Mentiras no currículo não são novidades. Mas durante a crise da covid-19, os profissionais estão faltando mais com a verdade em seus CVs. A revelação vem da empresa de recrutamento e seleção Heach Recursos Humanos que analisou 750 candidatos e descobriu que 61% dos currículos tinham algum tipo de adulteração. Em 2019, quando o mesmo estudo foi realizado, o índice era de 42%. Embora o desemprego esteja alto e a busca por vagas acirrada, inverdades no CV não são uma boa estratégia para conquistar uma vaga.
Em entrevista para VOCÊ RH, Elcio Paulo Teixeira, CEO da Heach Recursos Humanos, explica como lidar com esse problema.
Quais são as estratégias para os recrutadores perceberem as mentiras no currículo?
A primeira coisa é analisar a trilha do currículo para entender se a cronologia faz sentido. Uma das principais falhas dos “mentirosos” é errar a cronologia dos fatos, confundindo tempo de permanência nas empresas, tempo de duração de cursos, por exemplo.
Outra coisa é verificar se há múltiplos currículos do candidato em bancos de talentos. Num processo seletivo recente observamos que o mesmo candidato tinha sete versões diferentes de currículos, com passagens por empresas e cargos diferentes em cada uma delas.
O recrutador deve estar preparado para cruzar todas as informações disponíveis, inclusive realizar buscas na internet e nas redes sociais, que se tornaram uma fonte preciosa para encontrar evidências dos candidatos.
Quais são as mentiras mais graves e as que costumam ser perdoadas?
As mentiras mais graves são as que estão relacionadas à falsificação de documentos profissionais, como carteira de trabalho, carta de referências e a formação, e há hoje, um universo muito grande de currículos com formação fantasma e diplomas falsos. Há também muita mentira relacionada aos cargos ocupados, funções exercidas e tempo de serviço.
É recorrente haver uma inflada no nível de domínio de idioma, o que muitas vezes pode ser perdoado pelo recrutador pela falta de prática do candidato, o que efetivamente reduz a fluência.
É comum vermos políticos e outras figuras públicas que mentem no currículo e que costumam colocar, principalmente, diplomas que não receberam. Isso é algo cultural do Brasil?
Curiosamente há muita mentira nos currículos para as posições mais estratégicas, muito por vaidade do candidato, mas também por uma tendência cultural à megalomania curricular, como alguém que fez um programa executivo, se auto intitula “mestre”. Além disso, há o fato de muitas empresas relevarem a mentira e não tomarem providências legais, o que de certa forma torna permissivo o comportamento .
O fato é que cada vez mais os bancos de currículos são compartilhados por empresas, sobretudo na era do uso da Inteligência Artificial. Uma vez que a mentira fique evidenciada num banco compartilhado de currículos, o candidato entra para uma lista de profissionais indesejados, prejudicando a sua carreira para sempre.
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