pós 20 anos no Itaú BBA, e em cargos de RH em Portugal e na Inglaterra, Tatiana Tamae está há pouco mais de seis meses no Deutsche Bank como diretora de recursos humanos para Brasil e México. Uma trajetória fora do padrão. Desde suas aulas de economia na faculdade, lá no início dos anos 2000, ela notava que mulheres não eram tão bem-vindas no setor financeiro.
Hoje isso vem mudando, mas Tamae faz seu papel para que essa transformação aconteça cada vez mais rápido dentro das empresas. “Antigamente, para permanecer neste ambiente, tínhamos de nos camuflar de homem. Usávamos roupas sempre sóbrias, terninhos. Tudo para passar uma imagem mais masculina. Agora não mais”, diz Tamae.
Ela gosta de conversar com as jovens que participam do programa Dn’A Women – Develop and Achieve, um curso gratuito oferecido pelo banco a estudantes universitárias que querem construir uma carreira no mercado de finanças.
Esse programa teve início antes de Tamae entrar no banco alemão, em 2019, a partir de uma parceria com o Goldman Sachs, o BNP Paribas e o Grupo UBS no Brasil. Ao fim do treinamento, as estudantes têm a oportunidade de adentrar o mercado financeiro podendo, inclusive, integrar o time do Deutsche Bank, que conta com 200 funcionários no Brasil — todos sob o cuidado de Tamae, fora os 30 funcionários no México, pelos quais ela também é responsável.
A seleção é feita por uma companhia terceira, e o programa dura seis meses. “Selecionamos as meninas e as treinamos. Fazemos questão de colocar várias mulheres do mercado financeiro para darem os módulos. Depois, há uma rodada de conversa com executivos dos bancos e, durante toda a jornada, elas têm um mentor de uma dessas instituições”, conta.
Quando ocorre a formatura, muitas das estudantes já estão estagiando em algum dos bancos – ou até mesmo efetivadas.
Para Tatiana Tamae, ter uma mulher na cadeira mais alta de RH é um reflexo do que o banco quer e se esforça para fazer: atrair mais mulheres para os times e, principalmente, para os cargos mais altos.
Ao chegar ao banco alemão, a diretora já deixou avisado aos recrutadores, inclusive, que todos os processos seletivos do Deutsche Bank no Brasil devem ter mulheres entre os finalistas. “Percebi que é uma novidade até para eles, por incrível que pareça. Eu tenho certeza de que, se não colocasse essa regra, só iriam me apresentar homens na shortlist”, afirma.
O próximo passo, diz a executiva, é fechar ainda mais este recorte e pedir ao menos uma candidata negra na fase final. “Você tem que desafiar os fornecedores a ter este olhar, este mapeamento. Eles têm que aprender a buscar também fora da bolha da qual fazem parte”, diz. “Se não desafiar, vamos todos ficar no status quo.”