Black Friday: assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

“Se as empresas não prepararem sua força de trabalho, vão sumir”

Esta é a percepção de Kelly Palmer, especialista em educação. A americana acredita que o aprendizado contínuo precisa estar no radar das companhias

Por Hanna Oliveira
Atualizado em 12 fev 2021, 20h25 - Publicado em 12 fev 2021, 16h35
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Esta reportagem faz parte da VOCÊ RH 71 (dezembro / janeiro)

    A educação foi um dos setores que mais precisaram — e continuam precisando — se reinventar por causa da pandemia. A crise da covid-19 acelerou tendências da área, e as aulas online se tornaram padrão, inclusive nos treinamentos corporativos. Todas essas mudanças vieram para ficar. É nisso que acredita Kelly Palmer, chefe de aprendizagem da Degreed, empresa de educação digital, e autora do livro The Expertise Economy (“A economia da expertise”, em tradução livre, sem edição no Brasil). Especialista em educação e palestrante sobre o tema, ela já atuou em empresas como LinkedIn e Yahoo. Em entrevista para VOCÊ RH, a americana explica por que investir em aprendizado não é uma alternativa, é sobrevivência. Sem isso, empresas e profissionais não conseguirão se manter relevantes e se manter no mercado nas próximas décadas.

    Para montar seu propósito, a Degreed se inspirou na fala do ex-presidente americano J.F. Kennedy sobre levar o homem à Lua, quando disse que os Estados Unidos estavam fazendo aquilo “não por ser fácil, mas justamente por ser difícil”. Com isso em mente, quão desafiador é implementar um modelo educacional corporativo hoje?

    Quando eu entrei na área de aprendizagem, vi que as coisas não estavam muito avançadas e que, na verdade, eram até um pouco antiquadas. As pessoas ainda pensam que aprender é estar em uma sala de aula e ouvir — voltando à época da escola. Sempre que perguntava aos outros o que tinham aprendido recentemente, eles diziam que não sabiam — a não ser que tivessem entrado há pouco numa sala de aula. Mas estamos o tempo todo aprendendo. Acredito que existem empresas que ainda estão presas ao modelo antigo de aprendizagem e pensamento. E elas vão levar um pouco mais de tempo para mudar, apesar de a pandemia ter acelerado a preocupação sobre isso.

    Os desafios da educação corporativa estão evoluindo?

    Ainda vejo problemas em ultrapassar a compreensão de que a aprendizagem ocorre apenas da maneira tradicional, em aulas e leituras. E muito dessa dificuldade tem a ver com a percepção da liderança: se a chefia acredita que isso é aprendizagem, fica difícil criar uma estratégia diferente. Mas, depois que as empresas entendem que é preciso transformar o modo como os funcionários aprendem, o próximo passo é ajudá-los a desenvolver novas habilidades. E a parte difícil é identificar em qual etapa da aprendizagem de competências as pessoas estão — é preciso medir como estão progredindo, se estão aprendendo skills do futuro. No RH, por exemplo, vemos a necessidade de trabalhar mais com dados e people analytics. São conhecimentos que estão se tornando populares, mas poucas pessoas da área os possuem.

    Continua após a publicidade

    Falamos muito sobre o futuro do trabalho, mas a pandemia nos fez perceber que o futuro está mais próximo do que imaginávamos. Quais foram as principais mudanças que a crise trouxe?

    Nós estamos vivendo numa nova realidade e há assuntos importantes para pensar agora, como trabalho e aprendizado remotos — temas que mudarão a cultura das companhias. Muitas empresas e líderes têm incentivado as discussões sobre essas questões. Estávamos resistindo a experimentar coisas novas, e a pandemia nos forçou a entrar nessas novas situações. Um exemplo é o home office: depois de alguns meses, quem nunca havia nem considerado trabalhar à distância estava amando. Outro exemplo é a educação: muitos se surpreenderam ao perceber que podiam aprender online e em casa.

    Ainda discutindo o futuro, como prever habilidades que estarão em alta em um mundo de transformações tão velozes?

    No passado, a área de RH era muito prescritiva sobre o que e como aprender, mas agora nós queremos que as pessoas tenham protagonismo em seu processo educacional. Mas elas continuam buscando um guia — tanto que uma das perguntas que mais ouço é: “Estou sobrecarregado, em que devo focar agora?”. No caso das empresas, é necessário entender a estratégia da companhia e quais serão as habilidades necessárias. Sabemos que as competências mudam muito, então devemos identificar de três a cinco que são prioritárias em cada setor. Marketing, dados e storytelling são importantes, por exemplo.

    Continua após a publicidade

    Os líderes devem auxiliar nesse processo?

    Não importa quantos programas de aprendizado o RH está criando se os líderes não dão apoio e não se envolvem. Eles devem dar direcionamento, mostrando quais habilidades serão muito importantes. Mas é preciso olhar no nível individual também, pensando na própria carreira. Então, se pergunte: quais são as competências que passaram a ser exigidas de você ou que serão necessárias para mudar de área ou de emprego? Importante lembrar que algumas delas você pode tirar de suas experiências profissionais — e que muitas são humanas e únicas, não serão substituídas por inteligências artificiais. É o caso da comunicação, da empatia, da inteligência emocional e da curiosidade.

    Qual é o impacto econômico de uma força de trabalho despreparada?

    Uma empresa em que trabalhei por muitos anos ficou complacente diante das mudanças. Como resultado, não conseguiu permanecer no mercado e teve que vender sua operação. E essa será a realidade de muitas companhias. Acredito que 50% desaparecerão nos próximos dez anos, como explico em meu livro. Se as empresas não prepararem sua força de trabalho, vão sumir do mercado. Se, por exemplo, o Walmart não treinasse os funcionários em vendas online, perderiam participação no mercado e poderiam deixar de existir na próxima década.

    Como você descreveria um profissional que é um aprendiz constante?

    No mundo Vuca não temos opção. Se você, como indivíduo, quer permanecer competitivo, significa que quer aprender o tempo todo. Antes costumávamos ir para a universidade, estudar por quatro anos, pegar o diploma, e isso seria o suficiente para toda a carreira. Hoje é comum que jovens recém-formados já comecem a se preocupar com as próximas habilidades que terão de aprender. Aprendizagem contínua significa que o que aprendemos antes não vai nos direcionar para o resto da vida. Não é mais possível ser passivo sobre a educação; temos que assumir o desafio e nos perguntar o que mais podemos aprender. Se as pessoas precisarem desenvolver apenas uma habilidade, meu conselho é buscar pela curiosidade de aprender coisas novas o tempo todo.

    Continua após a publicidade

    Você teve alguma experiência pessoal que a ajudou a perceber que o processo de aprendizagem nas empresas precisa mudar?

    Quando estava no início de carreira, era responsável pelo desenvolvimento de produtos, e meu chefe pediu para eu entrar em um novo projeto. Estávamos comprando uma nova empresa, e eu teria que integrá-la em nossos negócios. Fiquei um pouco surpresa no início, não me sentia capaz e fiquei pensando que não tinha as habilidades necessárias. Mas meu gestor acreditou em mim, acreditou que eu aprenderia fazendo o trabalho. E eu aprendi. Tanto que esse se tornou meu trabalho integral por quatro anos. Se um líder dá a um funcionário novas tarefas e responsabilidades, é maravilhoso ver quantas novas competências ele tem o potencial de desenvolver e o que consegue aprender. Às vezes, isso se transforma em uma nova carreira, como foi o meu caso.

    Quer ter acesso a todos os conteúdos exclusivos de VOCÊ RH? É só clicar aqui para ser nosso assinante.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Você RH impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 10,99/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.