São Paulo – Compulsivos ou de ocasião, é fato (e, não, fake news) que mentirosos e pessoas antiéticas infectam ambientes em todos os setores da economia.
Há quase uma década entrevistando candidatos em busca de emprego e de olho no que acontece no mercado de recrutamento, Lucas Oggiam, gerente executivo da Page Personnel, já soube, viu e ouviu toda espécie de mentiras de um lado e de outro do balcão.
As fake news do mercado de trabalho, segundo Oggiam, estão nos currículos, na boca de candidatos em entrevistas de emprego, na estratégia antiética de empresas e na falta de coragem de entrevistadores de dizer a real para quem é cortado de um processo seletivo.
Confira as mentiras que o recrutador vê e escuta com mais frequência:
Empresas:
Vagas falsas:
“Desde que comecei a atuar no mercado de recrutamento, ouço sobre e vejo empresas e consultorias que divulgam anúncios de vagas falsas para criar banco de dados. Acontece muito no mercado”, diz Oggiam.
O objetivo por trás dessa estratégia pode ser também mapear o mercado, verificar as pretensões salariais e benefícios. “Do lado das empresas, essa é a mentira mais crítica”, diz.
Ele alerta para o fato de que existem alguns aproveitadores que divulgam informações falsas de empregos para obter dados pessoais dos candidatos e, posteriormente vendê-las, para golpistas.
Feedback:
Feedbacks consistentes e verdadeiros sobre a razão por que um candidato foi eliminado de um processo seletivo são raros. “É um tema delicado, as pessoas não lidam bem na nossa cultura”, diz.
Questões técnicas são mais fáceis de serem transmitidas com objetividade, mas ainda sim, há recrutadores que preferem não dizer aos candidatos a verdade quando avaliam que seu nível de inglês deixou a desejar numa entrevista, por exemplo.
Oggiam diz também que raramente o candidato vai ouvir que durante o processo seletivo não conseguiu demonstrar boa capacidade de relacionamento interpessoal ou que o cliente contratante não se identificou com ele.
Candidatos:
Motivo da demissão:
“Em oito anos entrevistando candidatos, só uma pessoa me disse que havia sido demitida por performance ruim”, diz Oggiam.
Em vez disso, ele ouve quase sempre sobre reestruturações de equipes e cortes na hora em que profissionais justificam motivos de dispensa. “É a explicação mais comum, sobretudo depois de 2014”, diz.
Bons entrevistadores investigam o motivo da performance de um profissional não ter atingido o esperado em função. “Mau desempenho não é sinônimo de incompetência, vale examinar, pode ser uma questão situacional. Faz parte da vida”, diz.
Profissionais sinceros sempre somam pontos com Oggiam. “Há um ganho de intimidade”, diz. A quebra de confiança quando a omissão ou mentira é descoberta significa o fim da linha para qualquer candidato que esteja participando de um processo seletivo.
Salário:
Aumentar o valor do contracheque é uma estratégia tão antiética quanto comum no mercado, segundo o recrutador. E o pior: é uma das mentiras mais difíceis de se descobrir, ainda mais, quando o profissional recebe como pessoa jurídica (PJ).
“Ninguém abre valor e, por ser mais difícil de checar, há profissionais que se sentem à vontade para dizer que ganhavam mais”, diz Oggiam.
Diplomas, certificados
“Papel e teclado aceitam tudo. É que poucas empresas checam as informações mas, se todo mundo verificasse as informações, o número de pessoas pegas mentindo seria bem maior”, diz Oggiam.
Ele conta de um candidato sem a formação acadêmica exigida que achou que a falta do diploma não seria descoberta. “Ele tinha competências técnicas e comportamentais, mas não tinha terminado o curso”, diz. Descoberto, foi cortado da seleção, obviamente.
Certificados inventados, informações falsas sobre carga horária de cursos, extensões e até intercâmbios que nunca ocorreram são também táticas usadas por profissionais de má-fé para se destacar no processo.
Competências
Há quem aumente e há, sim, quem invente habilidades na esperança de nunca ter que comprová-las no ambiente de trabalho. Quem toma esse caminho geralmente não se sustenta quando é testado no detalhe.
Situações relatadas por Oggiam vão do nível de domínio de um idioma a experiências de liderança em projetos duvidosos. “O candidato colocar que tem nível de inglês avançado, mas travar na hora da conversa no idioma é o exemplo mais comum de situação em que se potencializa um quesito técnico”, diz.