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Como se tornar uma empresa sustentável e combater a mudança climática

No Dia da Terra, entenda o que as companhias devem fazer para criar uma agenda eficiente de sustentabilidade e conscientizar funcionários e líderes

Por Caroline Marino
22 abr 2021, 08h00
Imagem área da cidade de Los Angeles com um céu cor de rosa por causa da poluição
Poluição no céu de Los Angeles, na Califórnia: aquecimento global chegou a um índice perigoso em 2020 (Westend61/Getty Images)
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Em 2020, a temperatura média da Terra sofreu um aquecimento de 1,2 grau Celsius, de acordo com dados da World Meteorological Organization (WMO). O índice é especialmente perigoso porque está muito perto do limite de 1,5 grau Celsius estabelecido por cientistas como o máximo que pode ser alcançado antes que consequências ainda mais graves para o planeta venham à tona.

Não por acaso, António Guterres, secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), declarou em coletiva de imprensa que “nós estamos à beira de um abismo” e que 2021 deve ser o ano crucial para o combate à mudança climática no mundo. Segundo ele, os governos devem “apresentar contribuições ambiciosas determinadas nacionalmente” e criar planos climáticos muito mais eficientes do que os atuais para a próxima década.

A ameaça é tão profunda que o relatório The Global Risks Report 2020, do Fórum Econômico Mundial, mapeou que todos os cinco maiores riscos às sociedades e empresas no ano passado se relacionavam ao meio ambiente – à frente de questões como armas de destruição em massa, fraudes e roubo de dados e ciberataques, citadas em 2019 (saiba mais no quadro abaixo, Os Perigos da Negligência).

Imagem de uma tabela em azul e amarelo
(VOCÊ RH/VOCÊ RH)

Sustentabilidade no centro dos negócios

Os Estados têm papel fundamental no combate às mudanças climáticas, mas as empresas também precisam agir – afinal, são protagonistas em ações que geram impactos ambientais, como emissão de poluentes, alta pegada de carbono e desmatamento. Mas falar de sustentabilidade não é apenas falar de meio ambiente, mas de negócios, de resultados e de perenidade.

Segundo levantamento feito pela consultoria Humanizadas, em parceria com o Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB), companhias que geram impacto positivo para a sociedade acumularam, entre 2000 e 2019, uma rentabilidade 3,5 vezes superior à média das 500 maiores organizações do país. Esse dado explica porque a Black Rocks, maior gestora de investimentos do mundo, com cerca de US$ 8 trilhões de ativos sob sua administração, coloca a sustentabilidade no centro das decisões de investimento.

Desde 2012, o CEO da companhia, Larry Fink, chama atenção para assuntos de governança corporativa como fator necessário para a perenidade e o desempenho a longo prazo. O comportamento do americano está alinhado com o de outros líderes: uma pesquisa da escola de negócios suíça IMD mostra que 62% dos executivos consideram que uma estratégia de sustentabilidade é fundamental para a competitividade.

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Número
(VOCÊ RH/VOCÊ RH)

Mais valor a longo prazo

A sustentabilidade é importante para criar valor a longo prazo, ainda mais quando as companhias começam a operar nos pilares definidos pelo ESG, sigla em inglês para Environmental, Social e Governance, geralmente usados para medir as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa (saiba mais no quadro Os Três Pilares do ESG).

Mas é preciso tomar alguns cuidados para que essa mentalidade se dissemine na empresa e não fique restrita às necessidades dos acionistas. Segundo Luciana Lima, sócia da ScienceConsulting e professora do Insper nas disciplinas de estratégia de negócios, pessoas e liderança, é necessário criar práticas levando em consideração todas as partes interessadas. Isso porque, se o gestor pensar somente no acionista, vai tomar decisões apenas com foco na maximização do resultado. “É preciso estar em equilíbrio também com os interesses do empregado e da comunidade que atua ao redor do negócio”, diz.

É essencial ainda ter em mente que a sustentabilidade vai além de questões como resíduo e reciclagem. Para que a estratégia sustentável seja eficiente, as companhias devem colocá-la como um pilar estratégico e definir métricas transparentes de governança que abarquem temas como pegada de carbono, emissão indireta de poluentes e uso consciente de água e de energia. “Vale incluir ações para melhorar seu produto usando fontes renováveis, menos uso de petróleo e outros derivados de combustíveis fósseis”, diz Marcus Nakagawa, professor da ESPM, especialista em sustentabilidade e autor do livro 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Editora Labrador).

No guarda-chuva do ESG, o impacto social tem muita força – e aí entram os temas de inclusão, tão em voga na agenda dos profissionais de recursos humanos atualmente. “A diversidade e a representatividade justa do país dentro da empresa são fatores importantes”, diz Marcus.

Os três pilares do ESG

E: termo para o meio ambiente, que se refere às políticas ambientais da companhia, como, por exemplo, medidas em relação a poluição, emissões de gases de efeito estufa e gestão de resíduos.

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S: trata-se do cuidado que a companhia tem com o social, levando em conta funcionários, clientes e comunidades ao redor da empresa. Internamente, tem a ver com garantir o bem-estar e a segurança dos trabalhadores e contar com uma política de diversidade e inclusão. Externamente, em respeitar a política de proteção de dados e apoiar a economia local, por exemplo.

G: este pilar tem relação com os princípios de governança, como manutenção da transparência, composição equilibrada e diversa do conselho, prestação de contas à sociedade e atenção ao código de ética e aos canais de denúncia.

Cuidado com o modismo

Um ponto importante para manter uma agenda de sustentabilidade eficiente é não cair na tentação de adotar ações que se guiem pelo marketing e não pela mudança real do negócio. “Esse é o maior risco. É o que chamamos de greenwashing: fazer 10% e comunicar 90%”, diz João Carlos Redondo, coordenador da comissão de sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Por isso, é melhor que a companhia só comunique suas práticas ao mercado depois de ter percorrido uma jornada e conquistado resultados. Não é nenhuma vergonha, por exemplo, assumir que algumas iniciativas deram errado e discutir os problemas. “Uma empresa se expõe negativamente quando rompe a coerência entre o que fala e o que pratica”, afirma João.

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Capacitar a equipe de marketing e preparar os porta-vozes sobre esses assuntos são cuidados que a companhia deve ter o tempo todo. “Se não tem a convicção de que é necessário avançar nessa agenda, não siga. Não faça por conveniência. Há o risco de tropeçar na comunicação e de gerar uma crise de reputação”, explica o coordenador do IBGC.

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(VOCÊ RH/VOCÊ RH)

RH como guardião da sustentabilidade

A sustentabilidade não é conquistada do dia para noite – exige uma transformação cultural profunda. “É preciso olhar para dentro da empresa, e entender como gerar valor aos seus públicos de relacionamento – empregados, acionistas, investidores, governo, sociedade”, diz João.

Como em qualquer mudança dessa natureza, o RH torna-se um importante articulador. “A área de recursos humanos é uma das grandes guardiãs da governança sustentável. Deve levar informação, conhecimento e traduzir essas questões para o funcionário, inclusive nas práticas de gestão de pessoas”, diz Liliane Rocha, CEO e fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em diversidade e sustentabilidade.

Para isso, inicie alinhando a estratégia da companhia a uma agenda que olhe para os três pilares do ESG. “Observe temas como inclusão e retenção de talentos, compreendendo as necessidades de públicos diferentes, e discutindo questões como benefícios parentais e licença maternidade”, afirma João, IBGC.

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E os funcionários?

Faz parte do escopo de gestão de pessoas entender como essa agenda irá impactar a vida dos empregados. O home office, que ganhou força durante a pandemia de covid-19, é um bom exemplo. Muitas empresas entenderam que esse estilo de trabalho é mais sustentável, pois diminui as emissões de carbono com o menor deslocamento dos profissionais até o local de trabalho, reduz consumo de energia nos prédios corporativos e diminui a geração de lixo dentro das companhias, por exemplo. “Mas a empresa não pode tomar uma decisão sem considerar o interesse de cada funcionário. Isso não será sustentável, pode afetar a produtividade do time e agravar questões mentais de profissionais que trabalham mal em casa”, diz Luciana, do Insper.

Outro ponto é olhar para as funções e para a postura dos trabalhadores, como explica Pablo Carpejani, especialista em sustentabilidade corporativa e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Vale monitorar, por exemplo, se o pessoal da linha produtiva está colaborando com a economia de energia e a redução do uso de água; se as equipes administrativas estão fazendo descarte adequado de papel; se as decisões dos executivos levam em conta questões de sustentabilidade no momento de aprovar um novo projeto; e se a organização, institucionalmente, está ajudando a comunidade ao entorno da companhia. “Algumas empresas já estão colocando na descrição de cargos atribuições de sustentabilidade, além de incluir metas dessa temática nas avaliações de desempenho e na remuneração”, explica Pablo.

A importância da conscientização

Ter uma diretriz estratégica para que todos os funcionários estejam cientes de quais são seus compromissos individuais também entra na pauta do RH. O ideal é já procurar essa mentalidade sustentável no recrutamento, contratando pessoas que estejam alinhadas com a cultura que a empresa quer construir. Mas isso não basta. Deve-se treinar frequentemente os novos contratados e os que já estão na casa há mais tempo.

Esse processo precisa seguir certa racionalidade e, caso a empresa esteja começando, é preferível iniciar o desenvolvimento pela alta liderança – responsável por disseminar os hábitos e a cultura sustentável para o restante da equipe. “Devemos entender o nível de consciência dos líderes e ter em mente que quem toma decisões em uma organização não é o CNPJ, mas as pessoas, com seus valores e princípios. Se a liderança não estiver consciente do seu papel na organização, dificilmente a agenda vai evoluir”, afirma João, do IBGC.

O mais importante nessa jornada é educar e sensibilizar as pessoas sobre a sustentabilidade – ação que irá gerar impacto até fora dos muros das companhias. As lideranças, e especialmente o RH, têm a incumbência de disseminar os motivos que fazem da sustentabilidade um tema crucial, mostrando o quanto as ações sustentáveis são positivas não só para a rentabilidade dos negócios, mas para a sociedade como um todo e para garantir o futuro das próximas gerações.

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Ações para colocar a sustentabilidade na agenda estratégica

1. Faça um diagnóstico
O primeiro passo é mapear as práticas da companhia. Para isso, faça duas perguntas iniciais: quais impactos ambientais a empresa gera por meio de sua operação e de seus produtos? O que a liderança pensa sobre o assunto?

2. Procure referências
Entender quais são as melhores práticas do mercado ajuda no momento de desenhar a própria política. Procure concorrentes, companhias de outros setores e ONGs para trocar informações. A partir disso, construa visões de curto, médio e longo prazos, envolvendo toda a cadeia de funcionários e fornecedores e sempre alinhada à estratégia do negócio.

3. Conte com o apoio de uma área de governança
O setor guia e orienta a empresa no que diz respeito a poder, responsabilidades, direitos e recompensas que afetam diretamente a conduta de todas as partes interessadas. O objetivo da área é criar valor ao negócio de maneira ética e responsável. Os membros dessa equipe permitem que os assuntos da agenda sustentável sejam tratados com qualidade no dia a dia do negócio, e alinhados à estratégia.

4. Reveja os programas e práticas
Analise as ações da empresa e verifique que ajustes devem ser feitos para que a sustentabilidade esteja presente em todas as práticas, programas e projetos. É recomendado fazer essa análise, também, em jobs descriptions e atribuições dos executivos, incluindo métricas e bonificações relacionadas à sustentabilidade.

 

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