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Ressaca social: por que parece que ninguém mais vai com a cara de ninguém

Pandemia e eleições polarizadas podem estar por trás do esgotamento mental e da maior irritabilidade após interações sociais

Por Letícia Furlan
Atualizado em 27 jan 2023, 10h18 - Publicado em 28 out 2022, 17h45
Mulher com óculos escuros cor-de-rosa apoiados na cabeça está sentada com as mãos nas têmporas
 (Pexels/Rodnae Productions/Divulgação)
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pandemia e a polarização exacerbada nas eleições popularizaram um estado mental conhecido como ressaca social, que acontece quando o contato com outras pessoas causa um desgaste emocional acima do comum. O fenômeno, geralmente experimentado entre quem tem transtornos como o de ansiedade, leva ao aumento da irritabilidade e do desejo de estar sozinho em busca de alívio. E o resultado é que tem muita gente se estranhando por aí, principalmente no ambiente corporativo — especialmente entre quem está retornando ao trabalho presencial depois de muito tempo em casa.

“Tanto para introvertidos como para extrovertidos, há um elemento em comum atuando: a elevação prolongada do nível de cortisol, o hormônio do estresse — sentimento mais do que comum durante a pandemia e também durante as eleições de 2022″, afirma Roberto Aylmer, médico psiquiatra, professor e especialista em gestão de pessoas. “O cortisol tem um papel importante no curto prazo, pois é ele que nos prepara para a luta ou a fuga diante de um desafio. Mas, quando em níveis altos e por tempo prolongado, desorganiza o funcionamento do cérebro.”

Esse estado faz com que o nosso sistema de alerta se volte para o curto prazo e para a própria sobrevivência, influenciando valores morais como a empatia e a solidariedade. “Nossas relações estão sendo afetadas pelos efeitos de longo prazo do cortisol: maior impaciência, maior intolerância e prontidão para o ‘cancelamento’ de pessoas que nos incomodam”, diz Aylmer. Por isso a sensação de que atualmente são raras as pessoas com as quais “vamos com a cara”. 

O peso das eleições

Com eleições polarizadas, muitas pessoas preferiram se afastar umas das outras, e um clima conflituoso se criou. “Habitar um espaço conflitivo, por causa das eleições ou por qualquer outro motivo, pode causar o fenômeno da ressaca social, principalmente após passar por uma briga desgastante com alguém de que gostamos”, afirma o psicólogo Luckas Reis, consultor da plataforma de saúde mental Vittude. “O momento político fez com que isso acontecesse, mesmo na esfera das redes sociais.”

Os sintomas da ressaca social

* Fadiga mental e emocional após exposição ao contato social
* Irritação
* Dificuldade na tomada de decisões
* Fala lenta e grandes pausas entre ideias
* Dor de cabeça
* Dores musculares
* Sentimento de exaustão constante
* Dificuldade de concentração
* Desejo intenso de ficar sozinho
* Isolamento social
Fonte: Ana Paula Tognotti, psicóloga do Zenklub

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Mas a socialização é uma proficiência, e, como qualquer outra, pode ser desenvolvida e treinada. “Não esquecemos como andar de bicicleta, mas, se passamos muito tempo sem praticar, voltamos a pedalar com certa insegurança ou com desconforto”, diz Luckas.

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Vale lembrar que o conceito de ressaca social é leigo, não tendo um espectro patológico. “Não podemos falar em tratamento se não estamos diante de uma doença, mas sim de um fenômeno”, afirma Ana Paula Tognotti, psicóloga da plataforma Zenklub.

A especialista indica o autoconhecimento como antídoto para não se sentir estafado frente às situações sociais. Saber o próprio limite de interação é a palavra-chave. “Se entendo que preciso de uma maior quantidade de tempo sozinho, posso refletir sobre qual trabalho prefiro, que estilo de vida combina mais comigo”, diz Ana Paula. Outra saída é desenvolver competências comportamentais e relacionais para lidar melhor com as situações de interação. “Não podemos e não devemos evitar a socialização. Pelo contrário. A diminuição do contato social gerou um alto índice de sofrimento psíquico, pois dependemos muito de relações de reconhecimento e de trocas”, afirma Luckas.

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