Esta reportagem faz parte da edição 75 (agosto/setembro) de VOCÊ RH
A capacitação da força de trabalho ainda é um desafio nacional. Mesmo com uma melhora nos últimos anos, um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) feito em 2019 mostrou que o número de jovens entre 25 e 34 anos com formação superior era de apenas 21%. Com esse percentual, o Brasil está na lanterna dos países latino-americanos presentes no ranking de educação da OCDE.
O Assaí, atacadista com mais de 50.000 funcionários, conhece bem essa realidade — e defende a importância de ações educacionais que partam das empresas. “Sabemos que a educação em nosso país não é tão forte. Entendemos que, como organização, temos a responsabilidade de apoiar o desenvolvimento e a formação das pessoas”, diz Sandra Vicari, diretora de gente e gestão do Assaí Atacadista.
O problema
O Assaí está em franca expansão. Em 2020 foram mais de 5.000 novas contratações. E em 2021 há previsão de abertura de 28 novas lojas. Esse movimento exige uma agenda intensiva de treinamentos e capacitação para os novos funcionários. No entanto, a empresa deparou com um grande desafio em março do ano passado: mais de 90% dos cursos eram realizados presencialmente. Com a pandemia e o isolamento social, foi preciso traçar estratégias para continuar, à distância, o preparo de sua força de trabalho.
Durante essa jornada, havia mais um desafio imposto pela realidade brasileira. Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019 evidenciou que a maior parte da população acessa a internet pelo celular: 81% se conecta pela banda larga móvel e 78% pela banda larga fixa. O percentual de lares que possuem os dois tipos de conexão é de 59%.
A solução
O caminho encontrado pelo Assaí foi construir uma trilha de aprendizado para os diferentes meios de comunicação — inclusive o celular. Para isso, foram totalmente digitalizados os cursos e as trilhas de conhecimento disponíveis na Universidade Assaí, que existe desde 2013 e tem como objetivo capacitar profissionais de todas as áreas da empresa. Há, por exemplo, escolas com foco em operações, comercial, técnico-operacional, liderança e atacado.
Para cada uma das escolas há trilhas de desenvolvimento de acordo com os diferentes níveis hierárquicos. Nelas, há tanto cursos obrigatórios relacionados à segurança, por exemplo, quanto opcionais, que podem ser escolhidos de acordo com as necessidades e expectativas de carreira de cada empregado. “Na escola de liderança há vídeos e podcasts que estão disponíveis para todos”, exemplifica a executiva. Os cursos podem ser acessados pelo celular ou pelo computador, em casa ou nas lojas — que receberam redes de wi-fi de uso exclusivo dos funcionários. Como o trabalho presencial não parou nas unidades da rede, totens foram distribuídos em cada uma delas para que os profissionais também pudessem ter acesso aos treinamentos. Outra novidade é que alguns dos treinamentos foram distribuídos pelo aplicativo de mensagens WhatsApp, amplamente disseminado no país, como mostrou a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box de 2020, que apontou um percentual de 93% de brasileiros que usam a plataforma todos os dias. “Não queríamos deixar de capacitar. Temos a premissa de investir no desenvolvimento das pessoas para sustentar nosso crescimento”, diz Sandra.
A executiva vê a importância da iniciativa também para a segurança dos familiares dos funcionários. “Foram muitos treinamentos sobre cuidados relacionados à pandemia e, assim, pudemos estender a proteção às famílias também”, afirma Sandra. Para garantir o preparo dos profissionais desde o início de sua jornada na empresa, a plataforma de boas-vindas foi integrada à universidade corporativa. Assim que recebem a notícia da contratação, os novos funcionários já são direcionados para os primeiros cursos de preparação. “Por mais que seja online, há uma possibilidade de troca por meio dos chats, nos quais as pessoas podem fazer perguntas”, explica a diretora.
O resultado
O número de acessos aos treinamentos saltou de 13.000 logo após a implementação do projeto em 2020 para 90.000 em 2021. Além disso, foram mais de 170.000 participações em cursos, 1,4 milhão de horas em treinamentos realizados e uma média de 40 horas por funcionário capacitado. “Tínhamos dúvida se nossos funcionários se adaptariam, mas vimos um movimento muito forte de valorização dessas oportunidades”, afirma Sandra.
As mudanças na educação também geraram impactos positivos na satisfação dos empregados. Prova disso é que pesquisas internas do Assaí mostram que 90% dos trabalhadores estão felizes com as possibilidades de crescimento e as oportunidades de carreira — e o engajamento geral da equipe está em 88%. Outro indicador que chama a atenção é o de turnover, que hoje fica entre 20% e 30% — ante uma média de 40% no setor de varejo. “Nosso grande diferencial é a cultura — e isso se faz por meio de pessoas engajadas e envolvidas com o negócio”, diz a executiva. “O desafio agora é organizar a logística do ensino online para mobilizar o maior número de pessoas mais rapidamente.”
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