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Semana de 8 horas: dá para ter a mesma produtividade com menos trabalho?

Estudo aponta que 8 horas semanais é o período ideal para ter bem-estar psicológico e melhores entregas. Como quebrar paradigmas e ter expedientes menores?

Por Elisa Tozzi
5 Maio 2021, 09h00
Imagem mostra uma mulher de maiô branco em cima de uma boia rosa em formato de Flamingo no meio de um mar azul claro.
 (Pexels / LRM/Divulgação)
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Quantas horas você está trabalhando por dia? Se seguir a lei trabalhista brasileira, você deve fechar o notebook depois de 8 horas diárias. Se está no time de quem se desdobra para dar conta de tantas demandas, deve extrapolar facilmente as 40 horas semanais.

Qualquer que seja o caso, o tempo trabalhado está muito acima daquele que os cientistas descobriram como o ideal em termos de satisfação e saúde mental. Pesquisadores da Universidade Cambridge, no Reino Unido, usaram dados do levantamento UK Household Longitudinal Study, feito com mais de 71.000 pessoas entre 16 e 64 anos, e descobriram que o tempo ideal de trabalho é de apenas 8 horas semanais – sim, semanais. Segundo os acadêmicos, esse é o montante de horas que aumenta o bem-estar mental dos profissionais, o que refletiria em entregas melhores para as empresas.

Isso significa que há espaço para que a duração da semana de trabalho seja repensada – na Espanha, por exemplo, já existe um experimento para criar finais de semana de 3 dias. Mas é possível ser produtivo nesse modelo de menos horas trabalhadas e conseguir equilíbrio no trabalho presencial e remoto?

Para Sarah Hirota, líder de pessoas da Fhinck, startup de geração de dados de trabalho, a resposta é sim. Mas, segunda ela, isso só será possível quando as empresas quebrarem paradigmas e começarem a medir os resultados não pela “hora/homem”, mas pelas entregas. Na entrevista a seguir, a executiva explica como fazer isso.

O tempo, que já era uma questão importante no passado, tem se tornado ainda mais relevante no home office já que, agora, não temos mais a disputa pelo “espaço” entre vida pessoal e profissional, mas a disputa pelo tempo. Tendo isso em vista, quais são as melhores maneiras de se organizar para encontrar uma maneira de ser produtivo no trabalho dando conta das demandas da vida pessoal?

Sempre que possível, temos que tornar física a distinção do trabalho e de nossas rotinas pessoais, assim, ter um espaço específico e preparado para o trabalho é importante, com uma boa ergonomia e que permita um certo isolamento de possíveis distrações ou interferências. Um segundo ponto é a agenda de atividades e reuniões. Muito do que antes era marcado por aspectos físicos como deslocar-se para uma sala, passando pelo café, por exemplo, ou até em um deslocamento que envolvia um trajeto mais extenso, agora não existe mais, tornando muito fácil de a pessoa alternar entre atividades de concentração, reuniões, treinamentos ou estudo seguidamente, sem que haja um intervalo para que o corpo e, principalmente, o cérebro se desconectem de uma atividade e se preparem para iniciar outra.

Finalmente, temos também novas atividades que precisam ser incluídas nas rotinas. Antes, para tomar um café ou fazer uma refeição, bastava eu ir até o restaurante ou o refeitório, comer e retornar para o trabalho. Agora preciso preparar meu café e minha refeição ou fazer o pedido de entrega com antecedência e depois lavar a louça; aquela uma hora do dia que eu separava antes não é mais suficiente.

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Como essa rotina vai se transformar quando o modelo híbrido de trabalho ganhar força?

Ainda passando pelos três pontos colocados, temos a questão da interação entre as pessoas. É neste quesito que o modelo híbrido ganha força. O ser humano é um ser social e que precisa do relacionamento e da interação, principalmente para desenvolver características e habilidades como criatividade e inovação, bastante demandadas atualmente. O modelo híbrido permitirá que os times trabalhem tanto de forma isolada, autônoma e focada em suas atividades e entregas, mas ao mesmo tempo tenham momentos em que realizem trocas e interações para realizarem planejamento, ideações, análises e decisões. As empresas que conseguirem realizar esse balanceamento de forma inteligente, utilizando análise robusta de dados para entender o perfil e necessidade de cada indivíduo e adequando suas políticas por meio de experimentação e velocidade, conseguirão extrair melhores resultados dessa nova realidade.

Há pesquisas que indicam que o ideal seria trabalhar apenas 8 horas semanais e não diárias, como a lei trabalhista determina no Brasil. Isso é uma realidade possível?

Se pensarmos em medir e remunerar o trabalho por resultados e entregas, e não pelo tempo (valor homem/hora), sim, é possível. Há estudos que mostram que, em uma jornada de 8 horas diárias, as pessoas sentem-se realmente produtivas apenas três horas – isso olhando para apenas um dia de trabalho. Se expandirmos para uma análise da semana ou até do mês, pensando em como as atividades são distribuídas, certamente há espaço para otimizar e repensar as rotinas.

Porém é uma mudança cultural bastante complexa, por ser algo que está enraizado nas pessoas. Fomos educados e programados para medir nosso esforço pelo tempo que empregamos para cada atividade e não pelo valor gerado por ela. Mas isso vem de um período industrial, onde era muito oneroso ter esse olhar mais individualizado.

A falta de controle sobre as jornadas aumentam os riscos trabalhistas e de saúde, como o  desequilíbrio no almoço (não almoçar, almoçar em reunião e se alimentar bem mais tarde) e a falta de descanso mínimo entre jornadas (mínimo de 11 horas de descanso). Também notamos no levantamento a falta de controle e sobrecarga em sobre volume de reuniões e, por fim, aumento do isolacionismo digital entre colegas de trabalho (comunicação isolada em pequenos grupos).

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Diversos levantamentos mostram que as pessoas estão mais ansiosas e com mais risco de sofrer burnout e depressão devido à pandemia e à carga de trabalho. O que as empresas devem fazer para tornar a rotina dos funcionários mais produtiva e menos estressante?

As empresas precisam trabalhar em três pilares: prevenção das situações que podem desencadear burnout e depressão; detecção precoce de possíveis casos; e suporte ao acompanhamento e tratamento dos casos identificados. Para o primeiro pilar, as empresas devem começar dando condições para que as pessoas se apropriem, minimamente, de um espaço de trabalho e tenham uma estrutura adequada às necessidades de suas atividades (computador, internet etc). Além disso, benefícios como auxílio nutricional, apoio psicológico, ferramentas online de práticas de bem-estar (ioga, meditação, exercícios e outros) também são importantes.

Implementar ações mais simples, como bloquear agenda no horário de almoço para que não sejam agendadas reuniões, criar um dia na semana sem reuniões ou orientar os colaboradores a manterem um intervalo entre os compromissos, permitem uma melhor transição para nosso cérebro e ajudam na organização do dia a dia.

Para trabalhar na identificação de possíveis casos, muitos RHs estão incentivando reuniões individuais para conversar com cada profissional, buscando identificar eventuais pontos de atenção quanto ao seu estado emocional. Complementar isso com soluções para coletar dados sobre o estado do funcionário de forma automática ou proativa, como pesquisas em pílulas/termômetros, ajudam a identificar pessoas que estejam em situação de risco e a mostrar gatilhos e oportunidades de a empresa atuar preventivamente.

Ainda existe o entendimento de que ser produtivo é fazer sempre mais. Isso é um mito?

Produtividade é uma busca constante de melhoria de vida do ser humano. Toda a evolução da humanidade está baseada na busca contínua em fazer mais com menos energia/recursos/tempo. Isso implica no exercício de revisar processos e tarefas diariamente e empregar melhorias contínuas. Existem softwares que fazem isso de forma automática, equilibrando a jornada de trabalho, inclusive.

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Produtividade é saber que o tempo é o recurso mais valioso, mas poucas pessoas, e até mesmo empresas, entendem isso. Saber usar o seu tempo, com inteligência e disciplina, permite realizar o essencial para a evolução profissional e pessoal. Hoje, estamos passando por um período de adaptação do cérebro humano no qual somos inundados diariamente com micro mensagens em vários meios de comunicação (reuniões formais, e-mails, chats corporativos, ferramentas de interação e WhatsApp). Sem contar as informações que vamos buscar nos canais que gostamos de consumir. O nível de interação é gigantesco e está causando exaustão mental.

Por isso, mais do que nunca, é essencial que consigamos entender onde, e como gastamos o nosso tempo diariamente, para montarmos estratégias que nos permitam gerenciar melhor nossos recursos e energia. Saber distinguir o que é ruído no dia a dia e o que é essencial contribui para a tão desejada produtividade e eficiência operacional. Na Fhinck, temos uma cultura chamada de MIT (Most Important Thing). Isso nos ajuda periodicamente a entender no que devemos focar, priorizar e entregar valor. Quem considera um mito a busca por produtividade está estacionado no tempo e fadado a desaparecer.

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