB está treinando associados brasileiros para se tornarem embaixadores do tema. Quais são os pilares desse treinamento?
Não somos um instituto certificador e, por isso, buscávamos um modelo de certificação que fosse voltado para os líderes para que eles ampliassem sua consciência para entender que um líder consciente não deve levar as pessoas nas costas e fazer as coisas por elas, mas levar as pessoas no coração e indicar o caminho a ser seguido. É uma formação de 8 horas, dividida em 4 aulas, dadas ao vivo no formato online. O embaixador certificado fica apto a falar de Capitalismo Consciente em seu dia a dia, em palestras e em aulas. O participante ganha, ao final, um certificado e um selo especial de Embaixador Certificado. Já formamos três turmas e a última deste ano está em formação. Abriremos novas turmas a partir de fevereiro de 2021 e os interessados podem se associar pelo site do ICCB e já pedirem suas reservas de vagas para as próximas turmas.
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